Chovia muito!
Não ter um carro nessas horas é o fim de toda e qualquer tentativa de um programa minimamente decente com a namorada, mas a vida pode nos dar grandes lições.
Enquanto contemplávamos a beleza um do outro, indubitavelmente ela é mais bela que eu, surgiu a maldição da fome. Sentimo-nos necessitados de resolver este problema contingencial.
Eu que havia me programado para gastar uma grana em dos mais chiques restaurantes da cidade, tive que conter meu impulso, visto que a logística da chuva seria por demais cruel conosco, além do mais surgiu em nós um espírito de lua de mel e não era possível nos deslocarmos de seu quarto sem sentir um vazio que só preenchemos lá dentro.
Surge então a sua voz, desbravando o delicioso silêncio que dominava, de forma tão deliciosa, nossos momentos de amor.
- Tem um risoto que fiz ontem guardado na geladeira! Não sei se está bom.
Não perco o tom galanteador e respondo que ao lado dela qualquer coisa seria deliciosa.
Vamos à cozinha e vemos uma pequena, porém imponderável, pilha de louças a se lavar. Com minha objetividade masculina divido as tarefas tal qual um macho alfa e ela concorda pois fui razoável em minha divisão.
- Lavo a louça enquanto você prepara o jantar minha querida - digo docemente e descubro que a doçura é mais forte que o brado.
Gosto muito de lavar louça, enxuga-las então, nem se fala, porém nunca sozinho, preciso de uma companhia feminina para completar o ambiente, não sei viver em uma cozinha sem uma mulher comigo.
Enquanto lavo toda louça, ela com uma enorme preocupação com os detalhes, arruma tudo e põe a mesa e nos servimos. Não havia vinho, não bebemos álcool, eu por tratar da epilepsia, ela por tratar de uma gastrite.
Sentamo-nos e comemos educadamente cada garfada de nosso risoto de batatas e sardinha, comemos trocando vivos olhares e, vez por outra, pegamos um na mão do outro. Descubro então uma verdade absoluta, inquestionável, inelutável, um risoto requentado pode ser mais romântico do que um restaurante francês.
Terminamos a refeição, trocamos carinhosos e confidentes olhares, nos sentimos felizes e completos, foi o melhor jantar de toda a minha vida.
Dividimos novamente as tarefas, lavei a louça enquanto ela enxugava e guardava o pouco que sujamos deste jantar, novamente trocamos olhares e descubro que a vida só vale a pena quando o olhar dela se cruza com o meu e que todas as minhas dores podem ser amenizadas e esquecidas pelo simples olhar e pela sua simples presença.
O amor habita na simplicidade dos detalhes!
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