terça-feira, 23 de julho de 2013

Ética protestante e a ideologia do atraso brasileiro

O trabalho de Jessé de Souza busca uma análise do atraso brasileiro, tanto em sua economia como em suas instituições partindo da visão weberiana de modernidade ocidental que tem como base o ascetismo protestante calvinista. Por fim, busca também o entendimento das razões do atraso brasileiro pelo entendimento de suas raízes históricas coloniais.
O pensamento weberiano é um bom ponto de partida para essa análise, pois soube como poucos, estabelecer bases solidas de uma teoria onde é possível compreender uma estrutura social em relação à fenomenologia econômica. Pois seria o fenômeno religioso um profundo influenciador das ações humanas, bem como seu processo de racionalização. O que, indubitavelmente, influenciaria no costume, no trabalho e na moralidade.
Para Weber, a sociedade ocidental houvera atingido um ponto de mais alto da racionalidade, tendo como base a ação racional, tendo o protestantismo ascético sua manifestação principal no âmbito da religiosidade. A sociedade ocidental dera um passo adiante, superando o animismo e criando um grau maior de abstração em relação às outras sociedades de seu tempo.
Essa nova concepção religiosa dera mais ênfase à ética que aos rituais, criando um tipo religioso de leis e moral mais próximas de uma lei prática e cotidiana. O que faria dos indivíduos mais racionais e mais comprometidos com a vida a vida terrena.
Este indivíduo se preocuparia mais com ações a médio e longo prazo e menos com o prazer imediato, mais preocupado com suas relações com as pessoas e menos com suas relações com divindade.
Em seu livro A ética protestante e o espírito do capitalismo, Weber identifica duas formas de protestantismo, o emocional e o outro racionalista e individualista. Este último teria predominado na Inglaterra e nos Países Baixos. Para ele nem a revolução francesa que causou tanto alvoroço, teria mudado tanto como a mudança de mente causada pela reforma protestante calvinista.

1- O protestante e a nossa ideologia do atraso

      No final do século XIX, o Brasil dava seus primeiros passos em direção a uma formulação de uma sociedade e o EUA caminhava para se tornar uma das maiores potencias do mundo.
     Qual seria a razão dessa disparidade?
     Segundo Sergio Buarque de Holanda, nossas raízes culturais são o oposto à cultura protestante. A mentalidade brasileira é avessa ao associativismo racional típico dos protestantes. A cultura brasileira teria herdado um individualismo amoral, herdado da colonização.
    “A falta de vínculo associativo horizontal, que possibilite as constelações de interesses de longo prazo, passa a ser percebida como a causa fundamental do nosso atraso social.” (Sergio Buarque de Holanda – As Raízes do Brasil).
     O filho da nossa colonização teria uma mentalidade, personalista, que busca prazeres imediatos e que não pensam na comunidade e em atitudes de longo prazo. Ao contrário do protestante colonizador ingleses, que busca o bem comunitário e pensa em longo prazo.
    Porém existem contradições na tradição protestante, segundo Moog a superioridade econômica protestante ascética não implica em superioridade em todos os aspectos da vida. Ele vê que existe uma incompatibilidade entre puritanismo e fraternidade, exemplo disto seria o racismo explícito da cultura yankee. Há um reducionismo moral, como a redução de todas as qualidades a uma lógica quantitativa.
   Portanto a idéia de atraso pode ser relativizada, pois as exigências de igualdade e bem-estar social transcendem o nível econômico. As necessidades de igualdade econômica têm sido somadas à necessidade de reconhecimento de diferenças, reconhecimento este que vai além de cotas e benefícios monetários como compensação das agruras vividas, mas sim um questionamento sobre o modelo de desenvolvimento escolhido por nossa sociedade.
   É fato que o país possui enormes contradições e muitas dessas contradições possuem conexão com a formação da sociedade e sua colonização. Mas, também é fato que desenvolvimento capitalista não pode ser o absoluto indicador do desenvolvimento de um país.

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