quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Perdendo a fé no verso

Fiz para ela uma canção de amor!
Nada adiantou!
Escrevi poemas e doei minha alma!
Nada a demoveu!
Escrevi partituras de rara musicalidade
Nada a comoveu
Fiz prosa tendo-a como musa
Nada aconteceu

Então perdi a fé no verso, na prosa e na canção.
Jurei a mim mesmo viver sem coração.
O amor é uma frustração constante,
delirante,
assoberbante,
um cão dos diabos!

Nada mudou no coração dela,
mas o meu é outro.
Meu coração se tornou uma estátua de sal.
Minha alma se perdeu e me tornei um técnico.
Matei a minha metafísica pessoal

Perdi a fé no verso,
talvez o silêncio me traga mais respostas e menos perguntas.
Talvez meu silêncio a convença.
Talvez eu deva parar tudo agora.
Neste exato instante
Talvez......

UM CONTO HERÓICO/PSICO-PATA


Por André Godoy

Estou no alto de uma pedra de onde consigo ver um penhasco tão profundo e negro quanto a duvida que carrego sobre a tragédia e a minha vontade de rir.
Por que rio diante da tragédia?
Tenho cinqüenta e sete anos e algumas lembranças me encaminham para grotescos esconderijos da alma.
            Logo quando entrei na polícia, aos vinte e dois anos de idade, via o mundo como um lugar a se salvar, um lugar que merecesse salvação. Saindo do quartel todos os novatos se entregam à todo tipo de situação heróica para se sentir maiores do que realmente são na verdade, ávidos por justiça, condecorações e medalhas. Ledo engano.
            Eu agüentava a intelecto limitado e a arrogância dos oficiais, por achar que o fazia por um bem maior. Até que em uma dessas noites quentes (como diria o Lobão) de eterno desalento no Rio de Janeiro, meus colegas de guarnição e eu, espancamos um traficante desses qualquer. Nada fora do comum ou dentro de “desaprovável” pela sociedade, afinal, nesse país só a verdade é crime, bater num jovem infrator e pobre a sociedade aprova desde que não apareça. O que eu achei estranho foi o quanto eu gostei daquilo, minha boca salivava como se estivesse diante do meu prato de comida favorito e quanto mais o bandido chorava e gritava mais eu sentia vontade de rir.
            Uma semana se passou e eu não conseguia dormir lembrando das cenas e do prazer que me proporcionavam. Então não agüentei, vesti-me de preto, pus uma toca e pintei o rosto de preto, Sai. Fui a uma “boca-de-fumo” em Belford-Roxo com um bastão feito de um tubo aço galvanizado de 1½’ polegadas com 70 centímetros e meu revolver 38 de mira indubitável, gatilho e cão indômitos e inexoráveis. Minha experiência me ensinara e entrar e sair facilmente. Espreitei durante alguns minutos, era noite e nem um dos três me viu sair da escuridão com o revolver mirado. Acertei a cabeça de dois e cacetei a têmpora do terceiro com o cano, me envaideci de ver os dois mortos e o terceiro tonto pela pancada tentando se levantar.Ainda havia quatro balas no tambor. “Que isso, maluco? Que isso, maluco?”- disse o traficante antes de lhe aplicar a anestesia. Levei-o para um mato deserto e o soltei (estava entediado e queria ver o que ia acontecer), ele viu que eu estava sozinho e não tentou fugir, mas sim atacar, o que eu já esperava. Brigamos mas infelizmente ele não durou muito. Parei de bater quando o maxilar dele estava de um lado e a cabeça, amolecida pela surra, estava do outro, os olhos tinham saltado das órbitas e me perguntei: “Será que ele consegue ver o próprio rosto? Será que ele se divertiu tanto quanto eu? Será que ele mereceu?” - Então eu ri.

***

            Depois da primeira vez não conseguia mais parar. Continuei a prática por anos, via alguém que ninguém ligaria se morresse, ou que seria muito divertido fazer, como por exemplo, alguns garotos ricos que sodomizei durante um festival de musica eletrônica. Pela primeira vez vi socialites desesperadas reclamarem do governo e das políticas de segurança, nunca as tinha visto quando as vítimas eram moradores de favela mortos por bala perdida. Ri demais!
            Um oficial quase me pegou uma vez, mas eu o peguei antes, e ele disse olhando para o teto que nunca mais maltrataria as pessoas como tinha feito até então, “talvez na outra vida, major!” Disse e cravei o machado no seu pescoço.
            Faltam apenas três dias a votação do aumento de salário para o legislativo. Volto para casa com o intuito de dar os ajustes finais do meu maior plano que realizarei com a ajuda do pessoal da organização lótus, nunca os vi sem mascaras, mas pelas vozes e linguajar são jovens bem instruídos. Me ajudaram com os explosivos.
Chegado o grande dia estou aqui. No púlpito da câmara dos deputados federal ergo meu braço com o controle das bombas implantadas por todo o edifício, inclusive em volta do meu abdômen, peito e dentro da minha mochila, daria para explodir tudo duas vezes, pelo que me disseram.
            Tudo acontece tão devagar que nem acredito, parece que acelerei meu cérebro acima das capacidades humanas a tal ponto que o tempo, em sua relatividade, fora de mim, passa muito mais lento. Todos estão desesperados, alguns atônitos, tentam sair mas as portas estão trancadas, alguns seguranças apontam pistolas calibre .40 para mim e gritam, mas, mesmo que me matem não podem mas me impedir. Se eu soltar o gatilho do controle explode tudo. Então rio!
            Solto o gatilho e antes de ouvir o clique penso: “Estou cercado por palhaços, músicos, jogadores de futebol e toda sorte de parasitas sociais que não têm noção alguma do trabalham que desenvolvem, ou deveriam desenvolver. Esvaziam a seção para votar melhorias na educação, mas, não falta um para votar o próprio aumento de salário. Eles são os vilões, não eu!”
            Já posso prever as notícias amanhã na rede globo de televisão: “Atentado terrorista no planalto central. Louco implanta bombas e mata mais de 700 pessoas na câmara dos deputados durante votação de novo orçamento.”
            Isso me consola, a globo nunca falaria mal de alguém ruim e essa é minha melhor face. Destruirei todo esse mal e até essa pior parte de mim.
            Lógico. Não corrigirei o Brasil, logo os suplentes assumirão os cargos vagos e continuarão corruptos, mas nunca mais pensarão que são intocáveis e isso os intimidará.
           
“Clique!”

Ouço o gatilho soar, um segurança urinou nas calças. Como o ser humano é fraco e desprovido de justiça e coragem! “Morra com um homem seu frouxo!” pensei, mas, sei que não daria tempo de falar.
A honra dentro da câmara é piada, é utopia marxista. Sem honra a vida nada vale, penso então que neste lugar já estão todos mortos e apenas os devolvo a seus devidos lugares.
“Será que seus pedaços se misturarão com os meus? Será que eles merecem morrer tão rápida e indolorozamente? Será que eu deveria ter respeitado todas áreas de não fumantes? Será q...”

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Meu sonho era ter Nelson Rodrigues como meu mestre!

  Nelson, grande Nelson!
  Meu sonho era ser capaz de escrever uma frase, uma frasezinha que fosse e aí o leitor da frase diria que essa frase seria rodriguiana, pense caro leitor, ser chamado de rodriguiano é a glória.
   Nelson foi o Shakespeare brasileiro, capaz de capitar o espírito de um tempo brasileiro e de retratá-lo com extrema fidelidade, ao passo que se o futebol brasileiro já ganhou 5 copas do mundo, tudo se deve ao Nelson. Ele ensinou o Brasil a gostar de futebol a enxergá-lo como poesia e a ver que o esporte pode ser arte. Por fim, sua crônica ácida, a cada leitura, mudava os fatos e dizia em forma romanceada qualquer assunto.
    Queria que esse cara estivesse vivo para dizer algumas boas para os defensores do "politicamente correto", para zombar do Neymar (com certeza ele zombaria) e para dizer que o Lula é uma piada mal contada. Há e já ia me esquecendo, ele chamaria a Dilma de feia. Seria mais processado que o Rafinha Bastos e o Diogo Mainardi juntos, zombaria dos juízes do STF e contaria o mensalão à sua maneira, muito mais poético e interessante.
    Se eu soubesse escrever como esse Nelson, certamente estaria mais feliz!

