quinta-feira, 20 de outubro de 2011

As pessoas pensam que os cientistas...

Autor: Wittgenstein

AS PESSOAS PENSAM QUE OS CIENTISTAS EXISTEM PARA INSTRUÍ-LAS E QUE OS ARTISTAS - OS POETAS, OS ESCRITORES, OS MÚSICOS, OS DRAMATURGOS - EXISTEM SÓ PARA LHES DAR PRAZER. NÃO OCORRE ÀS PESSOAS QUE TAMBÉM OS ARTISTAS TÊM MUITA COISA PARA LHES ENSINAR.

Sobre o autor:
Wittgenstein (1889 — 1951) foi um filósofo austríaco, naturalizado britânico. Foi um dos principais atores da "virada linguística" na filosofia do século XX. Suas principais contribuições foram feitas nos campos da lógica, filosofia da linguagem, filosofia da matemática e filosofia da mente.

COMO EXPLICAR QUE O HOMEM...

Autor: Dostoiévski


COMO EXPLICAR QUE O HOMEM, UM ANIMAL TÃO PREDOMINANTEMENTE CONSTRUTIVO, SEJA TÃO APAIXONADAMENTE PROPENSO À DESTRUIÇÃO? TALVEZ PORQUE SEJA UMA CRIATURA VOLÚVEL, DE REPUTAÇÃO DUVIDOSA. OU TALVEZ PORQUE SEU ÚNICO PROPÓSITO NA VIDA SEJA PERSEGUIR UM OBJETIVO, ALGO QUE, AFINAL, AO SER ATINGIDO, NÃO MAIS É VIDA, MAS O PRINCÍPIO DA MORTE.   

Sobre o autor:
Fiódor Dostoiévski nasceu em 11 de Novembro de 1821 na cidade de  São Petersburgo,O escritor é considerado um dos maiores romancistas da literatura russa e um dos mais inovadores artistas de todos os tempos.Sua obra explora a autodestruição, a humilhação e o assassinato, além de analisar estados patológicos que levam ao suicídio, à loucura e ao homicídio.

O Tempo

Autor: Mário Quintana

A vida são dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é Natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê não sabemos mais por onde andam nossos amigos...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casaca dourada e inútil das horas...
Eu seguraria todos os meus amigos, que Já não sei como e onde eles estão e diria: vocês são extremamente importantes para mim.
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
Dessa forma eu digo, não deixe de fazer algo que gosta devido a falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Sobre o autor: Mário Quintana foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro. Na década de 40, Quintana é alvo de elogios dos maiores intelectuais da época e recebe uma indicação para a Academia Brasileira de Letras, que nunca se concretizou. Sobre isso ele compõe, com seu afamado bom humor, o conhecido Poeminha do Contra.

Escolho meus amigos pela pupila

Autor: Oscar Wilde

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Sobre o autor:
Escritor irlandês, nasceu em 16 de outubro de 1854 na cidade de Dublin. Wilde escreveu para todos as formas de expressão em palavras, embora tenha sido menos conhecido em algumas delas. Em seu único romance, O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde trata da arte, da vaidade e das manipulações humanas e é considerado por muitos de seus leitores, como a sua maior obra-prima.

Ó infelizes mortais...

Autor: Voltaire

Ó infelizes mortais, ó terra deplorável
Ó ajuntamento assustador de seres humanos! Eterna diversão de inúteis dores!
Filósofos alienados que proclamam:-tudo vai bem-. Venham contemplar essas ruínas horrendas
esses destroços, esses farrapos, essas cinzas malditas, essas mulheres e essas crianças
amontoadas sob mármores partidos, seus membros espalhados;
Cem mil desafortunados que a terra devora, que sangrando, dilacerados, e ainda palpitando
enterrados sob seus tetos, sucumbem sem socorro, no horror de tormentas findando seus dias!
Diante dos gritos de suas vozes moribundas, do horror de suas cinzas ainda crepitantes, vocês dirão;
-é a conseqüência de leis eternas que um Deus livre e bom resolveu aplicar?!-
Vocês dirão, vendo esse amontoado de vítimas: -Deus vingou-se,e a morte deles é o preço de seus crimes?!-
Que crime, que falta cometeram essas crianças esmagadas e sangrentas sobre o seio materno? Lisboa,
que não mais existe, teria mais vícios que Londres, que Paris, submersas em delícias?
Lisboa está destruída e dança-se em Paris.
espectadores tranqüilos, intrépidos espíritos, contemplando a desgraça desses moribundos,
 vocês procuram – em paz – as causas do desastre:
-Tudo vai bem – dizem vocês – e tudo é necessário-
Por acaso o universo, sem esse abismo, infernal, sem submergir Lisboa, estava sendo pior?

