sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A Cruz de Giz


Eu sou uma criada. Eu tive um romance
Com um homem que era da SA.
Um dia, antes de ir
Ele me mostrou, sorrindo, como fazem
Para pegar os insatisfeitos.
Com um giz tirado do bolso do casaco
Ele fez uma pequena cruz na palma da mão.
Ele contou que assim, e vestido à paisana
anda pelas repartições do trabalho
Onde os empregados fazem fila e xingam
E xinga junto com eles, e fazendo isso
Em sinal de aprovação e solidariedade
Dá um tapinha nas costas do homem que xinga
E este, marcado com a cruz branca
ë apanhado pela SA. Nós rimos com isso.
Andei com ele um ano, então descobri
Que ele havia retirado dinheiro
Da minha caderneta de poupança.
Havia dito que a guardaria para mim
Pois os tempos eram incertos.
Quando lhe tomei satisfações, ele jurou
Que suas intenções eram honestas. Dizendo isso
Pôs a mão em meu ombro para me acalmar.
Eu corri, aterrorizada. Em casa
Olhei minhas costas no espelho, para ver
Se não havia uma cruz branca.
(Bertolt Brecht)

RETRATO DE MULHER – SÉCULO XIX


A voz sufocada no vestido.
Os seus olhos seguem o gladiador.
 Então, ela mesma aparece , altiva, na arena.
 Será livre?
 Uma moldura dourada
segura o retrato, no cavalete.

(Tomas Tranströmer)

FORA DO AR


Fim de noite. Os canais saíram do ar.
É um fim de noite total.
Na televisão só o pontilhado.
E não há mais nada - nem uma mera música.

Estaco diante do pontilhado.
Por que não desligo e vou dormir?
Os programadores das estações recomendam:
vai dormir, amanhã tem mais.

Mas eu continuo firme, lúcido,
diante da televisão ligada.
Os pontilhados não me dizem nada,

mas eu não desligo. E resisto.
Não vou dormir.
Vou ver televisão até o amanhecer.



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MEUS IRMÃOS


Meu modelo é Michael Jackson
- o negro que ficou branco.
Nele, tudo é estilizado
- a natureza não conta.

Estou usando uma bota do exército
e vou caminhando por várias ruelas.
Não tenho ninguém como companhia.
Dialogo com os paralelepípedos,

com as fachadas dos bancos,
que neste domingo perderam o sentido,
e dialogo sobretudo com um pedaço de pára-lamas

abandonado e esquecido num canto.
São esses os meus irmãos,
meus amigos de fé, camaradas.

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O amor é um cão dos diabos - Bukowski e sua poesia cortante

       O amor é um cão dos diabos, é uma coletânea de poemas de Charles Bukowski que perpassam por todo o universo desse autor genial. Segundo Sartre este era o maior poeta dos EUA.
        Nesta obra, ele conta suas experiências sexuais, seus amores e suas experiências com a família e amigos. Leia algumas abaixo:


meu velho
16 anos de idade
durante a depressão
cheguei em casa bêbado
e todas as minhas roupas -
calções, camisas, meias -
pastas, e páginas de
contos
tinham sido jogadas fora
sobre o gramado da frente e na
rua.


minha mãe estava me
esperando atrás de uma árvore:
"Henry, Henry, não
entre... ele vai
matar você, leu
suas histórias..."


"posso chutar a
bunda dele..."


"Henry, pegue isso
por favor... e
procure um quarto para você."


mas o que o preocupava era
que eu talvez não
terminasse o colegial
então eu voltaria
outra vez.


uma noite ele entrou
com as páginas de
um dos meus contos
(que eu nunca submeti a ele)
e disse, "este é
um grande conto".
eu disse, "o.k."
e ele me alcançou
e eu li.
era uma história sobre
um homem rico
que teve uma briga com
sua esposa e se
foi pela noite
atrás de uma xícara de café
e ficou observando
a garçonete e as colheres
e garfos e o
sal e o pimenteiro
e o letreiro de néon
na janela
foi então que voltou
para seu estábulo
para ver e tocar seu
cavalo favorito
que
deu-lhe um coice na cabeça
e o matou.


