terça-feira, 2 de outubro de 2012

Só o corpo a corpo fala

Xico Sá


O melhor e mais revelador episódio de uma campanha é quando a base tenta humanizar o candidato ou colocá-lo à prova dos normais. Neste perigo da hora, o marqueteiro perde o controle. O improviso, raro momento em que o eleitor está no comando, prevalece sobre todas as armações.
O bêbado de campanha, por exemplo, é um clássico. Ele surge do nada, dá uma gravata apartidária em qualquer autoridade, descola o da pinga com os assessores e, geralmente, grita, em brado retumbante, o nome de um concorrente na disputa.
Memória eleitoral rápida: o ex-governador Covas foi o político que testemunhei com o radar mais aguçado para driblar, de longe, um pé de cana. Era o seu único temor no corpo a corpo. O sangue espanhol fervia nessa hora.
A beijoqueira ou a periguete eleitoral também é um grande teste. Repare no que aconteceu com Serra em uma caminhada pelo centro de SP. Apenas uma tarada, diria o cronista Nelson Rodrigues, é capaz de humanizar uma eleição. Ela cumpriu lindamente a sua vontade. Eros agradece, perdeu Tânatos, mais uma vez.
Em uma eleição, só o corpo a corpo fala. Uma coisa é o Chalita vender milhões de livros de autoajuda com uma pegada filosófica de Grécia Antiga. Outra coisa é enfrentar uma eleitora cheia de amor platônico tentando convencê-lo a uma transa homérica, como sugerido no poema do Eduardo Kac.
No corpo a corpo, por mais regulado, só a base manda. O moleque pega a bola, põe na marca do pênalti e ordena: Serra, bate o pênalti. Faz uma embaixadinha para ver se você manja, diz o outro para o Russomanno. Só dou o meu voto, Haddad, se você seguir o Lula no meu Corinthians. Você tem que dar um jeito no Palmeiras, Soninha, não podemos cair para a Segundona.
O tucano chutou, mas só o sapato foi parar no fundo das redes. O cara do PRB quase quebra as câmeras dos fotógrafos, ontem, na Vila da Paz, zona sul, ao tentar mostrar que sabe. O petista continuará são-paulino depois do pleito --homem que é homem muda de sexo, mas não de time. A candidata do PPS, militante da crônica esportiva, tem dado sorte como torcedora.
É, amigo, na rua quem dá bola é o eleitor. Raro momento em que a base manda na mentira do marketing.

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