Quando a tecnologia e o dinheiro...

Autor: Martin Heidegger

Quando a tecnologia e o dinheiro tiverem conquistado o mundo; quando qualquer acontecimento em qualquer lugar e a qualquer tempo se tiver tornado acessível com rapidez; quando se puder assistir em tempo real a um atentado no ocidente e a um concerto sinfônico no oriente; quando tempo significar apenas rapidez online; quando o tempo, como história, houver desaparecido da existência de todos os povos, quando um esportista ou artista de mercado valer como grande homem de um povo; quando as cifras em milhões significarem triunfo, - então, justamente então – reviverão como fantasma as perguntas: para quê? Para onde? E agora? A decadência dos povos já terá ido tão longe, que quase não terão mais força de espírito para ver e avaliar a decadência simplesmente como... Decadência. Essa constatação nada tem a ver com pessimismo cultural, nem tampouco, com otimismo... O obscurecimento do mundo, a destruição da terra, a massificação do homem, a suspeita odiosa contra tudo que é criador e livre, já atingiu tais dimensões, que categorias tão pueris, como pessimismo e otimismo, já haverão de ter se tornado ridículas.

Sobre o autor: Martin Heidegger
Filosofo alemão que é seguramente um dos pensadores fundamentais século XX. Inscreveu-se no partido Nazi (NSDAP) em 1 de Maio de 1933, tendo posteriormente sido nomeado reitor da Universidade de Freiburg. Porém, pouco depois se demitiu do cargo de reitor, se colocando contra a perseguição, de cunho anti-semita, a professores da universidade.

O Caráter Destrutivo

Autor: Walter Benjamin

Destruir é jovem e sereno. Destruir rejuvenesce, porque afasta as marcas de nossa própria idadem, reanima. O que leva a esta imagem apolínea do destruidor é, o reconhecimento de que o mundo se simplifica terrivelmente quando testa o quanto ele merece ser destruído. Este é o grande vínculo que envolve, na mesma atmosfera, tudo o que existe. É uma visão que proporciona ao caráter destrutivo um espetáculo da mais profunda harmonia.

Sobre o autor: Walter Benjamin
Walter Benedix Schönflies Benjamin nasceu em Berlim,em 15 de julho de 1892 e foi um ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo judeu alemão.
O seu trabalho, combinando ideias aparentemente antagónicas do idealismo alemão, do materialismo dialético e do misticismo judaico, constitui um contributo original para a teoria estética.

Parem de jogar cadáveres na minha porta

Autor: Affonso Romando de Sant´anna


Parem de jogar cadáveres na minha porta

Autor: Affonso Romando de Sant´anna
Fabricio Altran
29/07/11 18:50 - Atualizado em 29/07/11 18:50
Parem de jogar cadáveres na minha porta. Tenho que sair - respirar.
Estou seguindo para os jardins de Allambra a ouvir o que diz a água.
Daquelas fontes e acompanhar o desenho imperturbável dos Zeliges. Não me venham com jornais sangrentos sob os braços.
Parem de roubar meu gado, de invadir meu teto e de semear pregos por onde passo. Estou em Essauíra, na costa do Marrocos, olhando o mar. Ou em Minas, contemplando as montanhas ao redor de diamantina. Não me tragam o odorento lixo da estupidez urbana.
Parem de atirar em minha sombra e abocanhar meu texto. Estou tornando a Delfos naquela manhã de neblinas, ouvindo.
O que me diz o oráculo em surdina. Ainda agora embarquei para o palácio Topkapi, frente ao Bósforo, quando tentaram me esfaquear na esquina. Jamais permitirei que quebrem as porcelanas e roubem a gigantesca esmeralda na real vitrina.
Não me chamem para a reunião de condomínio. Estou nos campos da Toscana, onde a gigante mão de Deus penteia os montes.
E minha alma se sente pequenina. Dei de mão comendas e insígnias.
Não tenho mais que na praça erguer protestos e distribuir esmolas não é mais a minha sina. Acabo de entrar no pavilhão da harmonia preservada e me liberto - na cidade proibida na China. Não adianta o clamor de burocráticos compromissos nem vossa ira. Tenho oito anos,
saí para nadar naquele açude atrás dos morros e vou pescar a minha única e inesquecível traíra. Parem de jogar cadáveres na minha porta, na minha mesa, na minha cama dificultando que alcance o corpo da mulher que amo. Afastem de mim o meu, o vosso cálice. Impossível ficar no tempo que me coube. O tempo todo.
Preciso repousar num campo de tulipas reaprendendo a ver o que era o mundo antes de, como um sísifo moderno, desesperado, julgar que o tinha que carregar.

