segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Um dia como mesário

     A todos que defendem arduamente um mundo melhor e carregam um sem número de ideologias de transformação da sociedade por meio da política, aconselho que passem seu dia como mesário na eleição. Pode parecer pilhéria (aprendi esta palavra outro dia e achei um máximo, uso sempre que posso), mas não é. Acompanhar o processo eleitoral é algo efetivamente interessante para um amante da política como eu e me fez ter uma nova percepção das coisas.
      Comecei o dia muito mal, atrasei-me e foi muito, mas meus colegas de seção foram extremamente generosos em me explicar pacientemente o trabalho a ser executado e em não criar problemas com a minha ausência de pontualidade na primeira hora de trabalho.
       Uma vez aprendido o trabalho, passo a executá-lo com um bom humor inesperado e uma simpatia comum, porém constante e de altíssima densidade democrática, ou seja, para com todos, sem distinção de absolutamente nenhum adjetivo e com a habitualidade para com o trabalho, começo a ser mecanicamente simpático, mecanicamente gentil e mecanicamente eficiente.
        Vendo tal proeza comecei então a deixar meu cérebro livre para a observação do processo democrático e vejo uma série de mazelas de nossa eleição, às quais me deixam profundamente cético.
         Primeiramente, os eleitores, em sua extensa maioria, sequer conheciam com profundidade seus próprios candidatos, especialmente, no que se refere (dilmei) ao legislativo. Votam porque viram o papel na rua ou receberam a cola de alguém ali na hora, ou então porque... porque quiseram e ponto.
          Não que eu tenha feito algum inquérito com os eleitores de minha seção, mas bastava manter meus ouvidos ligados nas falas dos eleitores para ficar desapontado com as terríveis e completamente estapafúrdias opiniões dos eleitores, onde se fundamentava toda a estrutura de seus votos.
           Outra coisa me chamou a atenção, vários dos eleitores sequer sabiam, mesmo tendo a maciça propaganda sobre o assunto, a maneira de usar sua urna. Sério, eles não sabiam qual a sequência, nem o que não podiam fazer e muitos sequer sabiam onde seria a sua seção, apesar de tudo estar organizado e informado com clareza. Ou seja, se a pessoa não sabe como votar, definitivamente não saberá porque votar e seu voto dificilmente possuirá a qualidade que necessita.
            Muitos escolheram seus candidatos por medo de perderem algo que pensam ter, outros por uma estranha gratidão, pois se algum candidato cumpriu seu mandato bem, isto não passa de sua obrigação enquanto tal, outros votaram baseados em coisas que ouviram falar, coisas que não possuem a menor conexão com a realidade objetiva e que nem em um delírio dos marqueteiros seria possível falar.
           Por fim, terminamos nosso trabalho enquanto "funcionários da democracia", saí de lá cético quanto ao futuro, acompanhei o resultado da urna de minha seção, achei interessante e fui para casa extremamente pensativo sobre o que é mais importante, uma ideologia ou um bom pragmatismo político?
             Pensei, pensei e por fim vi a apuração, me entristeci, meu candidato não foi para o segundo turno, passou nem perto, foi vergonhosamente derrotado nas urnas e o que me causou espécie foi a paupérrima votação por ele recebida. Perder é do jogo, mas não precisava ser assim.
             Sento, assisto todos os programas sobre as eleições que a tv aberta transmitiu. Assisto a debates na internet e passo o dia seguinte estudando o que houve e me volta aquela pergunta:
             - O que é melhor? Uma ideologia ou um bom pragmatismo político?
             E chego, caro leitor, a uma conclusão. Prefiro tucanar!
       

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O bigode do Fidelix

O bigode de Fidelix é a única coisa interessante nos debates, assim me disse um taxista, com ar profético e dramático. Pensei a respeito e o senhor trabalhador dos transportes está coberto de razão.
Em uma eleição onde nada se diz de tão interessante, ver aquela performance cheia de números, estatísticas e informações desencontradas e ideias infundadas, ver o élan da forma que este distinto senhor defende o que pensa ou o que pensa pensar, mesmo ciente de sua irrelevância política, é no mínimo comovente.
Para que nova política? Perderemos  este festival de mediocridade reconhecida, pois, se o século passado ficou conhecido pela ascenção dos idiotas, neste veremos o declínio dos menos idiotas de forma irrecuperável, tudo ficará cada vez menos importante e interessante.
Levi Fidelix é isso, alguém irrelevantemente irrecuperável e irascível, onde nada faz sentido senão a profunda negritude de seu bigode. Não digo isto por pura pilhéria, sua figura estrionica, de estética estéril e pouca profundidade ideológica me faz ter pelo digníssimo candidato uma inebriante simpatia, embora o mesmo não seja digno de engraxar os sapatos de doutor Enéas Carneiro ele é o cavaleiro das causas impossíveis e improváveis, o patético defensor de valores retrógrados, a caricatura do patriota que julga possuir uma solução para todos os problemas da nação.
Mesmo assim, essa figura estrionica gera em mim uma certa simpatia, ele me lembra aquele tio cheio de idéias e verdades, mas que é um completo alienado diante das coisas em si.
Fidelix é o arquétipo do Dom Quixote político, cercado de Sanchos ele desfila com grande fibra seus planos de governo e suas metas, luta contra moinhos cada vez mais estranhos, luta contra sua própria irrelevância.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Personagem desse tempo

