segunda-feira, 21 de abril de 2014

Breaking Bad e a nossa essência

     Heisenberg, este é o alter ego do personagem que me deixou aterrado pelos últimos dias. Quem viu Breaking Bad entende o que quero dizer. Walter H. White, personagem principal do seriado, vive uma série de experiências que modificam de forma substancial e definitiva a alma de um simples professor colegial em um gênio do crime. Mr. White larga todos os limites éticos e morais possíveis e sempre utiliza-se do expediente das desculpas de que "os fins justificam os meios". A genial série americana me deixou estarrecido por várias razões, primeiramente éticas, posteriormente estéticas.
     Começando pelo menos importante, a série possui um roteiro impecável, fotografia sensacional, direção acima da média do que é visto na TV e atores geniais, o olhar de Bryan Cranston, sua impostação de voz e a construção de personagem feita pelo mesmo é algo muito fora do normal para os padrões televisivos, isto sem contar na espetacular atuação de Aaron Paul e o hilariante personagem Saul, feito pelo ótimo Bob Odenkirk.
      Falando do que de fato interessa a mim, até porque dos itens anteriores entendo pouquíssimo, os episódios de BB mostram uma face de todos nós que não gostamos de admitir, que todos interpretamos uma série de personagens perante a vida, somente não somos corajosos para nos assumir perante esta triste realidade.
      Somos atores, não necessariamente dirigimos ou roteirizamos nossos personagens, mas interpretamos, quase ninguém conhece quem somos e os que julgam conhecer, conhecem apenas o que queremos que conheçam.
       Essa multidão de personagens se manifestam aos poucos e quebram a idealização de que somos essencialmente bons ou essencialmente maus, apenas comprova que somos o que precisamos ser ou que escolhemos ser dentro de nossas poucas opções ou interesses.
       Vê-se a santa Skyler violando todos os códigos morais, a problemática Marie vivendo uma série medonha de fugas existenciais, um Gus filantropo psicopata, um Mike avôzinho assassino, um Saul sem o menor senso ético da profissão e redundantemente falando um Walter White que deixa uma vida de professor dedicado para se tornar um monstro, que possui nada mais que compreensão linguística dos sentimentos humanos e uma total frieza moral na prática.
       Todos podemos nos transformar em Heisenberg, basta que haja ocasião, basta demanda, basta ocasião. Sábio foi quem disse que a ocasião faz o ladrão.

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