Sobre o autor: Affonso Romando de Sant´anna
Natural de Belo Horizonte, participou ativamente de movimentos que transformaram a poesia brasileira, além de movimentos políticos e sociais que marcaram o país.

Receita para arrancar poemas presos

Autor: Viviane Mosé

A maioria das doenças que as pessoas têm são poemas presos.

Abscessos, tumores, nódulos, pedras são palavras calcificadas,

Poemas sem vazão.

Mesmo cravos pretos, espinhas e cabelo encravado.

Prisão de ventre poderia um dia ter sido poema. Mas não.

Pessoas às vezes adoecem da razão

De gostar de palavra presa.

Palavra boa é palavra líquida, escorrendo em estado de lágrima.

Lágrima é dor derretida. Dor endurecida é tumor.

Lágrima é alegria derretida. Alegria endurecida é tumor.

Lágrima é raiva derretida. Raiva endurecida é tumor.

Lágrima é pessoa derretida. Pessoa endurecida é tumor.

Tempo endurecido é tumor. Tempo derretido é poema.

Sobre o autor: Viviane Mosé
Psicóloga e psicanalista. Escreveu e apresentou, em 2005 e 2006, o quadro Ser ou não ser, no Fantástico, onde trazia temas de filosofia para uma linguagem cotidiana.

Vinte anos de teatro...

Autor: Jorge Luis Borges

 Vinte anos de teatro e alucinação. Até que um dia vendeu tudo e regressou a seu rio de infância e às árvores de sua aldeia natal.
Foi vencido, o artista, pelo cansaço e pelo horror de ser tantos reis assassinados e tantos amantes que agonizam. Finalmente liberto das ilusões mitológicas e vozes latinas de seus textos, era preciso agora ser alguém, antes ou depois de morrer, não se sabe. Postou-se diante de deus e disse: “eu, que tantos homens fui em vão, quero ser alguém, quero ser eu! E a voz solene de deus lhe respondeu: “nem eu mesmo sou eu. Sonhei um mundo como tu, shakespeare, sonhaste em tua obra. E entre as formas de meu sonho estás tu, que como eu, és muitos... E ninguém! 

Sobre o autor: Jorge Luis Borges nasceu em uma família de classe média com boa educação. Foi um ávido leitor de enciclopédias. Sua obra se destaca por abordar temáticas como filosofia (e seus desdobramentos matemáticos), metafísica, mitologia e teologia, em narrativas fantásticas onde figuram os "delírios do racional", expressos em labirintos lógicos e jogos de espelhos.

Como é por dentro outra pessoa.

Autor: Fernando Pessoa

Como é por dentro outra pessoa? Quem é que o saberá sonhar? A alma de outrem é outro universo, com que não há comunicação possível, nem há verdadeiro entendimento. Nada sabemos da alma, senão da nossa. As almas dos outros são olhares, são gestos, são palavras, supondo-se qualquer semelhança no fundo. Entendemo-nos porque nos ignoramos. A vida que se vive é um desentendimento fluido, uma média alegre entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver.

Sobre o autor: Fernando Pessoa (1888 - 1935) nasceu em Lisboa.
Considerado um dos mais importantes poetas modernistas.
Criou heterônimos famosos como Alberto Caieiro, Ricardo Reis e Álvaro Campos.

Eu sou Mefistófeles...

