O filme de Gustavo Taretto trata de questões, que em nosso tempo, tem se tornado cada vez mais latentes, tais como a solidão, a alienação em relação ao próprio corpo, a criação constante de fakes de si mesmo e os efeitos da urbanização sobre a psicologia dos indivíduos, criando uma série de castas arquitetonicamente construídos em um contexto de não afirmação de sua identidade. A história começa com uma profunda reflexão sobre a cidade de Buenos Aires, uma cidade que possui, na diversidade de sua arquitetura, uma semiótica da identidade de lá vive e começam a se manifestar os universos particulares dos personagens, que apesar de viverem conectados ao mundo virtual, são como náufragos em meio a prédios de concreto armado.
As relações se constroem sob a égide dos problemas comumente encontrados por aqueles que não se sentem pertencentes à nenhum grupo ou identidade social e para se sentirem pertencentes à algo, inventam fatos sobre si e sobre suas vidas, fatos de enorme futilidade, mas acabam por preencher o vazio existencial que possuem.
Porém, isto não agrada, não constrói e não abre janelas para a alma de quem busca o amor. Até mesmo porque vivem em um tempo onde o amor não sabe onde deve se situar no mundo. Para uma boa compreensão das relações dentre amor e corpo em Medianera, sugiro a leitura do texto da filosofa Márcia Tiburi http://filosofiacinza.com/2012/10/31/amor-digital/ neste texto a autora trabalha com maestria as questões da relação do amor com o corpo.
O ponto mais interessante do filme, ao meu ver, está na construção psicológica dos personagens protagonistas e como são pessoas com sensibilidade aguçada, possuem um olhar completamente peculiar sobre o mundo que os cerca e quando abrem-se as Medianeras (não explicarei o que isto quer dizer para não estragar a experiência de quem não viu o filme) e os personagens passam a ter uma nova visão de suas casas, universos e, consequentemente, suas vidas.
A abertura de uma medianera em sua vida, pode iluminar, pode dar mais clareza sobre si e sobre a vida e, principalmente, podem ajudar a encontrar aquilo ao qual em toda a vida foi procurado
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