O modo econômico de uma sociedade possui suas entranhas operacionais no 
modo vida adotado por aquela sociedade. Pois o homem não é um ser econômico
 e sim um ser social, embora em todas as eras, o ser humano buscou 
sempre uma maneira de organizar suas trocas, essas formas sempre foram 
visando a manutenção e a sustentabilidade da sociedade, seja essa 
sociedade uma família, uma tribo e até mesmo uma sociedade organizada.
   Esse argumento se baseia em evidências antropológicas de que o ser 
humano possua uma natureza eternamente maximizadora e que 
instintivamente procuraria o lucro, visão essa, limitaria o homem a um simples agente do modo de produção 
capitalista. Mas esse modo de produção não nasceu com a humanidade, tão 
pouco é historicamente inerente sociedade.
   O indivíduo como ser social sempre se preocupa com o seu status quo 
dentro do grupo social que está inserido. Exemplo disto, é a diversa 
gama de sociedades que surgiram sem a presença do elemento riqueza, onde
 a noção de ganho é lucro completamente desconhecida.
    Estas sociedades criam formas de desenvolvimento de suas trocas baseados
 em vários elementos, como cita Karl Polanyi em seu capítulo 4 do livro A
 Grande Transformação, como por exemplo a reciprocidade e a 
redistribuição.
   Entende-se a partir dos estudos de sociedades, como a das Ilhas 
Trobriand, que possuem suas trocas baseadas em um sistema religioso 
complexo e conseguem a partir do princípio da reciprocidade gerar a 
subsistência abundante de todo um arquipélago.
Baseando-se neste exemplo e no exemplo de outras sociedades, possível 
afirmar que a presença de elementos religiosos guiando o modo de 
desenvolvimento da economia e raramente o contrário, o homem como ser 
social e interdependente possui em sua estrutura ideológica as raízes 
que norteiam suas escolhas e aqui entram os princípios religiosos e 
cabalísticos. Essas formas de organizações ideológicas fornecem ao 
indivíduo subsídios para desenvolvimento de sua forma de enxergar sua 
vida em sociedade e por conseguinte a forma de reproduzir e objetivar 
sua existência.
  Porém seria limitado demais atribuir apenas religião este papel, mas a 
cultura como um todo cria laços para desenvolvimento de pares de 
comportamento. Esta cultura se manifesta na filosofia (que se confunde com a teologia 
em diversas sociedades), nas artes, na educação, no folclore, enfim em 
todos os elementos que constituem o espírito humano.
   A criação de laços sociais geram então uma simetria e uma centralidade 
nas trocas, o que irá gerar pares econômicos gerais. Estes pares se 
sustentam sobre a reciprocidade e sobre a forma em que os laços sociais 
são construídos. Quanto mais fortes os laços sociais criados, maior a 
efetividade dos sistemas sociais criados.
   Sendo assim o ser humano não tem, como característica natural, o desejo 
pela maximização, mas sim, essa característica socialmente criada por 
fatores sociais, que o levarão, de uma forma ou de outra a buscar e 
pensar capitalsticamente. E assim como o pensamento e o espírito capitalista foram criados 
socialmente, também podem ser socialmente destruídos, afinal, não são 
formas de vida naturais e sim sociais. 
   Conclui-se então, por mais absurdo que aos nossos olhos capitalistas 
isso possa parecer, que o capitalismo, apesar de entranhado no sociedade
 moderna, não é e nem pode ser uma característica da alma humana, mas 
sim, uma escolha do ser humano.
   Escolha esta que possui suas conseqüências, e assim como tudo que o ser 
humano produz possui a capacidade de se tornar historicamente obsoleto.
   Como todas as sociedades e impérios historicamente construídos, o capitalismo também irá cair.
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