Autor: Goethe

Eu sou Mefistófeles. Mefistófoles!
É, o diabo e todos vocês são Faustos. Faustos, os que vendem a alma ao diabo.
Tudo é vaidade nesse mundo vão, tudo é tristeza, tudo é pó é nada, quem acredita em sonhos é porque já tem a alma morta. O mal da vida cabe entre nossos braços e abraços mas eu não sou exatamente o que vocês pensam, eu não sou exatamente o que as igrejas pensam, as igrejas abobinam me.
Deus me criou para que eu o imitasse de noite. Ele é o sol eu sou a lua, a minha luz paira tudo quanto é futil, margens de rio, pantanos, sombras.
Quantas vezes vocês viram passar uma figura velada, rápida?
Figura que te daria toda a felicidade, figura que te beijaria indeferidamente.
Era eu, sou eu. Eu sou aquele que sempre procuraste e nunca poderás achar.
Os problemas que atormentam os homens são os mesmos problemas que atormentam os deuses.
Quantas vezes Deus me disse citando João Cabral de Melo Neto: "Ai de mim, ai de mim." Quem sou eu?
Quantas vezes Deus me disse: "Meu irmão, eu não sei quem eu sou".
Senhores venham até mim, venham até mim, venham!. Eu os deixarem em rodopios fascinantes, uivos castéus e nas trevas, nas trevas vocês veram todo o explendor.
De que adianta vocês viverem em casa como vocês vivem, de que adianta pagar as contas no fim do mês, religiosamante, as contas de luz, gás, telefone, condomínio, IPTU.
Todos vocês são Faustos. Venham, eu os arrastarei por uma vida bem selvagem, através de uma rasa e vã mediocridade que é o que vocês merecem.
As suas bem humanas insasiabilidade teram lábios, manjares, bebidas... É difícil encontrar quem não queira vender a sua alma ao diabo.
As últimas palavras de Goethe, ao morrer, foram: "Luz... Luz, mais luz!"


Sobre o autor:
Goethe (1749-1832) foi um escritor alemão e pensador que também incursionou pelo campo da ciência. Como escritor, Goethe foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu, nos finais do século XVIII e inícios do século XIX.

Eu não concordo com nenhuma palavra do que dizeis...

Autor: Voltaire

Eu não concordo com nenhuma palavra do que dizeis, mas eu defenderei até a morte o seu direito de dizê-la.

Sobre o autor:
François-Marie Arouet (1694-1778), mais conhecido pelo pseudônimo Voltaire, foi um escritor, ensaísta e filósofo iluminista francês, conhecido pela sua perspicácia e espirituosidade na defesa das liberdades civis, inclusive liberdade religiosa e livre comércio.

Os pessimistas têm sempre razão que perderam...

Autor: Goethe

Os pessimistas têm sempre razão que perderam.
Os otimistas têm sempre razão que ainda não conquistaram.
Todos temos a vocação de cartomante.
É preciso acreditar nas cartas que possam revelar melhor um futuro no qual a gente possa não acreditar muito.

Sobre o autor:
Goethe (1749-1832) foi um escritor alemão e pensador que também incursionou pelo campo da ciência. Como escritor, Goethe foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu, nos finais do século XVIII e inícios do século XIX.

Ei-los em pé

Autor: Jean-Paul Sartre

O que vocês esperavam que acontecesse quando tiraram a mordaça que tapava essas bocas negras? Esperavam que elas lhes lançassem louvores? E essas cabeças que seus avós e seus pais haviam dobrado à força até o chão?
O que esperavam? Que se reerguessem com adoração nos olhos?
Ei-los em pé. Homens que nos olham. Ei-los em pé. Faço votos para que vocês sintam como eu a comoção de ser visto.
Hoje, esses homens pretos nos miram e nosso olhar reentra em nossos olhos. Tochas negras iluminam o mundo e nossas cabeças brancas não passam de pequenas luminárias balançadas pelo vento.

Sobre o autor:
Jean-Paul Sartre (1905-1980), francês, iniciou na literatura clássica desde cedo. Fez seus estudos secundários em Paris, no Lycée Henri IV. Despertou seu interesse pela Filosofia, influenciado pela obra de Henry Bergson. Era um artista militante, e apoiou causas políticas de esquerda com a sua vida e a sua obra.

Trecho de "Dois Excertos de Odes"

Autor: Fernando Pessoa

Vem, Noite antiquíssima e idêntica.
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio.
(...)
Vem soleníssima,
Soleníssima e cheia
De uma oculta vontade de soluçar,
Talvez porque a alma é grande e a vida pequena,
E todos os gestos não saem do nosso corpo,
E só alcançamos onde o nosso braço chega,
E só vemos até onde chega o nosso olhar.
(...)
Vem, dolorosa,
Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos,
Das Tristezas dos Desprezados.
Mão fresca sobre a testa em febre dos Humildes.
Sabor de água sobre os lábios secos e Cansados.
Vem, lá do fundo
Do horizonte lívido,
Vem e arranca-me
Do solo de angústia e de inutilidade
Onde vicejo.
Apanha-me do meu solo, malmequer esquecido,
Folha a folha lê em mim não sei que sina
E desfolha-me para teu agrado,
Para teu agrado silencioso e fresco.
Uma folha de mim lança para o Sul,
Onde estão os mares que os Navegadores abriram;
Outra folha minha atira ao Ocidente,
Onde arde ao rubro tudo o que talvez seja o Futuro,
Que eu sem conhecer adoro;
E a outra, as outras, o resto de mim
Atira ao Oriente,
Ao Oriente donde vem tudo, o dia e a fé,
Ao Oriente pomposo e fanático e quente, 
Ao Oriente budista, bramânico, sintoísta,
Ao Oriente que tudo o que nós temos,
Que tudo o que nós não somos,
Ao Oriente onde – quem sabe? – Cristo talvez ainda hoje viva,
Onde Deus talvez exista realmente e mandando em tudo...
(...)
Vem, cuidadosa,
Vem, maternal,
Pé ante pé enfermeira antiquíssima, que te sentaste
À cabeceira dos deuses das fés já perdidas,
E sorriste porque tudo te é falso e inútil.
Vem, Noite silenciosa e extática,
Vem envolver na noite manto branco
O meu coração...