     Ele tem um olhar um pouco triste, passa a todos um ar meio blasé, afinal, para os pseudocults é fundamental ter um ar deprimido, a vida não é boa para ninguém e o mundo é cruel demais para se viver sorrindo. Para ele Deus não existe, a vida não tem sentido algum e a morte é a única certeza inevitável. Com este patético acervo intelectual ele conduz sua vida e essas conclusões que para muitos são óbvias, para outros um escândalo, são a razão do nosso personagem se julgar alguém mais inteligente e especial que o restante da humanidade.
     Antes de prosseguir com a história, gostaria de dizer que existem tipos desses aos borbotões, geralmente se auto intitulam muito bem e possuem uma enorme facilidade em dizer que são algo que sequer parecem ser. Costumam se autodenominar como poetas, sem ter uma obra a apresentar, ou então filósofos, sem nunca terem produzido um trabalho intelectual de algum dos milhões de assuntos atinentes ao amor à sabedoria.
       Só faltava dizer que nosso personagem não trabalhava, sua vida é cheia de "trabalhos criativos" e que estes trabalhos lhe tomam seu tempo de forma excessiva e que prefere passar por sérias necessidades financeira a se submeter ao modo opressor que se ganha a vida no regime capitalista.
        Nosso personagem, caro leitor, povoa as redes sociais com seus tratados e suas críticas contumazes a tudo o quanto há e existe, afinal, o mundo é opressor demais. Nosso personagem pensa que a arte é um refúgio e uma manifestação de sua genialidade.
        Tenho um amigo, que por sinal detesta o nosso personagem, que diz que falta proletarismo na vida de muita gente. Sim o termo é esse, meu amigo inventa palavras vez por outra.
         Voltemos ao nosso personagem, não lhe darei nome, se chamará Personagem.
          Certa feita encontramo-nos para conversar algo sem importância, então Personagem começou com seu discursinho. Suas conclusões não possuem premissas, quase todas as suas críticas se baseiam em argumentos ad hominem e seu cabedal intelectual era limitado como exposto acima, mas como a diferença entre a genialidade e a estupidez é que a primeira tem limite, não cessava de falar:
            - Temos que continuar com o atual governo, melhor que a volta dos coxinhas...
            Fico em silêncio.
            - Estou com um novo projeto, tem tudo para dar certo...
            Aceno positivamente com minha cabeça, simulando aprovar seu projeto.
            - Sabe, sou contra religião, acho que as pessoas que tem fé são doentes...
            Começo a me incomodar. Não que eu seja um homem de fé, mas prefiro um crente a um ateu de boutique.
             - Esses caras do stand up fazem piada de tudo, eles são todos uns sem talento ...
             Lembro-me de quanto gosto de comédia e de quanto tempo estou perdendo com aquela conversa, peço licença e me despeço dando uma desculpa qualquer.
             Chego em casa e faço um inventário de minha alma, me comparo ao Personagem e tento ver se ele é algum alter ego meu, graças a Deus, descubro que já passei desta fase. Vasculho os meus contatos para ver se tem mais alguém semelhante ao Personagem em minha lista de amigos e contatos, ufa! Ele é um dos poucos que ainda mantinha contato.
               Mantinha, porque ele não merece uma crônica sobre ele, não merece minha preocupação, tão pouco que eu me ocupe com ele, não merece que lhe ceda meu ouvido e gaste meu tempo, não merece sequer fazer parte de minhas redes sociais.
                Personagem é um personagem de nosso tempo estranho, o tempo do conhecimento fast food e da cultura adquirida na velocidade de um macarrão instantâneo, Personagem é um triste produto da sociedade do espetáculo e da revolução dos idiotas, tornando a vida algo vil, como um palco para suas idiotices.
         

Desistindo de mudar o mundo

     De uns tempos pra cá ando observando certas linhas de pensamento que sempre julguei corretas sendo jogadas pelo ralo através de um simples exercício de lógica, uma dessas ideologias era a de que devemos mudar o mundo, fazer desse mundo um lugar melhor para se viver e superar os modelos até então existentes em busca de um novo modo de gerir a vida e as nossas relações políticas e que, através dessas mudanças, seríamos capazes de deixar um mundo melhor para meus filhos, caso eu venha a tê-los.
       Bom, andei abraçando um monte de ideias, cada uma tinha o seu modus operandi e exigia algum tipo de rompimento, ou então não passavam de um discurso vazio e sem sentido, a vida vai andando e a gente tem que observar cada passo, senão tropeça, senão esquece de viver.
        No andar da vida fui deixando um pouco de mim em cada lado, um pedacinho da alma em cada lugar, pra juntar tudo daria muito trabalho, então é melhor deixar esparramado e prosseguir com o que restou.
        Se o caro leitor não está me entendo, peço desculpas, não estou nada sintético neste dia, pelo contrário, hoje quero ser prolixo de propósito, da forma mais desnecessariamente atroz.
       Desisti de mudar o mundo, descobri que o mundo é algo grande demais para mim e que dentro de mim há um mundo enorme que eu também não consigo por em ordem e nem garantir o progresso. Não se trata de derrotismo, mas de ceticismo. Não consigo mais acreditar mais em fórmulas prontas e maneiras inovadoras de resolução de todos os problemas da humanidade. Até porque me parece que resolução nessa vida acaba por ser retornar ao status quo antem, gerando uma série de problemas que eram desconhecidos e deixando tudo mais complicado.
        Somos cada vez mais idiotas quando escolhemos parâmetros irredutíveis de conduta e isto me parece ser uma forma mais realista de encarar as coisas, afinal toda forma de revolução termina adotando um viés fascista no final, apesar destes rompimentos escreverem a história da humanidade eles ocorrerão independente de minha parca intervenção.
         Caro leitor, perdõe-me, esse texto está um lixo e se você chegou a ler esta frase final, eu lhe agradeço por compartilhar comigo alguns segundos de minhas desilusões, fico aqui e nada mais tenho e escrever por hoje. 

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Independente do que pensamos ou queiramos, Dilma vai ganhar

     Raramente escrevo sobre política, apesar de ser um enorme curioso do assunto e um entusiasta dos processos eleitorais, assisto horário político e adoro os debates, sinto falta de alguns políticos das antigas, como Doutor Enéas, mas recebo com alegria figuras como o Doutor Eduardo Jorge, em quem pretendo votar e com alegria e consciência tranquila.
      Não escrevo sobre política, porque sou um político marginal, participo do processo, mas nunca consigo entrar onde há protagonismo, gosto de ficar à parte, observando os acontecimentos, debatendo as ideias de quem me interessa e analisando o sobe e desce das pesquisas, sem tentar mudar de maneira incisiva o espírito desse tempo. Confesso que é cômodo, mas ainda é que me julgo apto a fazer.
       De toda forma, vejo com tristeza o fato de não acontecer uma renovação nos quadros políticos nesta eleição. Digo isto porque vejo que o único partido que entendeu o que Maquiavel escreveu é o Partido dos Trabalhadores.
        Sem fazer juízo algum de valor, se isto é mérito ou demérito, o PT adquiriu uma consistência que lembra o Partido Comunista Russo à época de Lênin, não existem dissidências, todos, invariavelmente estão coletivamente coesos em torno da reeleição da Presidenta Dilma.
        Apesar da força da imagem de Marina, ela não conseguiu ainda um partido coeso ao seu lado, pois sua figura ganha um protagonismo exagerado ante às pretensões dos socialistas e apesar do sempre forte PSDB estar com todas as suas lideranças apoiando Aécio, vê-se uma pobreza atroz de sua militância, que parece não haver entendido que estão fora do processo e que uma virada na atual conjuntura seria algo que exige deles muito mais que discursos bem montados e artigos escritos por FHC.
           Os candidatos marginais tem tido posições interessantes, mas sabe-se que não possuem absolutamente nenhuma força para modificar o quadro, exemplo máximo está no ato falho do candidato Eduardo Jorge no debate realizado pela TV Aparecida, onde o mesmo disse "...se eu ganhasse...", arrancando risos até de si mesmo.
           Vemos um pastor defendendo livre mercado sem saber direito do que se trata e a extrema esquerda com aquele discurso de sempre, enfim, nada que mude de fato o espectro, mas que é importante para que sejam trazidos vários temas ao debate.
            Sou alguém que pensa que a democracia funciona bem apenas quando há alternância de poder, mas enquanto apenas os petistas forem unidos teremos um país sem outra perspectiva no âmbito do poder executivo, torço para que em termos legislativos tenhamos quadros melhores do que aí estão.
            Deixo aqui minha profecia, Lula surgirá no segundo turno mostrando que votar em Dilma é votar nele e tudo continuará como está lá no planalto.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Ela não acredita em Otto

