quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Paixões de sol e lua


de Gabriel Otávio

"Hoje me apaixonei de novo.
tinha um sol, ali em cima,
num céu azul
olhando aqui pra baixo e sorrindo.
ontem, já à noite, eu tinha me apaixonado
só que pela lua que tava saindo,
lá por detrás daquela montanha...
ta vendo ali?
pois é, mas foi uma paixão breve,
a noite acabou e ela me deixou só.
mas o sol parecia que não ia me deixar,
faz algumas horas ele se foi.
e a lua voltou, toda arrependida,
dizendo que não ia mais embora.
mas eu duvido que ela fique.
e não duvido nada do sol fazer o mesmo amanhã.
porém, depois de pensar muito sobre isso,
descobri uma coisa
temos que nos apaixonar, de qualquer jeito
mesmo que nossos sóis e luas se vão,
eles voltam, ou talvez não,
mas se apaixonar é tão bom
que vale a pena, mesmo que só por um instante."

O que eu faço?

Se a vida me afasta de você
enquanto eu quero te abraçar.
Se o dia acaba cedo demais
enquanto quero passá-lo com você
Se a noite passa como um minuto
enquanto estamos dormindo juntos
Se nem sempre consigo olhar nos seus olhos
porque os mesmos estão distantes de mim.

O que eu faço?

Desprezo o tempo?
Desprezo a distância?
Desprezo as convenções sociais?

SIM

Por você desprezo o relógio, o calendário e a agenda.

Por você desconsidero se é dia ou noite.

Por você jogo fora meus óculos e permito que você me veja,
me olhe,
me desnude com o seu olhar!

O que eu faço?

Faço tudo acima e muito mais, além disso eu te espero!

Medianeras - Uma janela pode iluminar a vida

    O filme de Gustavo Taretto trata de questões, que em nosso tempo, tem se tornado cada vez mais latentes, tais como a solidão, a alienação em relação ao próprio corpo, a criação constante de fakes de si mesmo e os efeitos da urbanização sobre a psicologia dos indivíduos, criando uma série de castas arquitetonicamente construídos em um contexto de não afirmação de sua identidade.   A história começa com uma profunda reflexão sobre a cidade de Buenos Aires, uma cidade que possui, na diversidade de sua arquitetura, uma semiótica da identidade de lá vive e começam a se manifestar os universos particulares dos personagens, que apesar de viverem conectados ao mundo virtual, são como náufragos em meio a prédios de concreto armado.
   As relações se constroem sob a égide dos problemas comumente encontrados por aqueles que não se sentem pertencentes à nenhum grupo ou identidade social e para se sentirem pertencentes à algo, inventam fatos sobre si e sobre suas vidas, fatos de enorme futilidade, mas acabam por preencher o vazio existencial que possuem.
    Porém, isto não agrada, não constrói e não abre janelas para a alma de quem busca o amor. Até mesmo porque vivem em um tempo onde o amor não sabe onde deve se situar no mundo. Para uma boa compreensão das relações dentre amor e corpo em Medianera, sugiro a leitura do texto da filosofa Márcia Tiburi http://filosofiacinza.com/2012/10/31/amor-digital/ neste texto a autora trabalha com maestria as questões da relação do amor com o corpo.
     O ponto mais interessante do filme, ao meu ver, está na construção psicológica dos personagens protagonistas e como são pessoas com sensibilidade aguçada, possuem um olhar completamente peculiar sobre o mundo que os cerca e quando abrem-se as Medianeras (não explicarei o que isto quer dizer para não estragar a experiência de quem não viu o filme) e os personagens passam a ter uma nova visão de suas casas, universos e, consequentemente, suas vidas.
    A abertura de uma medianera em sua vida, pode iluminar, pode dar mais clareza sobre si e sobre a vida e, principalmente, podem ajudar a encontrar aquilo ao qual em toda a vida foi procurado

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Sofia

de Sara Meynard 
http://palavraquefala.blogspot.com.br/


Os sapos coaxavam; e nela, como um delírio, uma vibração: uma sobrevivência.