Sobre o autor:
Fernando Pessoa (1888 - 1935) nasceu em Lisboa. Considerado um dos mais importantes poetas modernistas. Criou heterônimos famosos como Alberto Caieiro, Ricardo Reis e Álvaro Campos.

Trecho de Tabacaria

Autor: Fernando Pessoa

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis.

Sobre o autor:
Fernando Pessoa (1888 - 1935) nasceu em Lisboa. Considerado um dos mais importantes poetas modernistas. Criou heterônimos famosos como Alberto Caieiro, Ricardo Reis e Álvaro Campos.

Trecho de “Mistério do Mundo”

Autor: Fernando Pessoa

Ah, não poder tirar de mim os olhos,
Os olhos da minha alma [...]
(Disso a que alma eu chamo)
Só sei de duas coisas, nelas absorto
Profundamente: eu e o universo,
O universo e o mistério e eu sentindo
O universo e o mistério, apagados
Humanidade, vida, amor, riqueza.
Oh vulgar, oh feliz!  Quem sonha mais,
Eu ou tu?  Tu que vives inconsciente,
Ignorando este horror que é existir,
Ser, perante o [profundo] pensamento
Que o não resolve em compreensão, tu
Ou eu, que analisando e discorrendo
E penetrando [...] nas essências,
Cada vez sinto mais desordenado
Meu pensamento louco e sucumbido.
Cada vez sinto mais como se eu,
Sonhando menos, consciência alerta
Fosse apenas sonhando mais profundo
 
Sobre o autor:
Fernando Pessoa (1888-1935) é considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e o seu valor é comparado ao de Camões. Durante sua discreta vida, atuou no Jornalismo, na Publicidade, no Comércio e, principalmente, na Literatura. Como poeta, desdobrou-se em diversas personagens conhecidas como heterônimos, em torno das quais se movimenta grande parte dos estudos sobre sua vida e sua obra.

Aniversário

Autor: Fernando Pessoa

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
(...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
 

Sobre o autor:
Fernando Pessoa (1888-1935) é considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e o seu valor é comparado ao de Camões. Durante sua discreta vida, atuou no Jornalismo, na Publicidade, no Comércio e, principalmente, na Literatura. Como poeta, desdobrou-se em diversas personagens conhecidas como heterônimos, em torno das quais se movimenta grande parte dos estudos sobre sua vida e sua obra.

Madrigal Melancólica

Autor: Manuel Bandeira

O que eu adoro em ti
Não é sua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza
O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Mas é o espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é tua ciência
Do coração dos homens e das coisas
O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada como teu próprio pensamento
Graça que perturba e que satisfaz
O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza
O que adoro em ti lastima-me e consola-me
O que eu adoro em ti é a vida!

Sobre o autor:
Manuel Bandeira (1886-1968) foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro.
Nascido no estado de Pernambuco, ele fez parte da geração de 22 da literatura moderna brasileira, sendo seu poema “Os Sapos” o abre-alas da Semana de Arte Moderna de 1922.

Argumentum Ornithologicum

Autor: Jorge Luís Borges

Eu fecho os olhos e vejo um bando de pássaros. A visão dura um segundo ou talvez menos; não sei quantos pássaros vi. Era definido ou indefinido o seu número? O problema envolve o da existência de Deus. Se Deus existe, o número é definido, porque Deus sabe quantos pássaros eu vi. Se Deus não existe, o número é indefinido, porque ninguém pode fazer a conta. Eu tenho certeza de que vi menos de dez pássaros e mais de um, mas não vi nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três ou dois pássaros. Eu vi um número entre dez e um, que não é nove, oito, sete, seis, etc. Esse número é inconcebível, mas é inteiro; Minha opinião ornitológica, Deus existe.

