quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Humanidade e Economia - em busca da objetivação de sua existência

   O modo econômico de uma sociedade possui suas entranhas operacionais no modo vida adotado por aquela sociedade. Pois o homem não é um ser econômico e sim um ser social, embora em todas as eras, o ser humano buscou sempre uma maneira de organizar suas trocas, essas formas sempre foram visando a manutenção e a sustentabilidade da sociedade, seja essa sociedade uma família, uma tribo e até mesmo uma sociedade organizada.
   Esse argumento se baseia em evidências antropológicas de que o ser humano possua uma natureza eternamente maximizadora e que instintivamente procuraria o lucro, visão essa, limitaria o homem a um simples agente do modo de produção capitalista. Mas esse modo de produção não nasceu com a humanidade, tão pouco é historicamente inerente sociedade.
   O indivíduo como ser social sempre se preocupa com o seu status quo dentro do grupo social que está inserido. Exemplo disto, é a diversa gama de sociedades que surgiram sem a presença do elemento riqueza, onde a noção de ganho é lucro completamente desconhecida.
    Estas sociedades criam formas de desenvolvimento de suas trocas baseados em vários elementos, como cita Karl Polanyi em seu capítulo 4 do livro A Grande Transformação, como por exemplo a reciprocidade e a redistribuição.
   Entende-se a partir dos estudos de sociedades, como a das Ilhas Trobriand, que possuem suas trocas baseadas em um sistema religioso complexo e conseguem a partir do princípio da reciprocidade gerar a subsistência abundante de todo um arquipélago. Baseando-se neste exemplo e no exemplo de outras sociedades, possível afirmar que a presença de elementos religiosos guiando o modo de desenvolvimento da economia e raramente o contrário, o homem como ser social e interdependente possui em sua estrutura ideológica as raízes que norteiam suas escolhas e aqui entram os princípios religiosos e cabalísticos. Essas formas de organizações ideológicas fornecem ao indivíduo subsídios para desenvolvimento de sua forma de enxergar sua vida em sociedade e por conseguinte a forma de reproduzir e objetivar sua existência.
  Porém seria limitado demais atribuir apenas religião este papel, mas a cultura como um todo cria laços para desenvolvimento de pares de comportamento. Esta cultura se manifesta na filosofia (que se confunde com a teologia em diversas sociedades), nas artes, na educação, no folclore, enfim em todos os elementos que constituem o espírito humano.
   A criação de laços sociais geram então uma simetria e uma centralidade nas trocas, o que irá gerar pares econômicos gerais. Estes pares se sustentam sobre a reciprocidade e sobre a forma em que os laços sociais são construídos. Quanto mais fortes os laços sociais criados, maior a efetividade dos sistemas sociais criados.
   Sendo assim o ser humano não tem, como característica natural, o desejo pela maximização, mas sim, essa característica socialmente criada por fatores sociais, que o levarão, de uma forma ou de outra a buscar e pensar capitalsticamente. E assim como o pensamento e o espírito capitalista foram criados socialmente, também podem ser socialmente destruídos, afinal, não são formas de vida naturais e sim sociais.

   Conclui-se então, por mais absurdo que aos nossos olhos capitalistas isso possa parecer, que o capitalismo, apesar de entranhado no sociedade moderna, não é e nem pode ser uma característica da alma humana, mas sim, uma escolha do ser humano.
   Escolha esta que possui suas conseqüências, e assim como tudo que o ser humano produz possui a capacidade de se tornar historicamente obsoleto.
   Como todas as sociedades e impérios historicamente construídos, o capitalismo também irá cair.

Fenômenos sociais e autonomia da esfera econômica

    Nigel Dodd em “A sociologia do dinheiro”, busca a explicação das relações sociais que fazem parte do universo das trocas monetárias e do universo objetivo do dinheiro. Ao contrário do que se normalmente pensa o dinheiro é bem mais que um facilitador de trocas, substituindo o escambo. Mas o símbolo de uma cadeia de fenômenos sociais que lhe atribuem valor e servem para além das trocas.