    Caro leitor, hoje meu amigo Otto me confessou algo inominávelmente estranho. Sua esposa não acredita em sua fidelidade, mas a descrença de sua esposa é tão sui generis, que Otto esta começando a achar que cometeu algum ato de traição sem tê-lo cometido. Sim caro leitor, Otto era de uma fidelidade sagrada, parecia celibatário, tinha sérias e inúmeras oportunidades de cometer inocentes adultérios, mas ele era de uma honestidade canônica.
     Tudo parecia lindo até o dia em que a esposa de Otto começou a desconfiar dele, as razões poderiam ser várias, mas Otto não sabe nenhuma. Parece um devaneio, mas ela notou algo diferente na voz de Otto, o pobre diabo estava pensativo e um pouco distante, aí foi batata a mulher começou a confabular coisas.
      - Estás a me trair - dizia a esposa de Otto.
      - Como assim? - responde Otto sem entender o sentido da pergunta.
      - Estás a sair com aquelazinhas do seu trabalho.
      - Não me venha com seus devaneios - Diz Otto com firmeza.
     Ao ser tão veemente a esposa de Otto se julgou então dona de toda a verdade e feito um Sherlock Holmes de saias estéricas começou a expôr sua lógica dedutiva colocando meu caro amigo em uma situação tal que o mesmo começou a desconfiar de seus próprios atos.
     Teria ele tido alguma espécie de lapso de memória? Seria ele um sonâmbulo? Alguém com algum daqueles problemas tanto falados por Freud?
      O inferno se abateu sobre Otto! Ele começou a viver um arrependimento atroz, não há pior arrependimento do que o contraído mediante os pecados não cometidos. Otto se via no espelho e não acreditava como poderia ser um homem tão medíocre, afinal, sua esposa era tão boa, tão honesta, tão confiável, porém o que Otto não via é que de fato ele sempre fora um homem fiel, sua esposa apenas não acredita que um homem possa ter a força de caráter de Otto.
       Poderá  a respeitável leitora dizer a mim, " todos os homens traem", concordo com a leitora, mas Otto era comoventemente uma exceção à tão fatal regra.
        Fato é que ela não acreditava em Otto, sua incredulidade era tal que tirou a fé de Otto, a fé que Otto que tinha em si mesmo, a fé que fazia de Otto um bom homem fiel.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Voltando aos trabalhos

Nunca fui poeta!
Não pretendo ser um dia!
Sou um fracasso em verso e um otimista em prosa
Me entedio e acho uma página em branco
essa página faz sentir vontade de tentar poetizar
Mesmo sem saber fazê-lo
Mesmo sabendo de minha limitações
Mesmo sabendo que ninguém irá ler
Mesmo sabendo da minha irrelevância,

Os versos não precisam ser relevantes
Os versos não precisam dizer algo
Não precisa haver discurso
Não precisa haver lógica
Posso mudar de assunto do nada
quer ver?

Amoreiras brancas
não existem em minhas terras
Pessegueiras sem frutos
vidas secas e sem rumos
minha vida sem seu olhar é assim
Por isso carrego sua imagem na minha retina.

Viu?
Voltei ao assunto!
Voltei a falar de mim!
Voltei a me sentir eu mesmo em minha própria pessoa com todas as redundâncias.
Enfim,
Voltarei ao trabalho!

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Ateísmo de boutique

    Ser ateu é muito cafona! É a conclusão filosófica mais simples de todas e a maioria dos ateus que conheço não vão além desta obviedade ululante. Sim, é extremamente fácil concluir a não existência de Deus, mas por que julgo que argumento da fé é tão importante?
     A ideia de Deus é um dos, senão o maior, dos conceitos filosóficos conhecidos pela humanidade, independente das forças ritualísticas e manifestações religiosas criadas para ligar o humano ao Sagrado, pensar em uma, ou várias entidades, capazes de criar miticamente a vida, conhecer a profundidade de suas minucias e possuir uma perspectiva atemporal da realidade é algo profundo, complexo e pedagógico, desde que, o pensador em questão esteja fazendo isto com seriedade.
     O ateísmo enquanto ideia retira da pessoa a possibilidade de entender esta dimensão sagrada da vida, pois, independente se Deus existe ou não, a vivência na fé traz uma resignificação do tempo existencial, a vida por si só é destituída de sentido prático, viver sem fé é um ato de coragem, mas de uma coragem suicida.
      Nossa existência é pautada por parâmetros e códigos éticos e a maioria de nós precisa de uma espécie de "stress moral" para dar significado a seus atos, quem pensa diferente se insere ou em um universo de "sacro-alienação" ou em um niilismo que pode levar aos mais fortes homens e mulheres a um vazio tão grande que pode gerar o Albert Camus chama de pensamento do absurdo.
      Mas o ateu "estilo Nietzsche" é respeitável, assim como aquele libertário que resolve viver sem regramentos morais e se torna senhor de seu tempo e espaço, também gosto daqueles que simplesmente acham pensar nisso uma grande bobagem, que nunca se deram conta que vivemos a carregar nossos cadáveres e cultivam uma relação dúbia com Deus e a religiosidade.
       O insuportável é o ateu estilo Dawkins. O referido autor do sucesso "Deus, um delírio" pensa que a teoria darwinista invalida a ideia da existência de Deus, como se todas as questões que retroalimentam este debate tão amplo e complexo se resumissem em pensar na gênese humana.
        É tudo muito mais profundo que isto! Repito é muito mais profundo que isto!
        Se Nelson em sua lápide queria escrito " Que besta graduada esse tal de Karl Marx", na minha quero escrito "Que besta graduada esse tal de Richard Dawkins", parafraseio o mestre Nelson Rodrigues, pois o mesmo compreendeu a seu tempo a profundida kafkana do desespero humano, o quão cheia de tragédias pode ser uma existência e o quanto carecemos da dimensão sagrada da vida, nem que em um sentido dostoiesvsqiano ou  como a divindade na ideia de Spinoza.
        O ridículo do ateísmo de boutique está em cometer o erro que Chesterton falava no início do século, "deixar de crer em Deus e começar a crer em qualquer coisa", acrescento, em levar as carência humanas de transcendência para onde é impossível ser imortal e tentar impor esta visão de mundo àqueles que querem apenas rezar um pouco ao fim de um dia extenuante ou um pouco de conforto ouvindo uma canção que fale do amor do seu deus por ele.