Sobre o autor:
Jorge Luís Borges (1899-1986) nasceu em Buenos Aires, Argentina. Foi um escritor, poeta, tradutor, crítico e ensaísta argentino mundialmente conhecido por seus contos e histórias curtas.

Não tenhas nada nas mãos!

Autor: Fernando Pessoa

Não tenhas nada nas mãos
nem uma memória na alma,
que quando te puserem
nas mãos o óbolo último,
ao abrirem-te as mãos
nada te cairá.
Que trono te querem dar
que átropos to não tire?
Que louros que não fanem
nos arbítrios de minos?
Que horas que te não tornem
da estatura da sombra.
Que serás quando fores
na noite e ao fim da estrada.
Colhe as flores mas larga-as,
das mãos mal as olhaste.
Senta-te ao sol.
Abdica.
E sê rei de ti próprio.
 

Sobre o autor:
Fernando Pessoa (1888 - 1935) nasceu em Lisboa. Considerado um dos mais importantes poetas modernistas. Criou heterônimos famosos como Alberto Caieiro, Ricardo Reis e Álvaro Campos.

Corai-me de Rosas!

Autor: Fernando Pessoa

Coroai-me de rosas,
Coroai-me em verdade de rosas
Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se tão cedo!
Coroai-me de rosas e de folhas breves.
E basta.

Sobre o autor:
Fernando Pessoa (1888 - 1935) nasceu em Lisboa. Considerado um dos mais importantes poetas modernistas. Criou heterônimos famosos como Alberto Caieiro, Ricardo Reis e Álvaro Campos.

Meus Amigos

Autor: Jorge Luis Borges

Meus amigos, por aqui também passou a guerra. Digo “também” porque a sentença pode ser apliacada a quase todos os lugares do planeta.
Ao lado do sexo e dos sonhos, o homem matar o homem é um dos hábitos mais antigos de nossa singular espécie.
Aqui, na América do Sul, sentimos nas muralhas e nas casas, de maneira inequívoca, a presença desse passado.
Não importam, como continuarão a não importar, as datas e os nomes próprios.
Todos seremos parte do esquecimento, a tênue substância de que é feito o universo.
 
Sobre o autor:
Jorge Luis Borges é argentino, mas sua literatura teve forte influência dos autores ingleses. Nas poesias e ensaios, a biblioteca de seu pai é uma referência constante.

O guardador de rebanhos

Autor: Fernando Pessoa

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo a roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte ...
 

Sobre o autor:
Fernando Pessoa (1888 - 1935).
A versão na íntegra deste trecho pode ser encontrada nas obras completas de Alberto Caieiro - cap. VIII ou na sua "Antologia Poética" (Lisboa : R.B.A. Editores, 1994, p.124-129).

Se todos os rios são doces...

Autor: Pablo Neruda

Se todos os rios são doces, de onde o mar tira o sal?
Como sabem as estações do ano que devem trocar de camisa?
Por que são tão lentas no inverno e tão agitadas depois?
E como as raízes sabem que devem alçar-se até a luz e saudar o ar com tantas flores e cores?
É sempre a mesma primavera que repete seu papel?
E o outono?... ele chega legalmente ou é uma estação clandestina?

Sobre o autor:
O poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), foi um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX, e cônsul do Chile na Espanha e no México. Publicou seus primeiros poemas no periódico regional, A Manhã, na cidade de Temuco.

Se o olho não fosse ensolarado...

Autor: Goethe

Se o olho não fosse ensolarado não poderia avistar o sol. Nem mais nada!... 
O órgão pelo qual compreendi o mundo é o olho!

Sobre o autor:
Goethe (1749-1832) foi um escritor alemão e pensador que também incursionou pelo campo da ciência. Como escritor, Goethe foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu, nos finais do século XVIII e inícios do século XIX.

Explicações da eternidade

Autor: José Luís Peixoto

Devagar, o tempo transforma tudo em tempo
O ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo
Os assuntos que julgamos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo
Mas por si só, o tempo não é nada
A idade de nada é nada
A eternidade não existe

Sobre o autor:
José Luís Peixoto é um escritor e dramaturgo português.
Tem publicado poesia e prosa. Seus romances podem ser encontrados em países,como, França, Itália, Espanha, Holanda, Finlândia, República Checa, Polônia, entre outros.
Peixoto recebeu várias vezes o prêmio Jovens Criadores, e em 2001 ganhou o respeitado prêmio literário José Saramago, com o romance "Nenhum olhar".
Suas obras têm sido citadas em publicações internacionais de renome, entre as quais, The Independent, El País e Le Monde. 

