sexta-feira, 26 de outubro de 2012

RESISTÊNCIA AO ELOGIO

(Fabrício Carpinejar)

Generosidade não é oferecer presentes, mas saber recebê-los.

Quando alguém nos dá algo que a gente queria muito, sabe o que falamos?
— Não precisava.

Por que mentimos?

Deveríamos dizer:
— Precisava sim, estava esperando tanto.

Isso demonstra uma dificuldade geral para ganhar elogios. Uma incompetência para ser feliz direto, de primeira, sem coitadismo, sempre temos que fazer charme e beiço e fingir que somos desimportantes.

Não acreditamos no elogio. Pensamos que é interesse, oportunismo, falsidade, exagero.

Se uma estranha recebe meu elogio, já julga que é cantada.

Se a namorada recebe meu elogio, já julga que quero sexo.

Se o filho me elogia de repente, eu já julgo que é pedido de dinheiro.

Mania de menosprezar o amor simplesmente porque não nos sentimos merecedores do amor.

As mulheres são as rainhas da culpa. Quer ver?

Encontro uma amiga no elevador e comento despretensiosamente:

— Que camisa linda!

Em vez de agradecer, ela vai se desculpar:
— Comprei barato numa liquidação.

Repare, eu não perguntei nada. Mas ela continua se justificando:
— Foi na loja Antonia Guedes, ali no Moinhos de Vento.

Ela é capaz de me dar o endereço, informar o nome da vendedora, o preço, tudo para não se sentir linda.

Por isso, hoje aceite o elogio com sinceridade. E diga apenas: obrigado, obrigado, obrigado!

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