 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Os perigos de uma História única

"Quem controla o passado, controla o futuro", ao pensar sobre o que pensamos sobre diversos povos, estados, países e culturas, entendemos o quanto Orwell tinha razão ao escrever isto na sua genial obra 1984.
A História é a explicação do passado, um passado inexistente, mas com um discurso com o intuito ideológico de aproximação da verdade fática. Nunca há apenas uma maneira de se contar uma história e sempre há uma miríade de explicações dantes ignoradas para um fato desconhecido.
A grande verdade é que a maioria de nós pensa na África como um se fosse um país monocultural que é pobre e vive em guerra, nos países muçulmanos como opressores dos direitos humanos, nos povos indígenas como simplesmente tribais e que todos os países do extremo oriente possuem as mesmas características e unimos tudo isto a um discurso de que existe uma superioridade cultural perante a essas culturas e que, graças ao bom branco, capitalista e ocidental, esses povos e culturas tão ricos e soberanos, terão uma chance de tornarem países desenvolvidos.
O fato é que pouco sabemos sobre o que estes povos tem a nos dizer, não enxergamos a alteridade como um valor, mas como uma caridade que nós ocidentalizados oferecemos de bom grado a essas nações tribais.
O grande fato é que para se destruir uma nação e uma cultura o primeiro passo é destruir a sua História, sua identidade e suas raízes, pasteurizar seus modos e não compreender suas razões antropológico existenciais.
Quem ganha como o monopólio da cultura é quem deseja o monopólio do poder, mate uma cultura e matarás uma nação.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Sequestro e resgate de si

    O livro "Quem me roubou de mim" do Padre Fábio de Mello é um daqueles livros onde não se sai sem refletir muito, não há como fazer uma leitura honesta deste livro e terminá-lo da mesma maneira que começou. Explico-me melhor, a referida obra trata de um dos maiores problemas de nosso tempo, o sequestro de nossa subjetividade, sequestro este, que podem se dar em todos os âmbitos e por todos os motivos possíveis e imagináveis. A experiência religiosa verdadeira torna o indivíduo mais humano e menos massificado e dependente de terceiros.
     O ato de ter a subjetividade perdida se assemelha com o sequestro do corpo, onde apenas o sequestrador tem poder sobre sua vítima e, apenas através do devido resgate é libertado e pode viver novamente a plenitude de sua vida social e corpórea.
     Porém o sequestro sempre deixa sequelas, pois a solidão do cativeiro pode fazer o sequestrado esquecer o que é e de onde veio, pode fazer esquecer seu meio social atribuidor de sentido e enfim transforma-lo em um dependente daquela doentia relação criada entre sequestrador e sequestrado.
      Metaforicamente falando, muitas vezes nos vemos presos a relações e a universos de sentido que roubam nossa vontade de ser quem somos, objetificando nossas relações e fazendo de nós objetos do prazer alheio e não do desejo de ser feliz. A simbiose dentre sequestrador e sequestrado pode acontecer em qualquer momento e em qualquer esfera de relacionamento. Perdemos nosso rosto e passamos então a fazer parte de uma massa amorfa e sem face.
       Com uma fluida escrita e uma poética maneira de ver a vida o Padre Fábio nos faz ver o tamanho da importância do encontro consigo, pois o Reino dos Céus habita em nós. A verdadeira experiência religiosa nasce da reconstrução de nosso universo de sentido e dando a nós uma nova perspectiva temporal, trazendo o Sagrado para mais perto de nós.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

A cama na varanda pode ser um problema

      Ao terminar o excelente livro "A cama na varanda" da psicóloga Regina Navarro Lins, entrei em um profundo exercício de entender vários pontos postos pela autora.
     No livro há uma narrativa sobre a origem da família nuclear e do amor enquanto elemento cultural desenvolvido, onde a fidelidade conjugal seria uma espécie de prisão criada por uma sociedade opressora e patriarcal e que esta estrutura é a grande culpada no que diz respeito à infelicidade conjugal tanto de homens, quanto de mulheres. Pensando neste viés a autora enxerga que a estrutura patriarcal está em ruínas e que novas formas de viver os relacionamentos estão surgindo com força tal que a família nuclear está a ponto de ir a pique, que a monogamia é uma prisão e o amor romântico não passa de um conceito.
     Gostei do livro, a reflexão é honesta e a argumentação coerente, além de trazer consigo uma série de informações atinentes à uma vida sexual satisfatória, aliás a autora, enfatiza muito a honestidade das pessoas em um relacionamento, logo a infidelidade conjugal é algo abominável, pois engana ao seu parceiro e o coloca em situação de uma falsa ilusão de estabilidade. A autora coloca exemplos de sua vida enquanto terapeuta, o que enriquece e torna fluida toda a narrativa.
      Mas nem tudo na vida é perfeito e nem toda ideia deve ser levada à última instância. Digo isto por ver que nem todos estamos prontos para uma concepção de família diferente da já existente, não falo por puritanismo e nem por motivos reacionários, falo por uma observação fundada em um pequeno pensador, ainda irrelevante é verdade, que vive no interior mineiro e vem de uma família muito católica e conservadora e traz consigo um arcabouço de uma vivência religiosa bastante intensa no universo protestante. Este pensador sou eu.
        Minha visão parte de uma observação simples, nem todas as mulheres querem ser poliamoristas como faz pensar a autora e nem todos os homens se casam por precisar de uma substituta para sua mãe. Sei que encontraremos uma vasta literatura e certamente o leitor haverá de conhecer exemplos que discordam do que disse, mas levanto que as generalizações são perigosas e quase sempre incorrem em erro.
        Exemplo disto, está na ideia de que todos somos bissexuais in natura, logo posso vir a me apaixonar por um homem a qualquer momento ou ver minha namorada encantada com sua colega de trabalho e vê-la assumir um relacionamento lésbico com ela. O que, convenhamos, ocorre em muitos casos, mas não se tornou uma regra da natureza e, diga-se de passagem, nunca foi uma lei natural, tal qual a gravidade.
         Precisamos sim arejar nossas mentes e nossos relacionamentos, mas os novos relacionamentos e as novas formas de família e amor citados pela autora, trarão problemas novos e que apenas quem possui muita estabilidade emocional será capaz de resolver.
          Por fim, a autora pensa que destituindo a estrutura patriarcal teremos um final feliz.. Sou cético e pessimista, chego a ser um dramático rodriguiano nesse momento, pois penso que apenas lidaremos com uma série de novos desejos, fetiches e frustrações que não tínhamos antes e a ausência de limites nas relações pode levar a todos nós a pedir ajuda a alguém que possa nos chamar de vagabundos, apontar o dedo para nossas vergonhas e nos fazer sentir novas culpas. Lugar de cama é no quarto, na varanda prefiro uma rede.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

