quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Trecho de “Mistério do Mundo”

Autor: Fernando Pessoa

Ah, não poder tirar de mim os olhos,
Os olhos da minha alma [...]
(Disso a que alma eu chamo)
Só sei de duas coisas, nelas absorto
Profundamente: eu e o universo,
O universo e o mistério e eu sentindo
O universo e o mistério, apagados
Humanidade, vida, amor, riqueza.
Oh vulgar, oh feliz!  Quem sonha mais,
Eu ou tu?  Tu que vives inconsciente,
Ignorando este horror que é existir,
Ser, perante o [profundo] pensamento
Que o não resolve em compreensão, tu
Ou eu, que analisando e discorrendo
E penetrando [...] nas essências,
Cada vez sinto mais desordenado
Meu pensamento louco e sucumbido.
Cada vez sinto mais como se eu,
Sonhando menos, consciência alerta
Fosse apenas sonhando mais profundo
 
Sobre o autor:
Fernando Pessoa (1888-1935) é considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e o seu valor é comparado ao de Camões. Durante sua discreta vida, atuou no Jornalismo, na Publicidade, no Comércio e, principalmente, na Literatura. Como poeta, desdobrou-se em diversas personagens conhecidas como heterônimos, em torno das quais se movimenta grande parte dos estudos sobre sua vida e sua obra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário