quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Fracassamos

     Ao ver a foto do jovem negro, pobre e inexistente aos nossos olhos pequeno burgueses senti um misto de sensações estranhas e renovadoras, senti que algo está muito errado nesse país e que precisamos retomar as bandeiras da luta por um mundo melhor, pois estas bandeiras não poderão ser largadas enquanto houverem "justiceiros" que fazem o que fazem.
     Porém, fui acometido de um pessimismo maior que o mundo ao ver o comentário da jornalista Raquel Sherazade. Como assim? Algo justifica fazer o que se fez? Algo justifica a total barbárie executada contra este jovem, que, sem um devido processo legal, foi violentado por cometer furtos? A Sherazade dizer isto não impressiona, o que decepciona é ver uma legião de jovens, que poderiam ter sido vítimas de violência semelhante, apoiarem e repercutirem essa fala funesta.
     Disseram que ele é ladrão, alguém conseguiu provar o fato? Mesmo que fosse, ele como negro e pobre iria para a cadeia e lá ficaria até mais tempo que o devido. Aqui é o país da impunidade, mas apenas para uma faixa da sociedade, o restante é punido sim e, em vários casos, com muito mais rigor do que se deve.
      Enquanto houverem jovenzinhos apoiando o que foi feito contra o jovem negro, não seremos uma nação, não seremos uma democracia e muito menos seremos dignos humanos, pois enquanto um brasileiro não for tratado com dignidade, a dignidade da pessoa humana perde em si todo o seu valor.
      Este episódio me faz sentir nojo dessa forma reacionária de ver a vida, me faz entender que precisamos renascer enquanto humanidade, se somos incapazes de cumprir o elementar contrato social, somos incapazes de pensar normas jurídicas, sistemas econômicos e conceitos artísticos.
      Enquanto fenômenos assim se repetirem, não temos o direito de sorrir e enquanto houverem pessoas que apoiam o que foi feito, não temos o direito de parar de lutar, enquanto a carne mais barata for a carne negra, este país não será nada e nós não teremos sido melhores que os alemães do Terceiro Reich.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Me faltam versos

Me faltam versos,
não me falta comida,
teto,
emprego,
dinheiro,
mas me faltam versos

Terei contraído o vírus da objetividade?

Me faltam versos,
revi hoje uma poetiza,
Ela se queixava de seu excessivo poetizar

Senti-lhe inveja,
Senti vontade de deitar a cabeça em seu colo e desabafar

Reclamar a minha falta de versos
Reclamar a poesia concreta da minha existência
poesia tão concreta que não enverga e nem quebra
prende, reprende, treprende.

Me faltam versos!