Esta é a história de uma sobrevivente. Quanto aquilo começou a importar mais que a própria vida.
- Está é vendo o tempo né Sofia? - uma voz soou confortavelmente melódica
Poucos sabiam, é que era difícil de falar. Como um suspiro - mas ficaria obvio para qualquer um que passasse por ela que o que se precisava naquele terreno, há muito infértil e talvez até meio esquecido, era um grito- um ar.
Desde que nasceu empenhou-se em uma construção perfeitamente simétrica dentro de si: foi erguendo compartimentos, separando sentimentos, guardando alguns pensamentos em um estoque puramente intelectual. Cada vez mais segmentada, já não havia mais princípios para separar: apenas trabalhava duro para organizar-se. Também segurava todas as paredes o tempo todo, pois estamos sempre suscetíveis a abalos, - dizia ela a si mesma - e qualquer terremoto era fortemente abafado por algum novo tipo de lógica.
À primeira vista, chegavam a ser afáveis suas microcasinhas, com todas as suas coisinhas dispostas e trancadas. A esse universo, dava o nome de intimidade. Com o tempo, passou a se chamar universo interior. Tão universal que ali crescia, cada vez mais. Sozinha. Às vezes, sim, noutras não. Ficava por ali horas; uma vez passaram-se dias. Tirava férias ali mesmo. Não por ser mais confortável, mas por parecer, digamos, mais profundo. E nem sequer parava para pensar na volta; ia ficando, ficando, ficando...
Por vezes tentava acelerar as ideias e ganhar tempo. Inútil. Gastava energia e perdia ar. Mas no mundo dela, o tempo era um só. Apesar de fragmentar o tempo do real, tentando organizar também o mundo além de si, o tempo do seu universo era apenas um. E por isso, não passava. Estendia-se. A isso, Sofia também deu um nome: fluxo.
Nós, humanos, tão perfeitamente enquadrados em nomenclaturas pequenas e vazias não percebemos nossa incapacidade de definir aquilo que somos, não é? Assim, alguns dariam um nome ao que ela faz: egoísmo... Não fosse o desespero.
Mas, tanto eu, narrador e cá detentor de parte da história, como você leitor e ai detentor de outra parte desta aventura, não sabemos o que era isso que nossa personagem tentava fazer. Assim como também ela, detentora de tudo, e ao mesmo tempo de nada, nadava sem chegar à praia.
A situação, já envolta nesta “turbulenta” confusão, começava a piorar. É que Sofia começara a identificar sua própria confusão. Ao se ver sem saídas, tentava agarrar-se cada vez mais as paredes. As paredes de suas construções caiam cada diz mais; por vezes, aprendera a gostar disto. Entretanto, muitas vezes desesperou-se. Tinha medo. Passando pelos seus corredores, ao que tentava sair dali, não conseguia; não conseguiria. Era algo tão maior que ela que chegava a engoli-la. Quase era digerida.
Para isto inventou artifícios: dava voltas e conseguia se salvar. Mas Sofia perdia-se, perdia-se, perdia-se... ela mesma assumia. Não percebia que perder-se é tão incrível que quem de fato se perde, não sabe que se perdeu.
Por ora, andava sentindo muita dor. Dor desta coisa maior que todo mundo tem e que se não toma cuidado, faz estrago. Tinha necessidades: produzir, ser, estar... soltava estes infinitos infinitivos aos que aproximavam-se... ah Sofia, quando vai aprender que estas nomenclaturas são tão inúteis quanto suas paredes?
O mais engraçado é que não cumpria com nenhuma delas! Ser, estar... lacunas preenchidas apenas por palavras...E o tempo no mundo real já passava. Os tempos confundiam-se, ela já não sabia separá-los; era cedo ou tarde? Talvez fosse agora.
-é vô. Mas já estou indo pra dentro
Quando percebeu, o avô tinha passado, a hora da janta tinha acabado. Seu estômago roncava e todos na casa já dormiam.

