quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Fenômenos sociais e autonomia da esfera econômica

    Nigel Dodd em “A sociologia do dinheiro”, busca a explicação das relações sociais que fazem parte do universo das trocas monetárias e do universo objetivo do dinheiro. Ao contrário do que se normalmente pensa o dinheiro é bem mais que um facilitador de trocas, substituindo o escambo. Mas o símbolo de uma cadeia de fenômenos sociais que lhe atribuem valor e servem para além das trocas.

   O dinheiro precisa ser muito mais do que o citado acima, mas deve também ser unidade de conta e uma reserva de valor. Ou seja, o dinheiro além de ser quantificado pode também ser guardado e sendo guardado ele deve permanecer com o mesmo valor. Outra característica fundamental do dinheiro é que ele deve possuir liquidez, ou seja, deve poder ser trocado por qualquer mercadoria a qualquer momento, desde que esteja em uma unidade de valor compatível com a mercadoria a ser adquirida. O valor desse dinheiro é construído socialmente, o que faz com que o seu valor permaneça constante é uma rede que funciona na base da confiança. 

   A grosso modo, o indivíduo troca uma mercadoria por dinheiro e isto inclui sua força de trabalho, por confiar que este dinheiro possui liquidez, ou seja, possa ser trocado por bens e serviços necessários para sua  subsistência. Uma vez quebrada esta confiança, ou seja, perdas do valor líquido do dinheiro a sociedade entra em colapso social. 

   Partindo desse ponto, o mais importante no estudo do Dodd sobre o dinheiro, é entender que o dinheiro possui uma eterna função social, ou seja, a função de ponte entre as relações sociais mercadológicas, como objeto de manifestação da confiança dos indivíduos nas relações sociais mercadológicas instituídas. Ou seja, objeto de confiança do indivíduo em uma entidade anônima.

   Uma das razões das crises no sistema capitalista são mostras da quebra da confiança e da perda do valor real monetário ao longo de um determinado evento histórico. Exemplo disto é o fato da desvalorização da libra esterlina na economia européia (citado no texto) ou até mesmo a recente crise econômica internacional do subprime, que apresenta dois fatores interessantes.

   O primeiro fator foi a manifestação de uma nova forma para o dinheiro, forma essa que eram os títulos da dívida do mercado subprime. Esses títulos sofreram uma valorização extrema a princípio, atraindo investidores e criando uma espécie de “bolha”. Quando de repente não houve mais sustentabilidade para o valor desses títulos e então ocorreu a desvalorização desses papéis, houve consequentemente, uma perda de liquidez semelhante apenas ao crack de 1929. Este foi o estopim para a manifestação do segundo fator determinante para a crise.

   A falta de confiança nas instituições responsáveis pela gestão do dinheiro, o que levou os investidores a “segurar” seu dinheiro gerando um efeito o qual somente ações governamentais de socorro a essas instituições seriam capazes de salvá-las.

   Conclui-se então que todas as manifestações do dinheiro em nossa sociedade existem a partir de uma relação social de confiança, que se estabelece a partir da liquidez da moeda vigente. Sem essa relação liquidez x confiança, os modos de troca tornar-se-iam completamente descaracterizados, remontando às trocas via escambo. Daí a necessidade de se entender as questões econômicas além de uma esfera quantitativa e mercadológica, sendo este o objeto de questionamento de Ricardo Abramovay em seu texto. Afinal, segundo ele, “Toda ênfase está no conhecimento do mercado como mecanismo de formação de preços e, portanto, de alocação de recursos a partir de dos quais uma sociedade se reproduz e se desenvolve.”

   Não cabe mais a atual ciência econômica uma análise sem levar em consideração os fatores sociais que levaram os elementos a agir dessa ou daquela maneira. Segundo Ronaldo Coase “os economistas contemporâneos interessam-se apenas pela “determinação dos preços de mercado”, mas a “discussão sobre a praça de mercado (market place) desapareceu inteiramente”.
Entende-se então o papel fundamental da Sociologia Econômica como ciência fomentadora de uma análise econômica mais humanizada e mais próxima da efetiva realidade. Essa realidade que é construída não no mercado, mas além do mercado. Precisamente o mercado existe a partir de relações sociais anteriores ao mercado.
   O mercado de trocas surge como meio de objetivação das necessidades humanas, necessidades que são diversas e socialmente criadas. Logo, anterior a necessidade há uma relação social. Sendo assim, todas as trocas são mediante fenômenos sociológicos e anteriores à expectativa econômica.
    Voltando ao texto de Nigel Dodd, o dinheiro surge então como meio social de representação de uma unidade de valor que simboliza o que socialmente vale determinado item. Sendo assim, somente é possível explicar plenamente os fenômenos econômicos, tendo como base a análise da sociedade.

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