de alguma maneira
a história em suas mãos
tinha um significado para ele
apesar
de que quando a escrevi
não tinha nenhuma idéia
a respeito do que
tratava.


então eu lhe disse,
"o.k., velho, você pode
ficar com ela".


e ele a pegou
e caiu fora
e fechou a porta.
acho que foi
o mais próximo
que jamais estivemos.


garotas calmas e limpas em vestidos de algodão
tudo o que eu sempre conheci sempre foram putas, ex-prostitutas,
loucas. vejo homens com mulheres calmas e
gentis - vejo-os nos supermercados,
caminhando juntos na rua,
eu os vejo em seus apartamentos: pessoas em
paz, vivendo juntas. sei que essa paz
é apenas parcial, mas
existe paz, muitas horas e dias de paz.


tudo o que eu sempre conheci foram boleteiras, alcoólatras,
putas, ex-prostitutas, loucas.


quando uma vai
outra vem
pior do que sua antecessora.


vejo tantos homens com garotas calmas e limpas em
vestidos de algodão
garotas com rostos que não são de predadoras ou de
feras.


"nunca traga uma puta junto com você," eu digo para meus
poucos amigos, "eu me apaixonarei por ela."


"você não consegue suportar uma boa mulher, Bukowski."


preciso de uma boa mulher. preciso de uma boa mulher
mais do que da máquina de escrever, mais do que do
meu automóvel, mais do que de
Mozart; preciso tanto de uma boa mulher que posso
senti-la no ar, posso senti-la
na ponta dos dedos, posso ver calçadas construídas
para seus pés caminharem,
posso ver travesseiros para sua cabeça,
posso sentir a expectativa da minha risada,
posso vê-la acariciar um gato,
posso vê-la dormir,
posso ver seus chinelos no chão.


eu sei que ela existe
mas em que parte deste planeta ela está
enquanto as putas continuam me encontrando?


já vi mendigos demais com os olhos vidrados bebendo vinho barato debaixo da ponte
você se senta comigo
no sofá
nesta noite
nova mulher.

você já viu os
documentários
sobre animais carnívoros?

eles mostram a morte.

e agora me pergunto
que animal entre
nós dois
devorará
primeiro o outro
física e
por fim
espiritualmente?

nós consumimos animais
e então um de nós
consome o outro,
meu amor.

enquanto isso
prefiro que você vá
primeiro e do primeiro jeito

se os gráficos de performance passadas
significarem alguma coisa
eu certamente irei
primeiro e do último
jeito.




o estilo
o estilo é a resposta para tudo.
o modo fresco de encarar um dia chato ou perigoso.
fazer uma coisa chata com estilo é preferível a fazer uma
coisa perigosa sem estilo.
fazer uma coisa perigosa com estilo é o que chamo arte.
as touradas podem ser uma arte.
o boxe pode ser uma arte.
o amor pode ser uma arte.
abrir uma conserva de sardinhas pode ser uma arte.
não há muitos com estilo.
não há muitos que possam manter o estilo.
já vi cães com mais estilo que homens.
todavia poucos cães têm estilo.
os gatos têm-no em abundância.

quando hemingway pôs os seus miolos numa parede
com uma shotgun, isso foi estilo.
às vezes as pessoas dão-te estilo.
joana d´arc tinha estilo.
joão batista tinha estilo.
jesus.
sócrates.
césar.
garcía lorca.
conheci homens na prisão com estilo.
conheci mais homens na prisão com estilo do que fora dela.
o estilo é a diferença, um modo de o fazer, um modo de ser feito.
seis pássaros em silêncio numa poça de água, ou tu,
saindo da casa-de-banho sem me veres.




