segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Quero um bêbado como meu biógrafo

      Ouvi esta frase hoje, me parece ser do Beckett, foi o Abujamra que falou. Pensei nisto, " o que é a vida!" Somos uma experiência que deu errado. Somos um grande vitupério. Está decidido, ninguém senão os bêbados receberão o direito de falar de mim.
       Nossos racionalismos estranhos fazem da nossa sociedade um grupo de adolescenets brochas liberais. As pessoas que exigiram liberdade, hoje a tem e a enchem de cerveja para ter a coragem de usá-la.
       Quero um biógrafo bêbado. Somente ele terá condições de me entender melhor!
        Somente um bêbado pode entender minha tranquilidade diante das obrigações sexuais impostas pela modernidade. Somente um bêbado poderá entender porque sou feliz por viver uma vida quase como a de um frade e me achar sortudo por ter escolhido se assim. Somente um bêbado poderá entender meus sentimentos durante o carnaval e poderá expressar com as palavras certas que conduzem a minha sensibilidade.
         Os bêbados são os mais adequados para falar sobre mim, seus sentidos não estarão impregnados de uma linguagem influenciada pelo saber dos gregos, pela lógica de Marx ou pela tentativa filosófica de medir o homem.
        A língua dos bêbados não está cheia dos defeitos que lucidamente conhecemos.
        Gosto dos bêbados porque nada do que eles dizem faz sentido, são uns idiotas e podem ser incoerentes o quanto quiser pondo a culpa na bebida.
         Não bebo, detesto quem bebe demais. Acho todos uns imbecis ou uns doentes e, justamente por isso, quero que um deles seja o meu biógrafo.

       
   

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