A Engenharia Genética e Ética da nossa não aceitação

      O filósofo Michael J. Sandel em seu livro " Contra a perfeição" discute uma ampla gama de assuntos atinentes sobre as questões ligadas à sacralidade da vida, pesquisas com células tronco, clonagem, eugenias, razões filosóficas para o entendimento do status de um embrião e possíveis regulações estatais sobre esta matéria, porém uma questão discutida pelo renomado e popular professor de Harvard me chama atenção em especial e a mesma dá título a este texto, que seria a Ética da nossa não aceitação.
      Ao traçar as origens filosóficas do pensamento eugênico, Sandel mostra que existem novas eugenias, que possuem por sua vez, um verniz menos autoritário e injustificável como a que julgava os judeus e negros africanos uma sub-raça, mas que se fia em um argumento ligado a uma suposta melhoria de nossas potencialidades.
      Sendo assim, criaríamos um mundo sem pessoas de baixo QI, baixa estatura, feias e sem um diverso número de doenças.
       Quanto à questão medicinal, não há dúvidas que seria um enorme bem para a humanidade se pudermos livrar nossos filhos e netos de um sem número de doenças congênitas ou que podem ser potencializadas mediante transmissão genética, mas o problema humano de lidar com o inesperado e com o fracasso acabam por criar um problema onde poderia residir a solução.
        Vivemos um tempo onde a derrota é inaceitável desde de tenra idade. Não sou contra a iniciação esportiva na infância, tão pouco penso que um certo ambiente competitivo faça mal a uma criança, afinal toda criança precisa aprender lições como disciplina, trabalho em equipe, meritocracia e sanidade do corpo, mediante a prática de exercícios físicos.
          O grande problema está na cabeça dos pais que não suportam ver o filho ostentando a medalha de prata, não suportam o fato de que ele não é o melhor aluno da turma e tão pouco admitem que sua menina não esteja enquadrada nos mais altos padrões de beleza de nossos tempos artificiais.
          O cerne do debate é que a Engenharia Genética só traz benefícios em uma sociedade que aceita as diferenças, entende que a vida é uma dádiva maravilhosa justamente porque é imprevisível e que, de fato, haverão crianças mais belas que meus filhos, nem por isso deixarei de amá-los com todo o meu coração, haverão crianças mais inteligentes, mas posso valorizar cada um de seus progressos e que haverão alunos melhores que ele na turma e nem por isso deixarei de ter orgulho de seus feitos.
          Amar incondicionalmente é o que pode tornar o ser humano melhor que deus, pois deus criou o mundo e ama o ser criado, nós apenas amamos aquele que vem ao nosso encontro. Não se pode esperar um futuro muito promissor em um mundo onde pais projetam filhos como se fossem Deus e filhos não passam de uma manifestação dos limites e frustrações de seus país.
         

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Breaking Bad e a nossa essência

     Heisenberg, este é o alter ego do personagem que me deixou aterrado pelos últimos dias. Quem viu Breaking Bad entende o que quero dizer. Walter H. White, personagem principal do seriado, vive uma série de experiências que modificam de forma substancial e definitiva a alma de um simples professor colegial em um gênio do crime. Mr. White larga todos os limites éticos e morais possíveis e sempre utiliza-se do expediente das desculpas de que "os fins justificam os meios". A genial série americana me deixou estarrecido por várias razões, primeiramente éticas, posteriormente estéticas.
     Começando pelo menos importante, a série possui um roteiro impecável, fotografia sensacional, direção acima da média do que é visto na TV e atores geniais, o olhar de Bryan Cranston, sua impostação de voz e a construção de personagem feita pelo mesmo é algo muito fora do normal para os padrões televisivos, isto sem contar na espetacular atuação de Aaron Paul e o hilariante personagem Saul, feito pelo ótimo Bob Odenkirk.
      Falando do que de fato interessa a mim, até porque dos itens anteriores entendo pouquíssimo, os episódios de BB mostram uma face de todos nós que não gostamos de admitir, que todos interpretamos uma série de personagens perante a vida, somente não somos corajosos para nos assumir perante esta triste realidade.
      Somos atores, não necessariamente dirigimos ou roteirizamos nossos personagens, mas interpretamos, quase ninguém conhece quem somos e os que julgam conhecer, conhecem apenas o que queremos que conheçam.
       Essa multidão de personagens se manifestam aos poucos e quebram a idealização de que somos essencialmente bons ou essencialmente maus, apenas comprova que somos o que precisamos ser ou que escolhemos ser dentro de nossas poucas opções ou interesses.
       Vê-se a santa Skyler violando todos os códigos morais, a problemática Marie vivendo uma série medonha de fugas existenciais, um Gus filantropo psicopata, um Mike avôzinho assassino, um Saul sem o menor senso ético da profissão e redundantemente falando um Walter White que deixa uma vida de professor dedicado para se tornar um monstro, que possui nada mais que compreensão linguística dos sentimentos humanos e uma total frieza moral na prática.
       Todos podemos nos transformar em Heisenberg, basta que haja ocasião, basta demanda, basta ocasião. Sábio foi quem disse que a ocasião faz o ladrão.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Não saímos do século XIX

    Augusto Comte foi um grande homem em seu tempo e sintetizou em seu sistema filosófico chamado positivismo tudo que seu tempo esperava para o futuro, ou seja, acreditava-se no desenvolvimento linear do ser humano, saindo dos processos teológicos, passando pelos metafísicos e chegando aos processos científicos, como o motor que conduziria a humanidade a uma era de luzes, paz, ordem e progresso. Pensava-se que tudo isto culminaria no século XX e que as realizações do anterior seriam a força motriz dessa realização da humanidade enquanto tal. Isto deu aos europeus legitimidade para colonizar o restante da Ásia e da África sob o pretexto de levar até estes povos sua superioridade cultural. Já sabemos o que aconteceu depois.
    Sim, nós sabemos!
    O século XX foi marcado por barbáries inimagináveis e por conflitos de identidade e de ideologia nunca dantes visto.
     Mas por que raios falo de não termos saído do século XIX?
     Caro leitor, entenda meu pessimismo!
     Naquele tempo pensava-se que a ciência seria capaz de explicar tudo o que fosse necessário saber, que a tecnologia resolveria todos os nossos problemas, que história deveria ser estudada com total neutralidade baseada em documentos com a maior objetividade possível e que havia uma superioridade cultural de quem assim pensasse sobre os demais.
     Agora responda-me inveterado leitor, houveram significativas mudanças em nossa forma de ver o mundo?
      Nunca abominou-se tanto a resposta teológica e filosófica como hoje, os idiotas da objetividade pensam que tudo se resolve no plano material racional e isto nada tem a ver com Marx, conforme pensarão alguns, isto é anterior a qualquer ideologia que estivesse ligada à gênese marxista.
       Ainda idolatramos a tecnologia, haja visto o culto à maçã da Apple e a cada vez maior dependência que desenvolvemos de toda e qualquer ferramenta ou melhor dizendo "gadget" que ajude ou facilite nossa vida. Longe de ser contra os avanços neste sentido, mas estamos nos atolando tanto neste universo que torna-se impossível pensar uma vida fora deste universo hightec.
       Os idiotas da objetividade dirão que o estudo da história deve ser neutro, mas a simples ideia de ser neutro já é uma escolha metodológica e ideológica, o que em si, já torna esse princípio um contrassenso lógico. Não é possível estudar História ou história alguma sem mergulhar em seu universo e partir de conhecimentos apriorísticos que justifiquem a pesquisa.
        E finalizo este péssimo texto lamentando a pobreza cultural dos muitos jovens que largam os debates de ideias para alimentar seus egos com sua pretensa e falsa superioridade cultural. Pensar que nós ocidentais temos algo de superior ante aos orientais é de uma ignorância antropológica gigantesca. Não podemos entender certos costumes porque não pensamos como eles e enquanto este século não entender que o século XX não foi dos melhores e que o XXI vai na mesma levada, não teremos entendido ainda porque Nietzsche, Dostoiévski e Machado de Assis eram tão pessimistas diante da razão humana.

sábado, 8 de março de 2014

O idiota da subjetividade

     Vive-se um tempo de "idiotas da subjetividade", sim, pego emprestado um termo rodriguiano e subverto para ir contra um pensamento do qual estou cansado de ver estampado por pessoas sem muito reflexão sobre a história da humanidade e que certamente me chamarão de doutrinado, mas e daí?
     O idiota da subjetividade pensa que tudo parte de sua livre iniciativa e de sua plena capacidade de fazer escolhas acerca de todos os aspectos que circundam sua existência.
     Ledo engano, somos dominados por ideologias que são anteriores à nossa existência e se temos alguma liberdade de escolha essa liberdade foi dada pela cultura da qual somos filhos, logo escrever um texto em um blog enquanto navego na internet e assisto uma aula sobre História Antiga Oriental me é uma opção porque nasci em um tempo onde já existe a escrita, existe internet, existe ensino a distância reconhecido pelo Ministério da Educação e eu tive acesso a conhecimentos elementares de linguagem, lógica, história e filosofia.
      Se fosse diferente, talvez minhas escolhas estariam atadas à minha religião ou ao ritual de minha tribo ou então nunca teria tido esta ideia, pois nunca teria ouvido falar dos "idiotas da objetividade", de que Nelson Rodrigues tanto falava, e não saberia fazer a associação de meu tempo com o tempo do mestre referido.
       Ou seja, a ideologia liberal que tem se propagado internet afora, salvo raríssimas exceções como o pensamento de Luis Felipe Pondé e João Pereira Coutinho, é mais raso que uma piscina de mil litros de plástico instalada na laje de alguém que gosta de comer churrasco ouvindo Naldo. Pois, arvora-se no direito de igualar todos os seres humanos em um universo de igualdade plena de condições, onde aqueles que não conseguem atingir o padrão material, intelectual e espiritual que os mesmos julgam superior assim o fazem por inépcia, preguiça ou burrice mesmo.
        Mal sabem os idiotas da subjetividade que há um mundo objetivo, lotado de dados históricos de estruturas culturais que sobrepujam os anseios de muitos e que limitam nosso universo de escolhas como se estivéssemos no segundo turno de uma eleição presidencial ou na classe econômica de um vôo da Gol.
       Nem sempre fazemos o que queremos e nem sempre sabemos porque queremos o que queremos e nem porque pensamos do jeito que pensamos. Nossa vida está em sua maior parte definida e dada a nós já com suas poucas opções embutidas. Cabe a nós olharmos para a vida com um pouco mais de amor e entender porque somos assim e nos libertar das estruturas que moldam nossas escolhas, se ignorarmos isso seremos eternos idiotas da subjetividade, que pensam que todas as escolhas partem do indivíduo e que nossas subjetividade não recebe influência de uma realidade objetiva por muitas vezes opressora. Livre é o homem que sabe que está preso e aprende a desfrutar de sua prisão.

sexta-feira, 7 de março de 2014

A História enquanto ciência

    Esta é uma discussão velha e interminável, mas a História é uma ciência, afirmo peremptoriamente. Mas ciência de que?
    Simples, História é ciência do homem com o tempo, seus sincronismos e anacronismos.
    Mas e a Arqueologia?
    Esta é uma maravilhosa ciência que estuda os artefatos, monumentos e coisas tais em seu tempo.
    Estou errado? Talvez....

Dois caminhos para o futuro político do Brasil

    Ontem ao assistir o Programa do Ratinho, onde o Deputado Federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) foi entrevistado, fiquei a pensar em certos caminhos que nossa política tem tomado. Cabe ressaltar que o programa alcançou notória audiência, ficando atrás apenas da novela global, ainda a maior parte do povo brasileiro prefere pelos gritos histéricos da atual "Helena" que ouvir o que o ilustre deputado pensa. Até aí nada impressiona, o que impressiona é saber que a audiência comum do grande Carlos Massa tem por perfil ser constituída de pessoas simples e raso conhecimento acadêmico e pouco conhecimento dos fatos sociais e históricos que direta ou indiretamente nos afetam.
     Que político consegue isto hoje? Talvez Lula com seu jeitão sui generis para um chefe de Estado, talvez Dilma, por ser a atual líder do governo, quem sabe Aécio ou FHC!? Certamente Feliciano e seu discurso proto fundamentalista. Fato é que poucos políticos brasileiros despertam algum tipo de interesse na população e poucos conseguem propagar suas idéias com sucesso em todas as mídias possíveis. Eis o grande trunfo da nova direita brasileira.
       As opiniões de Raquel Sheherazade são terrivelmente mal fundamentadas, porém geram enorme polêmica e penetram nas mais diversas camadas da população, Marco Feliciano se arvora de ser porta voz da família brasileira, mas não possui mínima capacitação filosófica para tanto, Lobão persiste em um ignorância enciclopédica e quando chamado de reacionário tem a petulância de se comparar a Nelson Rodrigues (isso chega a ser uma blasfêmia), para piorar temos um pseudo filosofo servindo de substrato para toda uma geração de jovens universitários de classe média imersos em um gigante tédio burguês e anacrônicos quanto ao conhecimento que possuem dos fatos históricos.
        Para todos os supra citados, Bolsonaro e filhos são vozes ativas, firmes, contundentes e que representam seus sonhos e aspirações.
         Penso que em uma democracia de fato, todos estes que citei tem de existir e tem o direito de ter voz ativa na mídia e em todos os meios possíveis, uma vez que representam os anseios de uma pare considerável da população brasileira, pois apesar dos mais de dez anos de governo de esquerda e, se contarmos o PSDB como esquerda moderada, chegamos a 20 anos de governo esquerdista, o povo brasileiro é essencialmente conservador e este anseio por uma grande liderança direitista se acentua com a insatisfação para com o atual estado do país e principalmente pelo atual estado da segurança pública no Brasil.
          O título do texto fala sobre dois caminhos e tive que deixá-los para o final após tanta divagação. Um caminho, ao meu ver inevitável, é o crescimento acentuado dos partidos de viés conservador e a escalada dos políticos que assim se proclamarem, o outro, apenas possível, é o do endurecimento e fanatização das políticas esquerdistas, criando uma bipolaridade perigosa para a democracia não tão saudável do Brasil.
          Ou seja, vivemos um tempo onde há um vácuo de poder à direita e que Bolsonaro e Feliciano estão se unindo para ocupar e parece que a esquerda moderada e o centro não querem enxergar e, enquanto esta força não ganhar força nas urnas, o PT governa.
          AI DE NÓS!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Fracassamos

