terça-feira, 19 de agosto de 2014

A cama na varanda pode ser um problema

      Ao terminar o excelente livro "A cama na varanda" da psicóloga Regina Navarro Lins, entrei em um profundo exercício de entender vários pontos postos pela autora.
     No livro há uma narrativa sobre a origem da família nuclear e do amor enquanto elemento cultural desenvolvido, onde a fidelidade conjugal seria uma espécie de prisão criada por uma sociedade opressora e patriarcal e que esta estrutura é a grande culpada no que diz respeito à infelicidade conjugal tanto de homens, quanto de mulheres. Pensando neste viés a autora enxerga que a estrutura patriarcal está em ruínas e que novas formas de viver os relacionamentos estão surgindo com força tal que a família nuclear está a ponto de ir a pique, que a monogamia é uma prisão e o amor romântico não passa de um conceito.
     Gostei do livro, a reflexão é honesta e a argumentação coerente, além de trazer consigo uma série de informações atinentes à uma vida sexual satisfatória, aliás a autora, enfatiza muito a honestidade das pessoas em um relacionamento, logo a infidelidade conjugal é algo abominável, pois engana ao seu parceiro e o coloca em situação de uma falsa ilusão de estabilidade. A autora coloca exemplos de sua vida enquanto terapeuta, o que enriquece e torna fluida toda a narrativa.
      Mas nem tudo na vida é perfeito e nem toda ideia deve ser levada à última instância. Digo isto por ver que nem todos estamos prontos para uma concepção de família diferente da já existente, não falo por puritanismo e nem por motivos reacionários, falo por uma observação fundada em um pequeno pensador, ainda irrelevante é verdade, que vive no interior mineiro e vem de uma família muito católica e conservadora e traz consigo um arcabouço de uma vivência religiosa bastante intensa no universo protestante. Este pensador sou eu.
        Minha visão parte de uma observação simples, nem todas as mulheres querem ser poliamoristas como faz pensar a autora e nem todos os homens se casam por precisar de uma substituta para sua mãe. Sei que encontraremos uma vasta literatura e certamente o leitor haverá de conhecer exemplos que discordam do que disse, mas levanto que as generalizações são perigosas e quase sempre incorrem em erro.
        Exemplo disto, está na ideia de que todos somos bissexuais in natura, logo posso vir a me apaixonar por um homem a qualquer momento ou ver minha namorada encantada com sua colega de trabalho e vê-la assumir um relacionamento lésbico com ela. O que, convenhamos, ocorre em muitos casos, mas não se tornou uma regra da natureza e, diga-se de passagem, nunca foi uma lei natural, tal qual a gravidade.
         Precisamos sim arejar nossas mentes e nossos relacionamentos, mas os novos relacionamentos e as novas formas de família e amor citados pela autora, trarão problemas novos e que apenas quem possui muita estabilidade emocional será capaz de resolver.
          Por fim, a autora pensa que destituindo a estrutura patriarcal teremos um final feliz.. Sou cético e pessimista, chego a ser um dramático rodriguiano nesse momento, pois penso que apenas lidaremos com uma série de novos desejos, fetiches e frustrações que não tínhamos antes e a ausência de limites nas relações pode levar a todos nós a pedir ajuda a alguém que possa nos chamar de vagabundos, apontar o dedo para nossas vergonhas e nos fazer sentir novas culpas. Lugar de cama é no quarto, na varanda prefiro uma rede.

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