A pessoa certa...

Autor: Álvaro Álvares de Faria


A pessoa certa atravessa
A rua com seu terno branco,
Gravata de seda italiana.
A pessoa certa, executiva de si mesma, atravessa a praça
Com sapatos pretos, meias de náilon norte-americanas.
A pessoa certa entra no prédio, recolhe dinheiro,
Cola na pasta, pega o elevador. A pessoa certa
Atravessa o hall e chega à porta giratória. A pessoa certa põe o pé na calçada
E cai fulminada sem saber por quê.

Sobre Álvaro Álvares de Faria
Jornalista, poeta e escritor, participa de mais de 70 antologias de contos e poesia publicadas. Foi ganhador de alguns dos mais importantes prêmios literários do país com sua poesia. 

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A moça de piercing

  Francisco sentou-se em sua poltrona. Era uma curta viagem, seriam apenas 40 minutos ligando uma cidade a outra. Retirou de sua mochila um grosso volume de A República de Platão, Faltavam 5 minutos para o ônibus sair. Ao ouvir o barulho do motor do ônibus, entra uma moça no ônibus, linda, completamente linda.
   Ela se senta ao lado de Francisco, diz "Boa tarde", Francisco lhe retribui a saudação. A moça coloca os fones, inclina a sua poltrona e fecha os olhos.
   Francisco a olha para a moça de cima até os pés. Logo, já pode supor o distinto leitor, Platão deixou de ser o objeto das atenções de Francisco. Começa ele a pensar quem seria aquela garota, o que fazia da vida e até mesmo como ela seria na cama.
    Em seus devaneios, Francisco vê um piercing no nariz da moça. Ele nunca em sua vida havia namorado, ficado ou transado com uma moça de piercing. Mas algo ele sabia por intuição. "Mulheres com piercing são um estouro".
    Perdõe caro leitor pelas gírias e pensamentos conservadores de Francisco, mas ele tinha mais de 50 anos e era um homem profundamente conservador, embora nunca tenha casado e nem tido filhos. As gírias de Francisco e seu entedimento do mundo torna uma conversa entre ele e um adolescente completamente ineficaz.
    Voltando à narrativa.
    Os devaneios de Francisco começam a tomar a sua mente. Várias perguntas começaram a intrigá-lo, primeiramente se ela só teria aquele piercing ou se por acaso ela teria outros e onde seriam esse piercings, em segundo lugar ele começou a imaginar o que essa garota estaria ouvindo em seu IPOD, o que ela fazia da vida e principalmente se ela honrava a fama das mulheres de piercing.
    Ele pensava, pensava e A República de Platão ia ficando de lado.
    De repente a moça de piercing acorda e olha para Franciso.
   - Olá estranho! - disse a moça imitando uma fala da Natalie Portman no filme Close.
   - Oi - responde Francisco monossilábico.
   - Você gosta de Platão?
   - Sim - agora além de monossilábico Francisco treme e começa a suar frio.
   - Adoro esse livro, embora discorde profundamente do livro X, penso na poesia de outra maneira ... - e vai discorrendo sobre A República, mostrando entender do assunto.
   - Pera aê -  o mundo de Francisco parou para ele descer - Você lê livros?
   - E por que não leria? - pergunta a moça com espanto.
   - O que você está ouvindo? - Francisco continua o questionário.
   - Bom, você é estranho mesmo. Estou ouvindo a 8ª sinfonia de Mahler segundo movimento.
   - Hã?
   - O que eu tenho de estranho?
   - Nada - responde Francisco com a mente dando um nó - Mas então o que mais você gosta de ler?
   - Posso declamar Fernando Pessoa para você!
   - Sério?
   - Vou descer daqui antes da rodoviária e dormir em um motel na estrada, posso te ensinar "O Guardador de Rebanhos" se você quiser me acompanhar.
   Francisco emudeceu e acompanhou a moça e teve a melhor noite de sua vida.
   Muitas de suas perguntas de Francisco foram respondidas naquela noite, principalmente a sua dúvida sobre os piercings, ele descobriu mais dois um no umbigo e outro para aguçar a imaginação do leitor.
 

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Morre um Gênio! Valeu Steve!