Nelson Rodrigues: a cara do Brasil real


AUGUSTO NUNES
O dramaturgo Nelson Rodrigues inventou o teatro brasileiro em 1943, com a peça Vestido de Noiva. O romancista, com o pseudônimo Suzana Flag ou sem camuflagens, devassou e simultaneamente seduziu o universo habitado por aquela que muitos anos depois seria batizada de “nova classe média”. O cronista do Brasil real ─ enquanto colecionava achados metafóricos que o transformariam num frasista incomparável e concebia imagens magnificamente exatas – pariu criaturas que, conjugadas, mostram não o que os nativos da terra gostariam de ser, mas o que efetivamente são. O torcedor apaixonado do Fluminense descobriu que “a mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana” e foi o primeiro a coroar Pelé. Ele foi e fez tudo isso ─ e muito mais ─ em apenas 68 anos de vida. É compreensível que o dia da morte física de Nelson Rodrigues tenha sido também o primeiro dia do resto de sua eternidade.
A imortalidade de Nelson Falcão Rodrigues, nascido no Recife em 23 de agosto de 1912, é reafirmada pelo centenário do gênio. Diferentemente das efemérides do gênero, desta vez não foi preciso reapresentar o país a outra vítima da amnésia endêmica que chegou com as primeiras caravelas. Desde a década de 70, quando começou a transformar-se numa prova contundente de que nem toda unanimidade é burra, Nelson está livre da temporada no limbo a que são condenados os grandes mortos. De lá para cá, não se passou um só dia sem que estivessem em cartaz peças teatrais ou filmes baseados em sua obra, ou sem que fossem vendidos exemplares dos livros que continuaram a multiplicar-se em edições sucessivas. Também é certo que neste momento, em alguma esquina ou mesa de botequim, alguém está animando a roda de conversa com a evocação de uma frase ou criatura de Nelson Rodrigues. Ou apenas Nelson, porque basta o prenome para a identificação de um velho conhecido.
A admiração por Nelson hoje é compartilhada por todos os brasileiros com mais de dez neurônios ─ sejam quais forem a idade, a filiação política, a tendência ideológica, o signo, o peso e a estatura. E assim sempre será, porque os muitos grandes momentos de Nelson Rodrigues nunca ficarão grisalhos. A crítica de teatro Barbara Heliodora prevê que, como ocorre com a obra de William Shakespeare, pelo menos quatro peças de Nelson ─ Vestido de Noiva, Boca de Ouro, A Falecida e O Beijo no Asfalto ─ continuarão encantando plateias daqui a 500 anos. Os descendentes dos nossos tetranetos reconhecerão uma similar de Engraçadinha na garota ao lado, ou dormirão imaginando que espécie de veículo estará transportando Solange, a dama que, no Brasil do século XX, caçava aventuras no lotação.
“Ele será sempre um grande autor”, afirma Barbara Heliodora, que atribui a Nelson Rodrigues a subida aos palcos dos diálogos que reproduzem a língua falada pelas plateias. “Nelson era um repórter extraordinário, e foi muito influenciado pela experiência como jornalista”, diz. “Tinha um ouvido tão maravilhoso que conseguiu captar o brasileiro falando. Nós aprendíamos na escola que poderíamos falar errado, mas deveríamos escrever corretamente. Os autores escreviam certo, esquecidos de que aquilo era para ser falado.” Só depois de Vestido de Noiva os atores começaram a falar o português das ruas. A descoberta do diálogo em brasileiro fez de Nelson Rodrigues, segundo o crítico Sábato Magaldi, “um autor seminal, que fecundou a nossa dramaturgia”.
Se Barbara Heliodora consegue distinguir o jornalista do dramaturgo, os amigos do singularíssimo pernambucano criado no Rio de Janeiro sempre enxergaram um Nelson só, que parecia vários por ser, na definição do jornalista e escritor Otto Lara Resende, um feixe de paradoxos. “É um profundo in­di­vi­dua­lista e vive da emoção coletiva”, disse Otto. “Foi um conservador e tem uma obra revolucionária. Orgulha-se de ser um reacionário e foi um dos autores mais censurados do Brasil.” O psicanalista e escritor Hélio Pellegrino achava que todas as versões do amigo viviam sob “o império da fantasia, em que realidade e invenção sempre se misturam”. Se a opção se impunha, a realidade sofria outra derrota: “Nelson é fiel à sua imaginação”.
Nelson Rodrigues era perigosamente imaginoso tanto com desafetos quanto com os mais íntimos amigos. Um deles só descobriu que fora transformado no nome alternativo da peça que entraria em cartaz naquela noite ao ler o enorme letreiro em neon: “Bonitinha mas Ordinária ou Otto Lara Resende”. A brincadeira que ultrapassara os limites do sarcasmo suspendeu por algumas semanas as conversas diárias entre o autor da homenagem e o integrante do grupo que reunia o que a usina de superlativos qualificava de “amigos além da vida e além da morte”. Anistias concedidas por Nelson Rodrigues eram amplas e irrestritas, mas tinham prazo de validade. Consertado o estrago, o parceiro ofendido não demorava a pousar em alguma história contada por quem sempre desprezou a fronteira que separa o real do imaginado.
