quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Madrigal Melancólica

Autor: Manuel Bandeira

O que eu adoro em ti
Não é sua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza
O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Mas é o espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é tua ciência
Do coração dos homens e das coisas
O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada como teu próprio pensamento
Graça que perturba e que satisfaz
O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza
O que adoro em ti lastima-me e consola-me
O que eu adoro em ti é a vida!

Sobre o autor:
Manuel Bandeira (1886-1968) foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro.
Nascido no estado de Pernambuco, ele fez parte da geração de 22 da literatura moderna brasileira, sendo seu poema “Os Sapos” o abre-alas da Semana de Arte Moderna de 1922.

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