   E lá se foi Jobs!
   Quem pensa que apenas a Apple perdeu está enganado. Todos perdemos, a humanidade perde alguém que pensava a forma que vivemos, ouvimos música, lidamos com a mídia, lemos livros, acessamos a internet e principalmente construiu uma ponte que ligou a humanidade ao universo da informática.
   Ouça este podcast e vc entenderá melhor.
   http://jovemnerd.ig.com.br/nerdcast/nerdcast-280-steve-jobs-stay-hungry-stay-foolish/

   Veja este vídeo.
   http://www.youtube.com/watch?v=JdmJEwO5qiE

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Estamos virando uma nação de imbecis!

   Chovem notícias que estão me deixando de saco cheio. Todos, repito, todos os sites de notícias noticiam sobre a tal píada do Rafinha Bastos, sobre uma propaganda com a Gisele Bündchen de roupa íntima e agora sobre um quadro do Zorra Total, que estão querendo tirar do ar.
    Estamos perdidos. Até o Zorra está sofrendo críticas por um de seus quadros!
    Já tive a infelicidade de perder meu precioso tempo vendo o referido quadro, não é tão engraçado, mas supera a média do que é produzido no programa. Porém, o quadro é de uma inocência enorme e não há o que se criticar do ponto de vista moral, legal e ético.
    Afirmam que o quadro incentiva o abuso de mulheres dentro dos metrôs. E eles estão sendo endossados por uma tal ministra que ninguém sabe o nome e é responsável por uma das pastas mais insignificantes do Planalto.
    Essa mesma tal ministra (nem me darei ao trabalho de pesquisar seu nome), também é a responsável por pedir que seja retirada a propaganda da modelo Gisele Bündchen. Segundo eles, a propaganda é sexista e diminui a mulher.
    Ora pois, a propaganda parece um desses anúncios década de 70 e é completamente incrível pensar que, em pleno 2011, uma propaganda estaria sendo censurada pelo governo. Acho que já evoluímos o suficiente para discernir machismo de humor. Segundo a dita ministra não.
     E pensar que a desgraçada da ministra recebe um baita salário vindo do nosso bolso.
     Por fim, tem a tal piada do Rafinha Bastos.
     Só digo uma coisa, se a piada fosse sobre uma pessoa pobre ou desconhecida, nada aconteceria. A Band é uma emissora de rabo preso, haja visto a punição ao humorista.
     Quem conhece e gosta do trabalho dele desde antes do CQC (meu caso), sabe que ele faz humor daquele jeito, se não queria um humorista polêmico, bastava contratar um grupo de humorístas da turma do Marco Luque (sem a menor graça) e fazer um Casseta & Planeta piorado.
      Na boa, uma emissora que valoriza uns caras que nem o Neto e demite ao vivo o Kajuru, não merece o meu respeito.

      Moral da história o Brasil está cada vez mais retrógrado e se não abrirmos nossas mentes, nosso país se tornará uma nação de imbecis.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Quem disse que precisamos de palavras

   Acabo de assistir ao melhor filme de comédia que já vi na vida.
   Tempos modernos é mais que um filme, mas uma clara leitura do mundo industrial e da sociedade de consumo. Nele Chaplin vive um de seus principais personagens, que é o Vagabundo, a cada cena Chaplin mostra em cenas bastante claras as consequências das mudanças que o mundo estava vivendo e mostra in loco a efervescência de seu tempo.
   Sem querer estragar o prazer de quem não viu o filme, limitar - me- ei  a comentar minhas impressões sobre esta obra de arte.
    Primeiramente, a de se destacar o trabalho genial da trilha sonora, que além de envolvente diz ao expectador o exato sentimento de cada cena feita. Além disso o filme possui uma fotografia extraordinária, possuindo lindos cortes de cena e uma edição perfeita.
    Não há o que se dizer o gênio de ator que foi Charles Chaplins, fico a imaginar se não foram as palavras ditas nos filmes mais modernos que estragaram tudo, talvez não. Mas essa sensação fica depois de ver a feição de Chaplin e de sua colega de cena ( e esposa na vida real) Paulette Goddard, que além de terem uma sincronia maravilhosa, atuam de modo onde as palavras são desnecessárias.  Embora Paulette posteriormente tenha atuado em filmes falados, tais como "O vento levou".
    Minhas palavras estão fora de sincronia. Somente posso dizer que "Tempos Modernos" apesar de preto e branco, apesar de ser da era do cinema mudo, é moderno, atual e sua temática servirá para reflexão da humanidade por longas eras.
    Assim surgem os clássicos e Chaplin no cinema, sem dúvida é o maior de todos.