“A crônica policial piorou porque os repórteres de hoje não mentem”, lastimava o homem que ainda menino enfeitava com detalhes fantasiosos histórias de casais que se matavam por amor. Nas crônicas ou nos romances de Nelson, o verdadeiro tirava o irreal para dançar o tempo todo. Com um sotaque lisboeta que nunca existiu, Otto Lara Resende era repatriado de Portugal para contracenar com a cabra vadia, única espectadora de entrevistas imaginárias conduzidas em um suposto terreno baldio ─ ou, ainda, para testemunhar mais um assombro provocado pelo Sobrenatural de Almeida, que alterava bruscamente uma situação ou o resultado de um jogo do Botafogo. Passados mais de trinta anos, está claro que histórias e personagens jamais ficarão datados. As criaturas que se tornaram inverossímeis num Brasil menos primitivo viraram documentos de época.
Tem lugar assegurado no Museu Nacional do Maniqueísmo, por exemplo, o padre de passeata, religioso que comparecia em trajes civis às manifestações de rua contra a ditadura militar. Estará ao lado de sua versão feminina, a freira de minissaia, e a poucos metros da estudante de psicologia da PUC, que queria saber o que o cronista achava da morte de Deus, e da estagiária de calcanhar sujo, que se formara em jornalismo para esbanjar autossuficiência e mau humor nas redações. Todos nascidos em 1968, são filhotes do direitista atormentado pelas atividades clandestinas do primogênito, engajado na luta armada. Em alguns episódios, Nelson foi longe demais na louvação de uma ditadura que torturava e matava inimigos. Mas o conjunto da obra é tão luminoso que revoga as manchas escuras.
Outras invenções do ficcionista delirante são atemporais e continuarão por aí durante séculos. O idiota da objetividade, por exemplo. A vizinha gorda e patusca. Palhares, tão definitivamente canalha que, na casa do irmão, beija à força o pescoço da cunhada que passa pelo corredor. Esses seguirão contracenando com personagens que iluminam a face do Brasil que tenta, inutilmente, esconder as taras, as vergonhas familiares, a guerra conjugal, o adultério, os preconceitos, a sexualidade reprimida, a mesquinhez patológica. “Se todo mundo conhecesse a vida íntima de todo mundo, ninguém cumprimentaria ninguém”, resumiu Nelson Rodrigues.
Os habitantes desse universo fantástico têm o olho rútilo e o lábio trêmulo, reagem à adversidade com arrancos de cachorro atropelado, seu pensamento é tão raso que uma formiguinha poderia atravessá-lo com água pelas canelas. Grã-finas com narinas de cadáver suportam maridos com três papadas e três bochechas em cada lado do rosto. A cabeça dos intelectuais tem a aridez de três desertos, os especialmente infelizes se sentam no meio-fio para chorar lágrimas de esguicho, caem tempestades de quinto ato do Rigoletto, há homens bonitos como havaiano de cinema, faz um calor de rachar catedrais e existe gente varada de luz como santo de vitral. Um mundo assim, espalhado por dezessete peças, nove romances, sete livros de contos e crônicas e milhares de artigos em jornais, merece mais que uma única vez sobre a face da Terra. O mundo maravilhoso que Nelson Rodrigues criou merece existir para sempre.
Obsessivo confesso e sem cura, obcecado especialmente pela morte, Nelson jurava que, durante a infância, fugia da escola para assistir a velórios. Aos 13 anos, estreou como repórter de polícia no jornal do pai, cobrindo um caso de suicídio passional. Adolescente, ouviu o som do tiro de revólver disparado por uma mulher que, inconformada com o noticiário que lhe devassara a vida íntima, resolveu vingar-se com o assassinato do dono do jornal, Mário Rodrigues, ou de algum de seus filhos. À morte do irmão, o ilustrador Roberto Rodrigues, seguiu-se a do pai. Depois vieram os anos de pobreza, a tuberculose que lhe impôs duas internações em Campos do Jordão, as chuvas do trágico verão carioca de 1966 que mataram o irmão Paulo e toda a família, o fim angustiante do primeiro casamento, as turbulências do segundo, o nascimento da filha cega, as torturas infligidas ao seu filho Nelsinho no cárcere. Em 21 de dezembro de 1980, o homem que passou a vida inteira pensando na morte se foi. Nunca se saberá se já tinha descoberto que era imortal.
O provocador vocacional
“A companhia de um paulista é a pior forma de solidão”
“Só os profetas enxergam o óbvio”
“Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”
“Hoje é muito difícil não ser canalha. Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo”
“Toda mulher bonita é um pouco a namorada lésbica de si mesma”
“Nada nos humilha mais do que a coragem alheia”
“Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral”
“O que atrapalha o brasileiro é o próprio brasileiro. Que Brasil formidável seria o Brasil se o brasileiro gostasse do brasileiro”
“Acho a liberdade mais importante que o pão”
“No Brasil, quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte”
“A fome é mansa e casta. Quem não come não ama, nem odeia”
“Não reparem que eu misture os tratamentos de tu e você. Não acredito em brasileiro sem erro de concordância”
“Não há ninguém mais vago, mais irrelevante, mais contínuo do que o ex-ministro”
“Jovens: envelheçam rapidamente!”
“Falta ao virtuoso a feérica, a irisada, a multicolorida variedade do vigarista”
O apaixonado cínico
“Amar é ser fiel a quem nos trai”
“Quem nunca desejou morrer com o ser amado nunca amou, nem sabe o que é amar”
“Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível”
“Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante”
“Todo tímido é candidato a um crime sexual”

