segunda-feira, 28 de julho de 2014

A Engenharia Genética e Ética da nossa não aceitação

      O filósofo Michael J. Sandel em seu livro " Contra a perfeição" discute uma ampla gama de assuntos atinentes sobre as questões ligadas à sacralidade da vida, pesquisas com células tronco, clonagem, eugenias, razões filosóficas para o entendimento do status de um embrião e possíveis regulações estatais sobre esta matéria, porém uma questão discutida pelo renomado e popular professor de Harvard me chama atenção em especial e a mesma dá título a este texto, que seria a Ética da nossa não aceitação.
      Ao traçar as origens filosóficas do pensamento eugênico, Sandel mostra que existem novas eugenias, que possuem por sua vez, um verniz menos autoritário e injustificável como a que julgava os judeus e negros africanos uma sub-raça, mas que se fia em um argumento ligado a uma suposta melhoria de nossas potencialidades.
      Sendo assim, criaríamos um mundo sem pessoas de baixo QI, baixa estatura, feias e sem um diverso número de doenças.
       Quanto à questão medicinal, não há dúvidas que seria um enorme bem para a humanidade se pudermos livrar nossos filhos e netos de um sem número de doenças congênitas ou que podem ser potencializadas mediante transmissão genética, mas o problema humano de lidar com o inesperado e com o fracasso acabam por criar um problema onde poderia residir a solução.
        Vivemos um tempo onde a derrota é inaceitável desde de tenra idade. Não sou contra a iniciação esportiva na infância, tão pouco penso que um certo ambiente competitivo faça mal a uma criança, afinal toda criança precisa aprender lições como disciplina, trabalho em equipe, meritocracia e sanidade do corpo, mediante a prática de exercícios físicos.
          O grande problema está na cabeça dos pais que não suportam ver o filho ostentando a medalha de prata, não suportam o fato de que ele não é o melhor aluno da turma e tão pouco admitem que sua menina não esteja enquadrada nos mais altos padrões de beleza de nossos tempos artificiais.
          O cerne do debate é que a Engenharia Genética só traz benefícios em uma sociedade que aceita as diferenças, entende que a vida é uma dádiva maravilhosa justamente porque é imprevisível e que, de fato, haverão crianças mais belas que meus filhos, nem por isso deixarei de amá-los com todo o meu coração, haverão crianças mais inteligentes, mas posso valorizar cada um de seus progressos e que haverão alunos melhores que ele na turma e nem por isso deixarei de ter orgulho de seus feitos.
          Amar incondicionalmente é o que pode tornar o ser humano melhor que deus, pois deus criou o mundo e ama o ser criado, nós apenas amamos aquele que vem ao nosso encontro. Não se pode esperar um futuro muito promissor em um mundo onde pais projetam filhos como se fossem Deus e filhos não passam de uma manifestação dos limites e frustrações de seus país.