Nigel
 Dodd em “A sociologia do dinheiro”, busca a explicação das relações 
sociais que fazem parte do universo das trocas monetárias e do universo 
objetivo do dinheiro. Ao 
contrário do que se normalmente pensa o dinheiro é bem mais que um 
facilitador de trocas, substituindo o escambo. Mas o símbolo de uma 
cadeia de fenômenos sociais que lhe atribuem valor e servem para além 
das trocas.
   O 
dinheiro precisa ser muito mais do que o citado acima, mas deve também 
ser unidade de conta e uma reserva de valor. Ou seja, o dinheiro além de
 ser quantificado pode também ser guardado e sendo guardado ele deve 
permanecer com o mesmo valor. Outra característica fundamental do 
dinheiro é que ele deve possuir liquidez, ou seja, deve poder ser 
trocado por qualquer mercadoria a qualquer momento, desde que esteja em 
uma unidade de valor compatível com a mercadoria a ser adquirida. O 
valor desse dinheiro é construído socialmente, o que faz com que o seu 
valor permaneça constante é uma rede que funciona na base da confiança. 
   A 
grosso modo, o indivíduo troca uma mercadoria por dinheiro e isto inclui
 sua força de trabalho, por confiar que este dinheiro possui liquidez, 
ou seja, possa ser trocado por bens e serviços necessários para sua  
subsistência. Uma vez quebrada esta confiança, ou seja, perdas do valor 
líquido do dinheiro a sociedade entra em colapso social. 
   Partindo
 desse ponto, o mais importante no estudo do Dodd sobre o dinheiro, é 
entender que o dinheiro possui uma eterna função social, ou seja, a 
função de ponte entre as relações sociais mercadológicas, como objeto de
 manifestação da confiança dos indivíduos nas relações sociais 
mercadológicas instituídas. Ou seja, objeto de confiança do indivíduo em
 uma entidade anônima.
   Uma 
das razões das crises no sistema capitalista são mostras da quebra da 
confiança e da perda do valor real monetário ao longo de um determinado 
evento histórico. Exemplo disto é o fato da desvalorização da libra 
esterlina na economia européia (citado no texto) ou até mesmo a recente 
crise econômica internacional do subprime, que apresenta dois fatores 
interessantes.
   O 
primeiro fator foi a manifestação de uma nova forma para o dinheiro, 
forma essa que eram os títulos da dívida do mercado subprime. Esses 
títulos sofreram uma valorização extrema a princípio, atraindo 
investidores e criando uma espécie de “bolha”. Quando de repente não 
houve mais sustentabilidade para o valor desses títulos e então ocorreu a
 desvalorização desses papéis, houve consequentemente, uma perda de 
liquidez semelhante apenas ao crack de 1929. Este foi o estopim para a 
manifestação do segundo fator determinante para a crise.
   A 
falta de confiança nas instituições responsáveis pela gestão do 
dinheiro, o que levou os investidores a “segurar” seu dinheiro gerando 
um efeito o qual somente ações governamentais de socorro a essas 
instituições seriam capazes de salvá-las.
   Conclui-se
 então que todas as manifestações do dinheiro em nossa sociedade existem
 a partir de uma relação social de confiança, que se estabelece a partir
 da liquidez da moeda vigente. Sem essa relação liquidez x confiança, os
 modos de troca tornar-se-iam completamente descaracterizados, 
remontando às trocas via escambo. Daí a
 necessidade de se entender as questões econômicas além de uma esfera 
quantitativa e mercadológica, sendo este o objeto de questionamento de 
Ricardo Abramovay em seu texto. Afinal, segundo ele, “Toda ênfase está 
no conhecimento do mercado como mecanismo de formação de preços e, 
portanto, de alocação de recursos a partir de dos quais uma sociedade se
 reproduz e se desenvolve.”
   Não 
cabe mais a atual ciência econômica uma análise sem levar em 
consideração os fatores sociais que levaram os elementos a agir dessa ou
 daquela maneira. Segundo Ronaldo Coase “os economistas contemporâneos 
interessam-se apenas pela “determinação dos preços de mercado”, mas a 
“discussão sobre a praça de mercado (market place) desapareceu 
inteiramente”.
Entende-se
 então o papel fundamental da Sociologia Econômica como ciência 
fomentadora de uma análise econômica mais humanizada e mais próxima da 
efetiva realidade. Essa realidade que é construída não no mercado, mas 
além do mercado. Precisamente o mercado existe a partir de relações 
sociais anteriores ao mercado.
   O 
mercado de trocas surge como meio de objetivação das necessidades 
humanas, necessidades que são diversas e socialmente criadas. Logo, 
anterior a necessidade há uma relação social. Sendo assim, todas as 
trocas são mediante fenômenos sociológicos e anteriores à expectativa 
econômica. 
    Voltando
 ao texto de Nigel Dodd, o dinheiro surge então como meio social de 
representação de uma unidade de valor que simboliza o que socialmente 
vale determinado item. Sendo assim, somente é possível explicar plenamente os fenômenos econômicos, tendo como base a análise da sociedade. 
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