   O dinheiro precisa ser muito mais do que o citado acima, mas deve também ser unidade de conta e uma reserva de valor. Ou seja, o dinheiro além de ser quantificado pode também ser guardado e sendo guardado ele deve permanecer com o mesmo valor. Outra característica fundamental do dinheiro é que ele deve possuir liquidez, ou seja, deve poder ser trocado por qualquer mercadoria a qualquer momento, desde que esteja em uma unidade de valor compatível com a mercadoria a ser adquirida. O valor desse dinheiro é construído socialmente, o que faz com que o seu valor permaneça constante é uma rede que funciona na base da confiança. 

   A grosso modo, o indivíduo troca uma mercadoria por dinheiro e isto inclui sua força de trabalho, por confiar que este dinheiro possui liquidez, ou seja, possa ser trocado por bens e serviços necessários para sua  subsistência. Uma vez quebrada esta confiança, ou seja, perdas do valor líquido do dinheiro a sociedade entra em colapso social. 

   Partindo desse ponto, o mais importante no estudo do Dodd sobre o dinheiro, é entender que o dinheiro possui uma eterna função social, ou seja, a função de ponte entre as relações sociais mercadológicas, como objeto de manifestação da confiança dos indivíduos nas relações sociais mercadológicas instituídas. Ou seja, objeto de confiança do indivíduo em uma entidade anônima.

   Uma das razões das crises no sistema capitalista são mostras da quebra da confiança e da perda do valor real monetário ao longo de um determinado evento histórico. Exemplo disto é o fato da desvalorização da libra esterlina na economia européia (citado no texto) ou até mesmo a recente crise econômica internacional do subprime, que apresenta dois fatores interessantes.

   O primeiro fator foi a manifestação de uma nova forma para o dinheiro, forma essa que eram os títulos da dívida do mercado subprime. Esses títulos sofreram uma valorização extrema a princípio, atraindo investidores e criando uma espécie de “bolha”. Quando de repente não houve mais sustentabilidade para o valor desses títulos e então ocorreu a desvalorização desses papéis, houve consequentemente, uma perda de liquidez semelhante apenas ao crack de 1929. Este foi o estopim para a manifestação do segundo fator determinante para a crise.

   A falta de confiança nas instituições responsáveis pela gestão do dinheiro, o que levou os investidores a “segurar” seu dinheiro gerando um efeito o qual somente ações governamentais de socorro a essas instituições seriam capazes de salvá-las.

   Conclui-se então que todas as manifestações do dinheiro em nossa sociedade existem a partir de uma relação social de confiança, que se estabelece a partir da liquidez da moeda vigente. Sem essa relação liquidez x confiança, os modos de troca tornar-se-iam completamente descaracterizados, remontando às trocas via escambo. Daí a necessidade de se entender as questões econômicas além de uma esfera quantitativa e mercadológica, sendo este o objeto de questionamento de Ricardo Abramovay em seu texto. Afinal, segundo ele, “Toda ênfase está no conhecimento do mercado como mecanismo de formação de preços e, portanto, de alocação de recursos a partir de dos quais uma sociedade se reproduz e se desenvolve.”

   Não cabe mais a atual ciência econômica uma análise sem levar em consideração os fatores sociais que levaram os elementos a agir dessa ou daquela maneira. Segundo Ronaldo Coase “os economistas contemporâneos interessam-se apenas pela “determinação dos preços de mercado”, mas a “discussão sobre a praça de mercado (market place) desapareceu inteiramente”.
Entende-se então o papel fundamental da Sociologia Econômica como ciência fomentadora de uma análise econômica mais humanizada e mais próxima da efetiva realidade. Essa realidade que é construída não no mercado, mas além do mercado. Precisamente o mercado existe a partir de relações sociais anteriores ao mercado.
   O mercado de trocas surge como meio de objetivação das necessidades humanas, necessidades que são diversas e socialmente criadas. Logo, anterior a necessidade há uma relação social. Sendo assim, todas as trocas são mediante fenômenos sociológicos e anteriores à expectativa econômica.
    Voltando ao texto de Nigel Dodd, o dinheiro surge então como meio social de representação de uma unidade de valor que simboliza o que socialmente vale determinado item. Sendo assim, somente é possível explicar plenamente os fenômenos econômicos, tendo como base a análise da sociedade.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Fazer aniversário já não é tão legal