terça-feira, 25 de setembro de 2012

Protógenes - O deputado imbecil

    Acabo de ler uma notícia que me choca pela sua futilidade. O deputado Protógenes Queiroz (PC do B) quer proibir a exibição do filme Ted do diretor Seth Macfarlane, "por ensinar que uma pessoa pode descumprir a lei, usar drogas e ser feliz".
    O referido diretor ficou famoso com a série The Family Guy, um desenho animado de uma família muito politicamente incorreta e essa é a proposta do filme Ted.
     Bom, a razão da minha perplexidade está no fato de que não há nada de ilegal neste filme, há uma classificação indicativa que mostra que o filme não é para crianças, que fala de sexo, drogas, violência e linguagem imprópria. O trailler não mostra nada de lúdico, mas justamente mostra a proposta do filme, que é mais inocente que a biografia da Xuxa.
     Me revolto em ver que tipo de pessoa somos capazes de eleger neste país. Ainda mais revoltado com o quanto somos patéticos enquanto nação. No fim das contas nada será efetivamente realizado, porém temos um deputado federal, que ganha um caminhão de dinheiro todo mês querendo bancar uma de censor em plena democracia.
     Bem disse o Diogo Mainard quando comparou o Protógenes com o Tiririca e disse que o primeiro é muito pior do que o segundo.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

José e Pilar - O retrato de um amor de verdade

    O livro José e Pilar surgiu de premiado documentário do cineasta Miguel Gonçalves Mendes, que retratou de uma forma humana na melhor acepção da palavra.
    O documentário se passa na ilha de Lanzarote, onde o casal vivia e trabalhava.
    Pilar Del Rio, jornalista e tradutora para o espanhol da obra de Saramago, surge nesta obra como uma mulher admirável. Primeiramente, por seu carinho e amor ao José e não ao Saramago, ao qual ela lhe rende profunda admiração. Ela mostra que o mais importante na relação deles é a vida diária, as pequenas coisas e principalmente a grande pessoa que era José Saramago. O amor é tema recorrente em toda a obra, mas ela também fala sobre política, fé, trabalho, cultura, Portugal, Espanha e até sobre o Brasil.
     José Saramago, por sua vez, faz impressionantes declarações de amor à Pilar e fala sobre a vida, o amor, o sentido de nossas existências e emociona quando fala sobre o que realmente é importante para ele. Enfim,  Miguel Gonçalves Mendes fugiu dos temas dos quais sempre vimos Saramago falar e se concentrou no José, revelando uma face pouco vista de um dos maiores gênios de nossa língua.
     Não vi o filme, mas indiscutivelmente, o livro vale muito a pena.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O casamento não concebido


Rubens havia acabado de se casar. Lúcia sua esposa era afetuosa e apaixonada, Rubens lhe devotava um respeito excessivo para uma esposa, uma vez que não conseguia ter sequer uma relação sexual com ela.
Durante o namoro e noivado a atitude de Rubens era vista com bons olhos por seus sogros e Lúcia sentia-se respeitada pela forma com que Rubens a tratava, mas após o casamento isto se transformaria em um grande motivo para se procurar um terapeuta de casais. Lúcia era bonita e sabia se fazer de sensual, apesar da virgindade. Mas nada disto era suficiente para modificar os ânimos de Rubens.
Na primeira consulta com o Doutor Tibúrcio (sim, esse era seu nome), eles se sentaram e permaneceram mudos diante do terapeuta até Lúcia romper violentamente o silêncio:
- O nosso problema doutor, é que Rubens não quer saber de mim, na certa está me traindo!
- Jamais te faria isto meu amor! – Disse Rubens com uma enorme afetuosidade na voz.
-E então por que não transamos igual aos outros casais? – inquiriu Lúcia com um olhar fulminante.
-É porque você é pura demais meu amor! – responde Rubens, assim mesmo, de chofre e com um carinho comovente.
- Como assim pura demais? – finalmente interviu o terapeuta de nome estranho
- Sabe doutor, nos dias de hoje encontrar uma mulher como Lúcia é uma dádiva, um presente de Deus. Quando a conheci ela tinha só 19 anos e ainda era virgem, após um namoro de 6 anos ao qual nunca a toquei ela ainda permanece imaculada. Ela é uma santa! – finaliza Rubens num rompante que beira a loucura.
- Tudo o que Rubens está dizendo é verdade Dona Lúcia? – perguntou o Terapeuta em tom respeitoso.
- É sim Doutor – responde Lúcia sentindo –se culpada por não ter conhecido os prazeres sexuais antes de Rubens – Achava que era respeito e não essa doença.
- Pois para mim não é doença – Interrompe Rubens – Quando me casei com você foi como se eu encontrasse a última das santas sob a Terra.
- O senhor não acha essa sua obsessão doentia? – Pergunta o Terapeuta.
- EU QUERO UM MARIDO DE VERDADE! – exclama veementemente Lúcia.
- Então tá – Rubens abaixa a cabeça como se fosse um criminoso a confessar um crime – De hoje não passa.
- Então Dona Lúcia, nos vemos na próxima semana e conversaremos de novo – diz o Terapeuta em tom amistoso e cordial.
Ambos saem de braço dado, Rubens suando as mãos paga a consulta e Lúcia sorri lépida e fagueira, pensando ter encontrado a solução para todos os seus problemas, enche de beijos e carinhos ali mesmo.
Chega a noite e Lúcia está do jeito que o Diabo gosta. Rubens está quieto a murmurar algo indecifrável, parece estar no corredor da morte. Lúcia liga o aparelho de som e põe uma música do Djavan (difícil transar assim), e se vira nua para Rubens.
Rubens a contempla, se ajoelha e profere a mais cafona das declarações de amor.Deitam-se nus e nada acontece.
- Perdão amor, te amo tanto que não consigo.
Essa frase desconexa deixa Lúcia ensandecida.
Muda ela fica e assim permanece, veste-se, pega umas poucas roupas e documentos, olha se ainda tem dinheiro em sua carteira, conta cada centavo, fecha a carteira, olha para Rubens com desprezo, mas aquele desprezo que só uma mulher é capaz de sentir e sai de casa apesar dos choros e súplicas de Rubens.
Dali a diante sua vida seria completamente diferente do fora até então.
E Rubens? Bem, ele continua patético. Fez uma estátua em homenagem à Lúcia e por ela tem adoração, afinal para ele Lúcia é uma mulher sem orifício.

