quarta-feira, 6 de março de 2013

Carta aberta a uma musa


           Pois é! Queria te escrever um poema, mas na minha completa inaptidão em fazê-lo, resolvi ser um poeta sem versos. O que parece loucura, um desvario, um devaneio ou uma contradição, mas, se fosse descrevê-la em versos, soaria por demais piegas ou exageradamente romântico. Portanto, escolho a racionalidade da narrativa, a frieza da construção frasal, os períodos e predicados mais apropriados, pois, se é esta a parte que me cabe no latifúndio da poesia, que nela eu permaneça a poetizar sem versos, métricas, rimas ou concretismos.
           Ver você é uma experiência existencial. Seu sorriso perpassa a lógica existente na construção anatômica das feições e, principalmente, qualquer semblante soturno que lhe apareça. A essência do homem que lhe contempla certamente se transforma, faz de sua existência algo novo e renovado. Faz da ausência de sentido, o maior sentido de todos. Constrói uma contrariedade coerente e contraditória. Seu sorriso me faz ter uma crise existencial e vê-lo é uma mística de mais alta beleza.
          Para compor esta obra da criação há uma pinta. Esta pinta!
          Estrategicamente próxima à boca, faz da Monroe uma amadora em matéria de sedução automática.
Sim, sedução automática! Termo por mim inventado que significa:
“Você não precisa fazer mais nada, já estou de quatro por você! Já estou lambendo o chão! Já estou beijando os teus sapatos! Já estou entregue aos teus braços da forma mais exagerada que puder imaginar!”
          Perdoe-me o excesso de exclamações no texto, mas é que elas expressam o meu estado de assombro diante de tanta beleza.
           Mas há algo que não falei ainda e que resplandece em ti mais que tua beleza... O brilho dos teus olhos!
           Eles possuem um brilho raro, são tal qual farol em plena noite escura. Basta te olhar e se encantar com tamanho brilho, tamanho magnetismo, tamanha força de existir!
           Você é apaixonante, mas não estou apaixonado.
           Estar apaixonado por você é um estágio tão sublime que não sou digno de alcançar. Seria um eterno retorno daquilo que não poderia ser, ou, simplesmente, não seria.
Estar apaixonado por você seria olhar para dentro de mim e buscar por algo que não possuo. Seria lutar pelo infinito, sendo finito. Pela completude, sendo incompleto. Pelo sublime sendo, por demais, limitado.
Não sei se algum homem se dignou a lhe escrever um poema. Não dê crédito aos que tentarem. Somente os gênios, conseguem por em versos a magnificência que és e que em prosa tentei sintetizar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário