quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O casamento não concebido


Rubens havia acabado de se casar. Lúcia sua esposa era afetuosa e apaixonada, Rubens lhe devotava um respeito excessivo para uma esposa, uma vez que não conseguia ter sequer uma relação sexual com ela.
Durante o namoro e noivado a atitude de Rubens era vista com bons olhos por seus sogros e Lúcia sentia-se respeitada pela forma com que Rubens a tratava, mas após o casamento isto se transformaria em um grande motivo para se procurar um terapeuta de casais. Lúcia era bonita e sabia se fazer de sensual, apesar da virgindade. Mas nada disto era suficiente para modificar os ânimos de Rubens.
Na primeira consulta com o Doutor Tibúrcio (sim, esse era seu nome), eles se sentaram e permaneceram mudos diante do terapeuta até Lúcia romper violentamente o silêncio:
- O nosso problema doutor, é que Rubens não quer saber de mim, na certa está me traindo!
- Jamais te faria isto meu amor! – Disse Rubens com uma enorme afetuosidade na voz.
-E então por que não transamos igual aos outros casais? – inquiriu Lúcia com um olhar fulminante.
-É porque você é pura demais meu amor! – responde Rubens, assim mesmo, de chofre e com um carinho comovente.
- Como assim pura demais? – finalmente interviu o terapeuta de nome estranho
- Sabe doutor, nos dias de hoje encontrar uma mulher como Lúcia é uma dádiva, um presente de Deus. Quando a conheci ela tinha só 19 anos e ainda era virgem, após um namoro de 6 anos ao qual nunca a toquei ela ainda permanece imaculada. Ela é uma santa! – finaliza Rubens num rompante que beira a loucura.
- Tudo o que Rubens está dizendo é verdade Dona Lúcia? – perguntou o Terapeuta em tom respeitoso.
- É sim Doutor – responde Lúcia sentindo –se culpada por não ter conhecido os prazeres sexuais antes de Rubens – Achava que era respeito e não essa doença.
- Pois para mim não é doença – Interrompe Rubens – Quando me casei com você foi como se eu encontrasse a última das santas sob a Terra.
- O senhor não acha essa sua obsessão doentia? – Pergunta o Terapeuta.
- EU QUERO UM MARIDO DE VERDADE! – exclama veementemente Lúcia.
- Então tá – Rubens abaixa a cabeça como se fosse um criminoso a confessar um crime – De hoje não passa.
- Então Dona Lúcia, nos vemos na próxima semana e conversaremos de novo – diz o Terapeuta em tom amistoso e cordial.
Ambos saem de braço dado, Rubens suando as mãos paga a consulta e Lúcia sorri lépida e fagueira, pensando ter encontrado a solução para todos os seus problemas, enche de beijos e carinhos ali mesmo.
Chega a noite e Lúcia está do jeito que o Diabo gosta. Rubens está quieto a murmurar algo indecifrável, parece estar no corredor da morte. Lúcia liga o aparelho de som e põe uma música do Djavan (difícil transar assim), e se vira nua para Rubens.
Rubens a contempla, se ajoelha e profere a mais cafona das declarações de amor.Deitam-se nus e nada acontece.
- Perdão amor, te amo tanto que não consigo.
Essa frase desconexa deixa Lúcia ensandecida.
Muda ela fica e assim permanece, veste-se, pega umas poucas roupas e documentos, olha se ainda tem dinheiro em sua carteira, conta cada centavo, fecha a carteira, olha para Rubens com desprezo, mas aquele desprezo que só uma mulher é capaz de sentir e sai de casa apesar dos choros e súplicas de Rubens.
Dali a diante sua vida seria completamente diferente do fora até então.
E Rubens? Bem, ele continua patético. Fez uma estátua em homenagem à Lúcia e por ela tem adoração, afinal para ele Lúcia é uma mulher sem orifício.

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