quinta-feira, 20 de março de 2014

Não saímos do século XIX

    Augusto Comte foi um grande homem em seu tempo e sintetizou em seu sistema filosófico chamado positivismo tudo que seu tempo esperava para o futuro, ou seja, acreditava-se no desenvolvimento linear do ser humano, saindo dos processos teológicos, passando pelos metafísicos e chegando aos processos científicos, como o motor que conduziria a humanidade a uma era de luzes, paz, ordem e progresso. Pensava-se que tudo isto culminaria no século XX e que as realizações do anterior seriam a força motriz dessa realização da humanidade enquanto tal. Isto deu aos europeus legitimidade para colonizar o restante da Ásia e da África sob o pretexto de levar até estes povos sua superioridade cultural. Já sabemos o que aconteceu depois.
    Sim, nós sabemos!
    O século XX foi marcado por barbáries inimagináveis e por conflitos de identidade e de ideologia nunca dantes visto.
     Mas por que raios falo de não termos saído do século XIX?
     Caro leitor, entenda meu pessimismo!
     Naquele tempo pensava-se que a ciência seria capaz de explicar tudo o que fosse necessário saber, que a tecnologia resolveria todos os nossos problemas, que história deveria ser estudada com total neutralidade baseada em documentos com a maior objetividade possível e que havia uma superioridade cultural de quem assim pensasse sobre os demais.
     Agora responda-me inveterado leitor, houveram significativas mudanças em nossa forma de ver o mundo?
      Nunca abominou-se tanto a resposta teológica e filosófica como hoje, os idiotas da objetividade pensam que tudo se resolve no plano material racional e isto nada tem a ver com Marx, conforme pensarão alguns, isto é anterior a qualquer ideologia que estivesse ligada à gênese marxista.
       Ainda idolatramos a tecnologia, haja visto o culto à maçã da Apple e a cada vez maior dependência que desenvolvemos de toda e qualquer ferramenta ou melhor dizendo "gadget" que ajude ou facilite nossa vida. Longe de ser contra os avanços neste sentido, mas estamos nos atolando tanto neste universo que torna-se impossível pensar uma vida fora deste universo hightec.
       Os idiotas da objetividade dirão que o estudo da história deve ser neutro, mas a simples ideia de ser neutro já é uma escolha metodológica e ideológica, o que em si, já torna esse princípio um contrassenso lógico. Não é possível estudar História ou história alguma sem mergulhar em seu universo e partir de conhecimentos apriorísticos que justifiquem a pesquisa.
        E finalizo este péssimo texto lamentando a pobreza cultural dos muitos jovens que largam os debates de ideias para alimentar seus egos com sua pretensa e falsa superioridade cultural. Pensar que nós ocidentais temos algo de superior ante aos orientais é de uma ignorância antropológica gigantesca. Não podemos entender certos costumes porque não pensamos como eles e enquanto este século não entender que o século XX não foi dos melhores e que o XXI vai na mesma levada, não teremos entendido ainda porque Nietzsche, Dostoiévski e Machado de Assis eram tão pessimistas diante da razão humana.

sábado, 8 de março de 2014

O idiota da subjetividade

     Vive-se um tempo de "idiotas da subjetividade", sim, pego emprestado um termo rodriguiano e subverto para ir contra um pensamento do qual estou cansado de ver estampado por pessoas sem muito reflexão sobre a história da humanidade e que certamente me chamarão de doutrinado, mas e daí?
     O idiota da subjetividade pensa que tudo parte de sua livre iniciativa e de sua plena capacidade de fazer escolhas acerca de todos os aspectos que circundam sua existência.
     Ledo engano, somos dominados por ideologias que são anteriores à nossa existência e se temos alguma liberdade de escolha essa liberdade foi dada pela cultura da qual somos filhos, logo escrever um texto em um blog enquanto navego na internet e assisto uma aula sobre História Antiga Oriental me é uma opção porque nasci em um tempo onde já existe a escrita, existe internet, existe ensino a distância reconhecido pelo Ministério da Educação e eu tive acesso a conhecimentos elementares de linguagem, lógica, história e filosofia.
      Se fosse diferente, talvez minhas escolhas estariam atadas à minha religião ou ao ritual de minha tribo ou então nunca teria tido esta ideia, pois nunca teria ouvido falar dos "idiotas da objetividade", de que Nelson Rodrigues tanto falava, e não saberia fazer a associação de meu tempo com o tempo do mestre referido.
       Ou seja, a ideologia liberal que tem se propagado internet afora, salvo raríssimas exceções como o pensamento de Luis Felipe Pondé e João Pereira Coutinho, é mais raso que uma piscina de mil litros de plástico instalada na laje de alguém que gosta de comer churrasco ouvindo Naldo. Pois, arvora-se no direito de igualar todos os seres humanos em um universo de igualdade plena de condições, onde aqueles que não conseguem atingir o padrão material, intelectual e espiritual que os mesmos julgam superior assim o fazem por inépcia, preguiça ou burrice mesmo.
        Mal sabem os idiotas da subjetividade que há um mundo objetivo, lotado de dados históricos de estruturas culturais que sobrepujam os anseios de muitos e que limitam nosso universo de escolhas como se estivéssemos no segundo turno de uma eleição presidencial ou na classe econômica de um vôo da Gol.
       Nem sempre fazemos o que queremos e nem sempre sabemos porque queremos o que queremos e nem porque pensamos do jeito que pensamos. Nossa vida está em sua maior parte definida e dada a nós já com suas poucas opções embutidas. Cabe a nós olharmos para a vida com um pouco mais de amor e entender porque somos assim e nos libertar das estruturas que moldam nossas escolhas, se ignorarmos isso seremos eternos idiotas da subjetividade, que pensam que todas as escolhas partem do indivíduo e que nossas subjetividade não recebe influência de uma realidade objetiva por muitas vezes opressora. Livre é o homem que sabe que está preso e aprende a desfrutar de sua prisão.