Somos donos de nós mesmos? - Uma análise de Michael J. Sandel

Baseado no livro "Justiça - Qual a coisa certa a ser feita?", de Michael J. Sandel


É justo taxar os lucros dos mais ricos para benefício dos pobres? É justo impedir que alguém faça aquilo que julga moralmente correto em prol de uma moral coletiva? É justo impedir que alguém assuma os riscos de suas ações por causa de medidas paternalistas do Estado? É justo não ter o direito pleno sobre o próprio corpo? Essas e outras perguntas são trabalhadas por Michael J. Sandel no livro Justiça.
                 Há uma corrente muito forte, principalmente ligada ao pensamento econômico norte-americano, que é a libertária. Segundo os libertários o capitalismo é o sistema econômico que propicia maior liberdade ao ser humano, principalmente quando os Estado intervêm minimamente possível sobre a vida humana. Para estes pensadores, o Estado deve “funcionar”, apenas e tão somente, como garantidor da liberdade individual, da administração da justiça e como garantia da propriedade privada.
                Para esta corrente o Estado não deve intervir se o indivíduo deseja por sua vida em risco ou vender seus órgãos e tão pouco proibir a pessoa de dar cabo da própria vida, desde que não prejudique um terceiro.
                No entanto, a principal incidência e campo de influência destas ideias de pensamento são na área econômica. Visto que, os maiores pensadores desta linha, defendem o livre mercado, o fim de medidas de distribuição de renda, baixos impostos e nenhuma medida de cunho protecionista.
                Economicamente falando, estes princípios remontam às obras de Adam Smith em A Riqueza das Nações. Porém, suas implicações morais, éticas e ligadas ao direito, são mais recentes e defendem diversos pontos que trabalharemos abaixo.
1-      Estado mínimo
Para os libertários o Estado moderno está muito errado, pois toda atitude paternalista, de parte do Estado é imoral e deve ser combatida. Além do mais, toda forma de gestão da moral coletiva deveria ser abolida e, por fim, não deve haver distribuição de renda e riqueza.
Sendo assim, o Estado não deve intervir se desejo fumar crack, casar-me com cinco mulheres (desde que seja consensual) e não mereço um centavo sequer do governo, caso venha a precisar. Nenhuma das minhas ações deve ser proibida pelo Estado, desde que não haja prejuízo para terceiros.
2- Filosofia do livre mercado
As ideias libertárias se fortalecem enormemente no terreno da economia, onde o laisses faire é a principal bandeira. Pensam os libertários que uma sociedade somente é de fato livre, quando seus cidadãos possuem pleno gozo de suas faculdades econômicas e intelectuais, além de livre usufruto de seus ganhos.
Adam Smith, em uma conferência, disse certa vez que, “para erguer uma sociedade da miséria ao mais alto grau de opulência, são necessárias apenas paz, baixos impostos e boa administração da justiça, o restante é conduzido pela mão invisível do mercado”.
Essa “metafísica econômica” é ardentemente defendida por grandes personalidades de nosso tempo, como Allen Ginsberg (que deu razão a Adam Smith em suas memórias, dizendo que o capitalismo globalizado vingou o liberalismo econômico), Margaret Thatcher (que, durante seu mandato de Primeira Ministra Inglesa, fechou minas de carvão por não serem lucrativas, gerando desemprego ) e Robert Nozick, que em sua obra Anarquia, Estado e Utopia, se põe contra todo tipo de taxação sobre as riquezas.
3 - Comércio de órgãos, suicídio assistido e canibalismo consensual
Os liberais também possuem uma posição divergente das adotadas pela maioria dos  Estados no que tange à propriedade do corpo e propriedade da vida.
Os mesmos defendem o direito que um indivíduo que seja possuidor de um par de rins saudáveis possa vender um deles para um indivíduo que careça de bons rins. O argumento se fia na ideia de que como sou dono de meu corpo que eu possa com ele fazer o que bem entender.
                Este princípio pode ser estendido para a prática da prostituição por pessoas maiores de idade. Visto que, são responsáveis por seus atos por que não poderiam vender o uso de seus corpos para finalidades sexuais?
Exponenciando este aspecto, o suicídio passa a ser um direito do indivíduo, visto que se a prática não trouxer nenhum problema a um terceiro,  não há razão pela qual o Estado deva interferir sobre o momento em que decido lucidamente dar cabo de minha existência.
As consequências sociais deste princípio são enormes, visto que, tornaria a eutanásia uma prática aceitável, desde que haja um médico que se disponha para tanto, ou até mesmo um suicídio ministrado, o que traria menor dor ao suicida e assim resolver-se-ia sua vontade.
Por fim, pode-se entender outro ponto altamente polêmico colocado por Sandel que seria o canibalismo consensual. Neste caso, o indivíduo entrega seu corpo para ser comido, o que dentro da ideia libertária seria algo perfeitamente aceitável e não condenável pelo poder estatal, visto que ambos estabelecem anteriormente uma relação de permissão para o ato.
São casos limítrofes ou estranhos ao nosso costumeiro e raso entendimento sobre a liberdade, porém devem ser estudados e, caso necessário, objetados para que, com isto, possamos nos emancipar cada vez mais como indivíduos.
Somos donos de nós mesmos?
Dado o entendimento do texto, concluímos que não somos plenamente livres e que, certas liberdades, efetivamente, devem ser impedidas. Nem sempre o indivíduo possui clareza em seu juízo de valor ao se expor a determinado risco, tão pouco é capaz de prever todos os resultados de suas ações, principalmente quando o resultado pode ser a morte, visto que a mesma é impossível de se reverter.
Além mais, não se pode fiar às implicações econômicas de tal postura. Pois, para aqueles que estão à margem das oportunidades, não há possibilidades senão uma inglória e diária luta, sem louros ou possibilidades.
 Nem todos possuem o talento esportivo de Michael Jordan ou a genialidade de Bill Gates e muitos que o possuem, não são reconhecidos em tempo para receber o seu quinhão. No mais Estados mínimos servem apenas para beneficiar grandes empresas e seus capitalistas, criando um despotismo do capital, ao qual, as recentes crises econômicas têm mostrado ser insustentável.
O Estado moderno como conhecemos precisa sim ser desconstruído em suas estruturas, mas não pode em hipótese alguma ser refundado sob uma ditadura do capital.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Se apaixonar dá medo