Alguns poemas de WISŁAWA SZYMBORSKA


EXEMPLO



O vendaval

à noite arrancou todas as folhas de uma árvore,          

menos uma,

deixada

para balançar só num galho nu.



Com este exemplo

a Violência demonstra    

que sim –

às vezes ela gosta de se divertir.





OS PENSAMENTOS QUE ME VISITAM NAS RUAS MOVIMENTADAS



Rostos.

Bilhões de rostos na face da terra.

Dizem que cada um é diferente

dos que já se foram e dos que virão um dia.

Mas a Natureza – quem é que a entende? –

cansada do trabalho que nunca acaba

talvez repita suas ideias antigas              

e ponha-nos rostos

já usados outrora.



Pode ser Arquimedes de jeans que passa ao seu lado,

a czarina Catarina com roupa de brechó,              

um dos faraós de pasta e óculos.



A viúva de um sapateiro descalço

vinda de uma Varsóvia pequenina ainda,

um mestre da gruta de Altamira

levando as netas para o zoológico,

um Vândalo cabeludo a caminho do museu

para se deliciar com os mestres do passado.



Os que tombaram há duzentos séculos,

há cinco séculos,

há meio século.



Alguém levado em carruagem dourada,

alguém levado em vagão de extermínio.

Montezuma, Confúcio, Nabucodonosor,

suas babás, suas lavadeiras e Semíramis

que só fala inglês.



Bilhões de rostos na face da terra.

Meu, seu, de quem –

você nunca saberá. Talvez a Natureza tenha que ludibriar

para dar conta dos prazos e da demanda

e pesque até o que estava submerso              

no espelho da deslembrança.







UM ACIDENTE DE TRÂNSITO



Ainda não sabem

o que há meia hora        

aconteceu na estrada.



Em seus relógios

a hora é mais ou menos

tarde, de quinta-feira, e setembro.



Alguémescoa o macarrão.          

Alguém varreas folhas do jardim.          

Crianças correm gritando ao redor da mesa.

Um gato se digna a ser afagado.          

Alguém chora –

diante da televisão, como de costume,  

quando o malvado Diego trai a Juanita.              

Alguém bate na porta –

não é nada, só uma vizinha devolvendo a frigideira.

O telefone toca nos fundos da casa –            

por ora, só o telemarketing.



Se alguém chegasse à janela

e olhasse o céu

poderia ver as nuvens

que vinham do lugar onde ocorreu o desastre.        