     Ao ver a foto do jovem negro, pobre e inexistente aos nossos olhos pequeno burgueses senti um misto de sensações estranhas e renovadoras, senti que algo está muito errado nesse país e que precisamos retomar as bandeiras da luta por um mundo melhor, pois estas bandeiras não poderão ser largadas enquanto houverem "justiceiros" que fazem o que fazem.
     Porém, fui acometido de um pessimismo maior que o mundo ao ver o comentário da jornalista Raquel Sherazade. Como assim? Algo justifica fazer o que se fez? Algo justifica a total barbárie executada contra este jovem, que, sem um devido processo legal, foi violentado por cometer furtos? A Sherazade dizer isto não impressiona, o que decepciona é ver uma legião de jovens, que poderiam ter sido vítimas de violência semelhante, apoiarem e repercutirem essa fala funesta.
     Disseram que ele é ladrão, alguém conseguiu provar o fato? Mesmo que fosse, ele como negro e pobre iria para a cadeia e lá ficaria até mais tempo que o devido. Aqui é o país da impunidade, mas apenas para uma faixa da sociedade, o restante é punido sim e, em vários casos, com muito mais rigor do que se deve.
      Enquanto houverem jovenzinhos apoiando o que foi feito contra o jovem negro, não seremos uma nação, não seremos uma democracia e muito menos seremos dignos humanos, pois enquanto um brasileiro não for tratado com dignidade, a dignidade da pessoa humana perde em si todo o seu valor.
      Este episódio me faz sentir nojo dessa forma reacionária de ver a vida, me faz entender que precisamos renascer enquanto humanidade, se somos incapazes de cumprir o elementar contrato social, somos incapazes de pensar normas jurídicas, sistemas econômicos e conceitos artísticos.
      Enquanto fenômenos assim se repetirem, não temos o direito de sorrir e enquanto houverem pessoas que apoiam o que foi feito, não temos o direito de parar de lutar, enquanto a carne mais barata for a carne negra, este país não será nada e nós não teremos sido melhores que os alemães do Terceiro Reich.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Me faltam versos

Me faltam versos,
não me falta comida,
teto,
emprego,
dinheiro,
mas me faltam versos

Terei contraído o vírus da objetividade?

Me faltam versos,
revi hoje uma poetiza,
Ela se queixava de seu excessivo poetizar

Senti-lhe inveja,
Senti vontade de deitar a cabeça em seu colo e desabafar

Reclamar a minha falta de versos
Reclamar a poesia concreta da minha existência
poesia tão concreta que não enverga e nem quebra
prende, reprende, treprende.

Me faltam versos!

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Constituição: direitos fundamentais e insatisfação

     O  direito  ao longo do tempo vem sofrendo transformações, no entanto é insatisfatório até mesmo para os direitos humanos. Existem leis internacionais que sobrepõem a Constituição brasileira, nesse caso a incorporação destas  diretrizes  na Constituição não garantem  a dignidade humana  para que não seja violada.  
       Atualmente  há uma luta constante para delimitar  o direito público e o  direito  privado, pois vivemos  em uma sociedade contemporânea que visa o capitalismo   e  a tecnologia.
      De acordo com o idealismo, observamos uma submissão humana a um engenhoso sistema que ignora a dignidade e impõe leis que não beneficia  a todos, sendo assim, uma parte da  sociedade que detém o poder. Vale ressaltar, no entanto,que várias conquistas foram adquiridas ao longo destes  séculos.Ainda, há  um longo do caminho  até chegar a um  ponto em que, a dignidade humana, citada no art.5° da Constituição,não seja apenas transcrito em folhas, como também vivenciada no cotidiano.  
       Criar uma relação harmônica entre o direito público e privado, não é uma tarefa fácil, fazendo-se necessário um estudo criterioso, observando as facetas da sociedade em inúmeros comandos, para atendê-la de forma eficaz.
        O fato dos direitos fundamentais,   surgem para limitar o poder do Estado,  ligando  o  mesmo ao indivíduo, de modo que  sugere  a ideia  desses direitos só vão proteger os cidadãos dos abusos do Estado.
Observa-se   uma dificuldade na  clivagem  do direito público e  do direito privado, pois ambos são tão interligados que é quase impossível distingui-los  sem que um deles intervenha, isto é, que  os interesses não atingiriam direto ou indiretamente sobre ambos.
      Anteriormente Menelick trata  sobre a questão dos desafios. Certamente concordo pois ,promovem a  inclusão  e ao mesmo tempo criam a exclusão. Se ao incluirmos os  direitos fundamentais ,provavelmente excluiremos todas as outras possibilidades. E apresentando a insatisfação da pessoa humana, na qual, não
realiza-se  a justiça muito menos o Direito.
      A Constituição de 1988, segundo José Alfredo de Oliveira Baracho Júnior é a mais ampla no sentido, por tutelar a pessoa humana em direitos fundamentais, porém Norberto Bobbio  contrapõe essa ideia, haja vista, que  é realmente merecedora de tal estudo, uma vez que, o problema, ou seja, a insatisfação da realização dos direitos fundamentais sobre a dignidade da pessoa humana está extremamente em crise. A  Constituição está sufocada de leis, todavia contém validade  legitimidade  e eficácia, entretanto insatisfatória.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Noite dos contos

     Entro em um ambiente diferente, entro em um casarão de iluminação intimista que incluem velas estrategicamente alocadas, entro ao som de um conto do mestre Galeano.
     Esta foi uma das várias experiências proporcionadas pela companhia de teatro Dona Maria Fulô em seu aniversário de 6 anos, onde os mesmos decidiram por uma peça intimista, sem grandes efeitos cênicos, sem roteiro extravagante e nem um clássico do teatro, mas por uma Noite dos Contos, a qual ouviu-se contos que foram do grande mestre de "Veias Abertas da América Latina", Eduardo Galeano, passando por Rubem Alves e pela grande contista de nossa terra Tânia Cristina, diga-se de passagem escolheram o mais belo dos contos de sua obra "Casa sem cômodos dentro".
      Como foi belo ouvir estes jovens atores dando uma nova roupagem a contos tão lindos!
      Como foi bom sentar-se para ouvir uma boa história!
      Como foi maravilhoso ver que o teatro itabiritense tem um representante valoroso, capaz de com pouco fazer muito e em uma peça curta, em um pequeno de tempo e espaço, dizer tanto.
       Os atores e atrizes da Companhia Dona Maria Fulô mostraram que não é necessário ser Paulo Autran para ser sublime, nem Fernanda Montenegro para tocar no coração de alguém e nem Ziembinski para conseguir comunicar de maneira clara, eficiente, inteligente e elegante uma série de histórias bem contadas.
       Ao ver este trabalho, deu-me vontade de tomar o lugar de Galeano, não na literatura, pois seu lugar é eterno, tão pouco em seu estado, pois estou bem vivo, mas na alegria de ver sua obra sendo assim lida e descrita.
       Vida longa à Companhia Dona Maria Fulô e que muitos outros bons espetáculos nos aguardem!
        Ah! Antes que eu me esqueça, o cházinho estava uma delícia, aliás os quitutes também estavam, mais um motivo para dizer que quem não foi perdeu uma enorme gama de experiências artísticas, inclusive gastronômicas.
         Viva o teatro!

sábado, 25 de janeiro de 2014

Como ela é linda!