Se meu coração começa a pulsar diferente,
se canções românticas não deixam minha mente,
se as mãos tremem de medo da falta dela,
se há um frio na barriga de expectativa pela chegada dela,
se a ansiedade pela chegada dela te consome por inteiro,
se nem os seus comediantes favoritos te fazem rir,
se nada consegue mudar o seu ânimo.

Definitivamente, você está apaixonado!

Estar apaixonado dá medo,
porque quando ela chega, o coração pulsa mais forte ainda,
porque quando ela chega, as mãos param de tremer e começam a suar,
porque quando ela chega, o frio na barriga se torna insuportável
porque quando ela chega, a ansiedade por seu beijo aumenta ainda mais
porque quando ela chega, qualquer piada fica engraçada
porque quando ela chega, finalmente consigo um sorriso verdadeiro

Estar apaixonado dá medo,
E se ela se for,
e se ela não me amar,
e se ela me deixar,
e se ela nunca se apaixonar por mim.

Estar apaixonado dá medo,
e se tudo não passar de uma ilusão?

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

RESISTÊNCIA AO ELOGIO

(Fabrício Carpinejar)

Generosidade não é oferecer presentes, mas saber recebê-los.

Quando alguém nos dá algo que a gente queria muito, sabe o que falamos?
— Não precisava.

Por que mentimos?

Deveríamos dizer:
— Precisava sim, estava esperando tanto.

Isso demonstra uma dificuldade geral para ganhar elogios. Uma incompetência para ser feliz direto, de primeira, sem coitadismo, sempre temos que fazer charme e beiço e fingir que somos desimportantes.

Não acreditamos no elogio. Pensamos que é interesse, oportunismo, falsidade, exagero.

Se uma estranha recebe meu elogio, já julga que é cantada.

Se a namorada recebe meu elogio, já julga que quero sexo.

Se o filho me elogia de repente, eu já julgo que é pedido de dinheiro.

Mania de menosprezar o amor simplesmente porque não nos sentimos merecedores do amor.

As mulheres são as rainhas da culpa. Quer ver?

Encontro uma amiga no elevador e comento despretensiosamente:

— Que camisa linda!

Em vez de agradecer, ela vai se desculpar:
— Comprei barato numa liquidação.

Repare, eu não perguntei nada. Mas ela continua se justificando:
— Foi na loja Antonia Guedes, ali no Moinhos de Vento.