Francisco não conseguia dormir. As horas da madrugada passam lentamente, ele não se importa, o sono já se foi a muito tempo e a chuva cai. Sua televisão está estragada, Franciso tem apenas uma pilha de livros nunca lidos e um rádio velho.
A madrugada se adentrava, Franciso completava 30 anos de idade. Anos mal vivídos, mas não faltou esforço da parte de Francisco, ele sempre trabalhou muito, estudou, pensou sobre a vida, gastou dinheiro, guardou dinheiro, amou, desamou, odiou, esqueceu, lembrou, aprendeu e hoje, por algum motivo, está só.
O vazio no peito de Francisco era gigante, pensou em beber, mas só tinha uísque barato. Pensou em sair, mas a chuva o desanimou. Pensou em se matar, mas perdeu a coragem.
Ele resolveu então esperar. Esperou a noite inteira. Pegou no sono. Amanheceu.
O sol incomodou a retina de Francisco, ele acordou desajeitado. As costas dele doíam, dormiu muito mal e acordou pior ainda. Tinha de trabalhar. Tomou um café amargo e foi ao trabalho.
Chegando no escritório em sua mesa havia um cartão havia um cartão de "Feliz Aniversário!" da empresa para ele. Apesar disto, ninguém o abraçou.
Abriu os seus emails e duas pessoas lhe mandaram mensagens de aniversário. Francisco, respondeu agradecendo, mas sem muitas palavras. Uma lágrima escorre do rosto dele e ele se levanta.
Do alto de seus 30 anos, Franciso aprendeu a chorar!

Übermensch

Nietzsche, sem dúvida, foi um dos homens mais polêmicos de seu tempo. Ele é o autor de obras que marcaram o nosso tempo, tais como, "Assim falou Zaratrustra", "Além do bem e do mal", "Humano demasiado humano", dentre outros. Uma de suas várias contribuições foi o conceito do Übermensch, em português "além homem" ou super homem.
O Übermensch é uma ideia que tipifica o homem que vai além das paixões humanas, da compaixão, do medo e da mediocridade. Este homem seria o grau maior da experiência humana.

Segundo Nietzsche, houve um tempo que certos homens dominavam sobre os demais pela força, inteligência, coragem e liderança. Estes homens naturalmente dominavam sobre todos os demais.
Porém alguns dos homens dominados pelo Übermensch não gostaram muito da ideia. Eles criaram então uma maneira de destruir o Super Homem, os mediocres encontraram a Kriptonita.
Essa Kriptonita carrega consigo a marca do pecado e da compaixão. Essa Kriptonita pode ser manifesta através de várias vertentes, uma delas é a da religião.
Segundo Nietzsche, o cristianismo gera nas pessoas a esperança pelo porvir e a compaixão pelos pobres e fracos, além de enaltecer a simplicidade ante e a frugalidade.
Para ele o cristianismo é altamente pernicioso para a humanidade e os valores da religião impedem o homem de chegar a um nível superior de existência.
O mais interessante dessa visão é o fato de que o Übermensch não é um homem simplesmente forte ou especialmente dotado, a exemplo do super herói americano. O Übermensch é uma evolução de tudo aquilo que impede o ser humano de progredir além de suas perspectivas.
O Übermensch é um devir constante, que se enxerga como algo que está para acontecer.
Ser Übermensch não é ser super herói, mas ser anti-mediocridade e sem esperança para os que não alcançam tal condição. Nietzsche era um gênio!