segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Trecho de “Mistério do Mundo”

Autor: Fernando Pessoa


Ah, não poder tirar de mim os olhos, 
Os olhos da minha alma [...] 
(Disso a que alma eu chamo) 
Só sei de duas coisas, nelas absorto 
Profundamente: eu e o universo, 
O universo e o mistério e eu sentindo 
O universo e o mistério, apagados 
Humanidade, vida, amor, riqueza. 
Oh vulgar, oh feliz!  Quem sonha mais, 
Eu ou tu?  Tu que vives inconsciente, 
Ignorando este horror que é existir, 
Ser, perante o [profundo] pensamento 
Que o não resolve em compreensão, tu 
Ou eu, que analisando e discorrendo 
E penetrando [...] nas essências, 
Cada vez sinto mais desordenado 
Meu pensamento louco e sucumbido. 
Cada vez sinto mais como se eu, 
Sonhando menos, consciência alerta 
Fosse apenas sonhando mais profundo

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