50 anos a mil! Um livro mais interessante do que a atual MPB

    Recentemente li a excelente autobiografia escrita pelo Lobão. Achei um livro engraçadíssimo e de um tom muito comovente. Lobão se coloca como um grande nome da MPB e que ainda não morreu e está a todo vapor.
    Que ele é um músico de mãos cheia, acho que ninguém discorda, mas infelizmente não acredito em uma nova ascensão desta grande figura, uma vez que, me parece que desaprendemos a fazer Rock ou como escreve o Lobão "roquemrou".
     Quando ele descreve como se construiu a cena do Rock brasileiro (que diga-se de passagem é cheio de artistas criativos), sinto pena de meus filhos e netos, que dificilmente, conhecerão artistas do nível de Os Mutantes, Raul Seixas e Lobão.
      Vale a pena conferir 50 anos a mil!

Falem mal do Diogo Mainardi, mas reconheçam seu talento

    O escritor e comentarista político-econômico Diogo Mainardi é sem dúvida uma das figuras mais detestadas da imprensa brasileira. Quase toda a esquerda o odeia, principalmente devido ao seu trabalho como colunista da Veja. Mas haveremos de reconhecer seu talento naquilo que ele faz.
    Recentemente ele lançou um livro chamado "A Queda", no qual conta uma experiência familiar muito interessante e bela, o seu amor por seu filho Tito, que por uma intempérie da vida sofre de paralisia cerebral,  ainda que o caro leitor seja um esquerdista, não me leve a mal pois sou um grande fã de seu talento literário que chega ao extremo neste último livro.
    Interessante é ver que mesmo assim ele é visto como um golpista, anti-brasileiro e uma pessoa de más intenções. Não o conheço pessoalmente, mas está mais do que na hora da esquerda brasileira amadurecer e não julgar mal um dos poucos escritores brasileiros realmente interessantes de nossa contemporânea literatura.
     Em termos de política me afino a Mainardi e em termos de literatura sou-lhe aprendiz. Aprendiz da boca do diabo pós moderna!

Chega de barroco, samba e heróis inventados

    Neste fim de semana tive a agradável experiência de ler o livro "Guia politicamente incorreto de história do Brasil" do jornalista Leandro Narloch. Este livro foi um soco em meu estômago e me fez rever um monte de conceitos. Sabemos que a história não é uma ciência exata e tão pouco que a obra é uma "verdade absoluta", mas de toda forma há de se elogia o autor por sua criteriosa pesquisa e enorme número de referências e citações.
    No livro Narloch destrói alguns de meus ídolos românticos, exemplo disto é o capítulo dedicado a Santos Dummont, outro a Aleijadinho ( que talvez não fosse tão aleijado assim), há um capítulo sobre índios e outro sobre negros. Dizendo coisas que fariam muitos militantes se cortarem de ódio.
    Como mineiro e morador de cidades da antiga rota do ouro, sempre desconfiei dessa idolatria pelo barroco e como brasileiro sempre desconfiei se o samba é tão brasileiro e único assim. O autor investiga as raízes de todos estes fenômenos e nos mostra verdades no mínimo inconvenientes.
    No fundo os mitos nacionais são, em sua maioria, invenções e invencionísses de uma raiz sempre ideológica para manutenção de poder, hora marxista, hora getulista.
    Vale a pena e recomendo a leitura!