Seu olhar é inocente,
Rende-me
Rouba-me
Arrebata

Seu sorriso é puro
Apreende-me
Surpreende-me
Faz suspirar

Sua voz é doce
Embala-me
Entoa-me
Me faz querer cantar

O fato dela existir
Preenche-me
Alegra-me
Me faz querer viver mais

Como ela é linda, caro leitor!
Como pode ser tão linda?
Pode tanta beleza ocupar apenas este lugar no espaço?
Pode tanto brilho ofuscar todas as mulheres de um só lugar ao mesmo tempo?
Será que ela existe mesmo
ou é apenas fruto dos meus devaneios?

Como ela é linda!
Jamais tive musa mais bela!
Jamais dediquei versos tão simples para uma mulher como ela!
Mas que pena que tenho apenas estes versos!
Que pena, pois imitando tio Vinícius
"Ah, se ela soubesse que quando ela passa
o mundo inteirinho se enche de graça
e fica mais lindo por causa do amor"

Não estou exagerando caro leitor,
ELA é LINDA!

sábado, 11 de janeiro de 2014

Ruy Castro - Um biógrafo a altura de seus biografados

    Acabei de ler o sensacional livro de Ruy Castro onde ele conta a biografia do maior escritor brasileiro depois de Machado e João Cabral, estou falando de Nelson Rodrigues o "Anjo Pornográfico.
    Em sua muito feliz narrativa, Ruy Castro mostra um Nelson bastante humano, transcendendo à idiota objetividade de contar uma cronologia rígida, mas mostrando que Nelson foi quem foi porque tinha de ser assim. Mas meu foco não é no gênio Nelson, mas no competentíssimo Ruy. Estou certo de que escrever esta biografia foi um trabalho colossal, mas além disto está o talento, nem só de esforço vivem os grandes escritores e não consigo imaginar outro biografo para a vida de Nelson.
     Escrever biografias é contar histórias e isto Ruy faz muito bem, também é ser autêntico e relatar de maneira fidedigna fatos e obra do biografado e nisto ele foi magistral. Tão boa é esta biografia que só estou entendo a cabeça de Nelson em "O Reacionário", porque lí previamente esta excelente biografia.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Um cosplay franciscano

      Recentemente soube de um caso de uma garota de, do dia para noite, resolveu vestir-se tal qual uma freira franciscana, tal fato exalou em minha imaginação pensamentos altamente contraditórios. Quais seriam as intenções da referida senhorita ao proceder assim? Acaso ela está a homenagear o ilustríssimo Santo? Será que ela esta em treinamento para uma vida franciscana? Será que a distinta dama seria uma canastrona travestida de vestes que possuem místico significado?
      Porém, ela não abre mão de suas sandálias de grife, seu carro e suas belas roupas que ficam por baixo da túnica, sim caro leitor, pasmem, ela usa lingeries caras e de marcas que nenhum hétero sexual que se preze conhece pelo nome, mas apenas pelo manuseio constante e infinitamente mais prazeroso.
      Para atender a todas estas perguntas fui à pesquisa e, com muito custo, a referida jovem deu-me uma entrevista desde que seu nome não fosse revelado e que a mesma não fosse fotografada, o que infelizmente empobrecerá minha reportagem. Logo, atenderei a esta distinta dama como Francisca.
      Abaixo os principais trechos da entrevista ao Kafka City:

     Kafka City: Francisca, o que te levou a adotar este estilo de vida?
     Francisca: Admiro demais São Francisco! Ele era um santo incrível, quero ser como ele foi.

     Kafka City: Mas você adotou o modo de vida de São Francisco?
     Francisca: No mais importante sim.

     Kafka City: E o que é o mais importante?
     Francisca: Rezo diariamente, leio a Bíblia com frequência, vou à Santa Missa todo fim de semana, participo de todos os encontros espirituais que posso e tento viver uma vida segundo o coração de Deus.
 
     Kafka City: Mas os católicos praticantes já fazem isto, o que há de diferente em sua vida?
     Após um silêncio sepulcral ouço uma resposta que me desagrada.
     Francisca: Você está me rotulando! Se continuar assim paro agora!
     (Francisca demonstra inevitável irritação)

     Kafka City: Por que você está irritada?
     Francisca: NÃO ESTOU IRRITADA! Só acho que suas perguntas não estão me acrescentando nada!

     Kafka City: Ok, mas você pretende fazer voto de pobreza e se devotar à vida religiosa?
     Francisca: Ainda não sei! Ando rezando a respeito e estou gostando de um rapaz...

     Kafka City: Então por que você veste essa roupa e dá testemunhos de vida dizendo ter tido um      encontro com Deus?
     Francisca: Acaba aqui a entrevista. Não publica isso.

     Kafka City: Confie em mim

     Muitas perguntas ainda teria a fazer, mas ela não quis mais conversa. Provavelmente não irá querer mais me ver e ficará extremamente nervosa quando ler minha este post. Mas não me importo, se eu fosse um jornalista, obedeceria a um código de ética e não publicaria, como não sou jornalista e meu maynardismo domina minha existência, publico esta paupérrima entrevista, fazendo apenas um questionamento:
     Seria esta moça um cosplay ou alguém intimamente interessado em uma vívida experiência religiosa?
     Minha opinião, se é que importa algo, é que esta moça precisa se encontrar e esta levando outros em sua confusão mental a tomar precipitadas decisões de desistindo de suas vidas normais, em troca de uma ilusão de pseudo-santidade, eis minha opinião.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Primeiro texto do ano

     Como toda pessoa medíocre, tirei férias de minha pseudo arte, normal, pois todos precisam de hábitos e rotinas, exceção feita aos gênios. Escrever pode ser um exorcismo, pode ser um alívio, uma fuga, uma dependência, um absurdo, uma excrecência, um insulto ou algo profundamente banal, além da possibilidade de ser tudo isto ao mesmo tempo. Para mim, tudo não passa de um sonho e de uma idealização, uma profunda vontade de não ser quem sou, de ser um Kafka tupiniquim, no afã de ser um Nelson Rodrigues mineiro, na profunda vontade de ser um indivíduo com uma biografia mais interessante. Como passo longe por mil jardas de todos estes sonhos, acomodo-me em me desnudar em um espaço pouco visto no mundo virtual e completamente irrelevante no mundo real.
      Mas melhor isto que nada, melhor escrever mediocridades que, com o o tempo, podem tornar-se algo interessante, que acomodar-me às minhas mediocridades. Melhor seguir em 2014 escrevendo coisas sem sentido, que viver uma vida com menos sentido que meus escritos, melhor isto que ser banal e banalizar minha curta e rala existência.
      Todos temos sonhos e os meus evito tê-los deixando de dormir.