Rasgadas, despedaçadas,

mas, até aí, nada de especial.





AUSÊNCIA



Por pouco

e a minha mãe teria casado

com o senhor Zbigniew B. de Zduńska Wola.

Se tivessem uma filha – não seria eu.

Talvez com a memória para nomes, rostos

e canções ouvidas uma só vez – melhor que a minha.

Distinguindo sem erro um pássaro do outro.

Com excelentes notas de física e química,

de polonês nem tanto,

mas escrevendo poemas às escondidas,

logo muito melhores que os meus.                      



Por pouco

e naquela mesma época meu pai teria casado

com a senhorita Jadwiga R. de Zakopane.

Se tivessem uma filha – não seria eu.

Talvez mais teimosa e intransigente.

Saltando sem medo na água funda.

Suscetível ao que comove as massas.

Vista em vários lugares ao mesmo tempo,

poucas vezes com um livro, muito mais com a bola,

jogando com meninos nos pátios e ruas.



As duas poderiam ter se encontrado

na mesma escola e na mesma classe,

mas sem afinidades,

nenhum parentesco,

e na foto da turma, bem afastadas entre si.



Fiquem aqui, meninas

– diz o fotógrafo –,

as pequenas na frente, as mais altas atrás.                

E sorrisos bonitos quando eu der o sinal.          

Verifiquem ainda,

não falta ninguém?



– Sim, senhor, estamos todas aqui.







O DIA DEPOIS – SEM NÓS



A previsão é de manhã fria e céu nublado.

Do oeste

aparecerão nuvens chuvosas.    

A visibilidade será fraca.

As estradas escorregadias.



Ao longo do dia,

possível diminuição de nebulosidadeem áreas isoladas          

causada pela frente de pressão alta do norte.

No entanto, com o vento forte e inconstante              

podem ocorrer tempestades.



À noite,                                

tempo bom em quase todo o país,

só no sudeste

possíveis pancadas de chuva.                  

A temperatura vai baixar significativamente

e a pressão vai subir.



O dia seguinte

deve ser de sol,          

mas quem ainda estiver vivo                  

talvez precise de guarda-chuva.





Tradução deHenryk Siewierski

Poemas do livro Here, de Wislawa Szymborska. Copyright 2010 de Wislawa Szymborska. Traduzido e reproduzido sob permissão de Houghton Mifflin Harcourt Publishing Company. Todos os direitos reservados

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Marta Suplicy no MinC - Agora eu relaxo?

     O PT me surpreende sistematicamente. Sempre há uma vaguinha para sua patotada, sem analisar o mérito e a capacitação para ocupar a vaga em questão.
     Quais foram as contribuições de Marta para cultura brasileira? Será que foi por colocar o  Supla no mundo?
      O MinC deveria ser ocupado por pessoas que compreendam as necessidades culturais brasileiras, por pessoas que compreendam efetivamente do que se trata, que tenham um plano para os próximos 30 anos e que se integrem ao MEC. Porém, Marta, em troca do favor, irá fazer uma campanha mais intensa por Haddad e usará o MinC como trampolim para uma eventual candidatura ao governo de São Paulo.
      Cultura no Brasil é assunto de segunda importância na gestão petista. Não que anteriormente as coisas fossem melhores, mas o fato é que, enquanto Dilma zela pela economia, esquece-se daquilo que não é perene, aquilo que fica para a eternidade de uma nação, a sua Cultura. Teremos mais alguns anos de fomento à indústria do entretenimento e a cultura nacional sendo tratada como um detalhe de todo um negócio vil e patético.


Millôr Fernandes - Inteligência em forma de síntese

       A alguns meses atrás nos deixou o grande Millôr Fernandes. O Brasil ficou muito mais burro. Segundo ele, "jornalismo é oposição, o restante é armazém de secos e molhados" e a cada dia que passa entendo melhor isto que ele disse, haja visto que o jornalismo brasileiro, em quase todos os meios, nada mais é que um lobby, levando as opiniões para o seu lado economicamente mais viável.
       Uns são pseudo esquerdistas apoiadores do PT e de tudo o que ele se envolver. Outros são direitistas e, de tão preconceituosos, são patéticos. Então, tive um assombro hoje; todos os jornalistas que sabem alguma coisa da vida, logo, sabem fazer algo próximo de jornalismo e alguns até conseguem, são fãs do Millôr.
        Sendo assim, não ficarei a falar das minhas impressões desta mente privilegiada, mas demonstrarei que tudo o que disse é verdade.
     