sexta-feira, 7 de março de 2014

A História enquanto ciência

    Esta é uma discussão velha e interminável, mas a História é uma ciência, afirmo peremptoriamente. Mas ciência de que?
    Simples, História é ciência do homem com o tempo, seus sincronismos e anacronismos.
    Mas e a Arqueologia?
    Esta é uma maravilhosa ciência que estuda os artefatos, monumentos e coisas tais em seu tempo.
    Estou errado? Talvez....

Dois caminhos para o futuro político do Brasil

    Ontem ao assistir o Programa do Ratinho, onde o Deputado Federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) foi entrevistado, fiquei a pensar em certos caminhos que nossa política tem tomado. Cabe ressaltar que o programa alcançou notória audiência, ficando atrás apenas da novela global, ainda a maior parte do povo brasileiro prefere pelos gritos histéricos da atual "Helena" que ouvir o que o ilustre deputado pensa. Até aí nada impressiona, o que impressiona é saber que a audiência comum do grande Carlos Massa tem por perfil ser constituída de pessoas simples e raso conhecimento acadêmico e pouco conhecimento dos fatos sociais e históricos que direta ou indiretamente nos afetam.
     Que político consegue isto hoje? Talvez Lula com seu jeitão sui generis para um chefe de Estado, talvez Dilma, por ser a atual líder do governo, quem sabe Aécio ou FHC!? Certamente Feliciano e seu discurso proto fundamentalista. Fato é que poucos políticos brasileiros despertam algum tipo de interesse na população e poucos conseguem propagar suas idéias com sucesso em todas as mídias possíveis. Eis o grande trunfo da nova direita brasileira.
       As opiniões de Raquel Sheherazade são terrivelmente mal fundamentadas, porém geram enorme polêmica e penetram nas mais diversas camadas da população, Marco Feliciano se arvora de ser porta voz da família brasileira, mas não possui mínima capacitação filosófica para tanto, Lobão persiste em um ignorância enciclopédica e quando chamado de reacionário tem a petulância de se comparar a Nelson Rodrigues (isso chega a ser uma blasfêmia), para piorar temos um pseudo filosofo servindo de substrato para toda uma geração de jovens universitários de classe média imersos em um gigante tédio burguês e anacrônicos quanto ao conhecimento que possuem dos fatos históricos.
        Para todos os supra citados, Bolsonaro e filhos são vozes ativas, firmes, contundentes e que representam seus sonhos e aspirações.
         Penso que em uma democracia de fato, todos estes que citei tem de existir e tem o direito de ter voz ativa na mídia e em todos os meios possíveis, uma vez que representam os anseios de uma pare considerável da população brasileira, pois apesar dos mais de dez anos de governo de esquerda e, se contarmos o PSDB como esquerda moderada, chegamos a 20 anos de governo esquerdista, o povo brasileiro é essencialmente conservador e este anseio por uma grande liderança direitista se acentua com a insatisfação para com o atual estado do país e principalmente pelo atual estado da segurança pública no Brasil.
          O título do texto fala sobre dois caminhos e tive que deixá-los para o final após tanta divagação. Um caminho, ao meu ver inevitável, é o crescimento acentuado dos partidos de viés conservador e a escalada dos políticos que assim se proclamarem, o outro, apenas possível, é o do endurecimento e fanatização das políticas esquerdistas, criando uma bipolaridade perigosa para a democracia não tão saudável do Brasil.
          Ou seja, vivemos um tempo onde há um vácuo de poder à direita e que Bolsonaro e Feliciano estão se unindo para ocupar e parece que a esquerda moderada e o centro não querem enxergar e, enquanto esta força não ganhar força nas urnas, o PT governa.
          AI DE NÓS!