Poesia Matemática

Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.
Millôr Fernandes

Grandes pensamentos do mestre:


A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo, de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades.


As pessoas que falam muito, mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades.


Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem.

Viver é desenhar sem borracha.

Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.

Não devemos resisitir às tentações: elas podem não voltar.

Chato...Indivíduo que tem mais interesse em nós do que nós temos nele.

Esta é a verdade: a vida começa quando a gente compreende que ela não dura muito.

Certas coisas só são amargas se a gente as engole.

O dinheiro não dá felicidade. Mas paga tudo o que ela gasta.

Jamais diga uma mentira que não possa provar.

O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde.


Quem mata o tempo não é assassino mas sim um suicida.

Pais e filhos não foram feitos para ser amigos. Foram feitos para ser pais e filhos.

[POEMEU EFEMÉRICO]
Viva o Brasil
Onde o ano inteiro
É primeiro de abril

Os nossos amigos poderão não saber muitas coisas, mas sabem sempre o que fariam no nosso lugar.

Acreditar que não acreditamos em nada é crer na crença do descrer.

Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor.

Inúmeros artistas contemporâneos não são artistas e, olhando bem, nem são contemporâneos.

O pior casamento é o que dá certo.

O poder é o camaleão ao contrário: todos tomam a sua cor.

Se você leu este post até o fim e gostou, é um sinal de que há esperança para você!








Das Utopias


                                                                        Mario Quintana
Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não quere-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
a magica presença das estrelas!

domingo, 2 de setembro de 2012

Ecos do trágico - Como os gregos construíram o que somos

    Nesta muito feliz empreitada dos Professores Bernardo Nogueira e Ramon Mapa, é trabalhada a questão da influência das tragédias gregas na concepção do que entendemos hoje como Direitos Humanos.
    Numa caminhada pelas obras de Sófoles, Eurípedes e Ésquilo, há de se notar uma sofisticação de pensamento e de construção de narrativas que não, beiram a genialidade, mas que delimitam o que de fato é genialidade.
     Em todas as reflexões colocadas, os autores foram de uma ímpar felicidade de citações e de embasamento teórico, mostrando que Ítalo Calvino tinha razão ao nos dizer que devemos ler os clássicos pois estes - são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer: "Estou relendo..." e nunca "Estou lendo..." - (http://www.kafkacity.blogspot.com.br/2011/03/por-que-ler-os-classicos.html).
      Partindo desta assertiva, essas obras podem ser (sem medo de exagerar) a raiz de todo o pensamento ocidental e os professores Bernardo Nogueira e Ramon Mapa, me convenceram a estudar mais estes autores lapidares para nossa cultura e que nos ajudam a conhecer melhor quem somos e porque somos assim.
      Na dúvida leia os gregos, eles sabiam o que estavam dizendo!

Jardim de inverno - Uma viagem ao íntimo de Pablo Neruda

    Jardim de inverno é uma obra publicada póstumamente de Pablo Neruda à qual contém alguns poemas escritos pouco antes deste grande autor falecer. Mas, quem lê na expectativa de um manifesto político e de poemas que contenham uma grande indignação social, encontra um Pablo Neruda mais introspectivo e ciente da proximidade de sua morte. Em vários momentos o autor fala de Deus, de seus sonhos e das estações do ano, conbarando-as com as estações da vida.
    Somente um poeta do nível de Neruda seria capaz de escrever algo tão belo no crepúsculo de seus dias. Vale a leitura e vale a emoção.

A Estrela
Bom, Eu já não voltei, já não padeço
de não voltar, a decisão da areia
e como parte da onda e de passagem,
a sílaba de sal, o piolho da água,
eu, soberano, escravo desta costa
submeti-me, me encadeei à minha rocha.
Não há vontade para nós que somos
fragmento do assombro
não tem saída para este retorno
para si mesmo, a pedra de si mesmo,
já não existem mais estrelas que o mar.