Ela é capaz de me dar o endereço, informar o nome da vendedora, o preço, tudo para não se sentir linda.

Por isso, hoje aceite o elogio com sinceridade. E diga apenas: obrigado, obrigado, obrigado!

Amor, Meu Grande Amor

(Ângela Rô Rô)


Amor, meu grande amor
Não chegue na hora marcada
Assim como as canções
Como as paixões
E as palavras...

Me veja nos seus olhos
Na minha cara lavada
Me venha sem saber
Se sou fogo
Ou se sou água...

Amor, meu grande amor
Me chegue assim
Bem de repente
Sem nome ou sobrenome
Sem sentir
O que não sente...

Pois tudo o que ofereço
É, meu calor, meu endereço
A vida do teu filho
Desde o fim, até o começo...

Amor, meu grande amor
Só dure o tempo que mereça
E quando me quiser
Que seja de qualquer maneira...

Enquanto me tiver
Que eu seja
O último e o primeiro
E quando eu te encontrar
Meu grande amor
Me reconheça...

Pois tudo que ofereço
É, meu calor, meu endereço
A vida do teu filho
Desde o fim até o começo...

Amor, meu grande amor
Que eu seja
O último e o primeiro
E quando eu te encontrar
Meu grande amor
Por favor, me reconheça...

Pois tudo que ofereço
É, meu calor, meu endereço
A vida do teu filho
Desde o fim até o começo...

Esta música é sensacional! Nada mais humano do que sofrer de amor, nada mais gostoso (apesar de sofrível). Nada mais profundo e carnal!
Quem nunca sofreu por amor, ainda não viveu!
Quem nunca sofreu por amor, ainda não amou!
Quem vê sempre seu amor chegar na hora marcada,
ainda não sabe o peso da saudade.

Tudo que é possível oferecer
é meu calor, é meu endereço.
Tudo que é possível oferecer
é mais amor, é mais saudade.

O sofrimento de amor, sente tudo acabar na chegada de seu amor!
O olhar desse amor, o sorriso e tudo mais cessam o sofrimento!

Sofrer por amor é necessário, principalmente quando ela não chega na hora marcada!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Poesia Matemática



(Millôr Fernandes)

Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a, do Ápice à Base,
uma figura ímpar:
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo octogonal, seios esferóides.
Fez da sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar,
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
Freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Poema da minha querida Sara Meynard


de Sara Meynard

eu não gosto de cheios

órgãos completos

lacunas preenchidas

eu gosto de dúvidas

conflitos e aberturas

do buraco no escudo

de quando a armadura falha

e a arma não dispara

eu gosto de quando o tiro não acerta

e o alvo foge

gosto daquilo que se esconde

e finge não existir

é nas miudezas que me encontro

nas sarjetas de insuficiências

nos descartes

é o menor que me desproporciona

meu olhar é para baixo

pra raiz

que é na semente

que as grandes árvores frutificam.


                                                                                                                Te gosto

                                                                                                                pelos vazios e 

                                                                                                               solidões. 


http://palavraquefala.blogspot.com.br/
Leia com moderação, porque vicia! Ela tem muito talento!

Um poema de concreto

AREIA!
ÁGUA!
CIMENTO!
MISTURO!
MISTURO!
mIsTuRo!
mesturo!
masturo!
musturo!
mosturo!

Aplico em medidas proporcionais,
desproporcionando a proporcionalidade.

A parede está feita!

TIJOLOS!
REJUNTES!
OUTROS TIJOLOS!
OUTROS REJUNTES!

a parede fica torta
a parede é como minha vida

torta

     desnivelada
         
              desmensurada
                 
                   carente de alguém que saiba o que está fazendo!

EU NÃO SEI!

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Nem sempre temos bons dias

Nem todos os amanheceres são belos.
Nem todos os dias nascem iluminados.
Nem sempre existem bons motivos para se sair da cama.

A coragem de ontem se escondeu.
A alegria de ontem não senti.
Nenhuma piada me fez rir.
Mesmo assim o dever me chama!

Viver um dia após o outro,
ver a vida escorrer entre os dedos,
contemplar o fim das coisas,
vislumbrar o próprio fim,
sem saber se ela me ama!

Parece depressivo,
triste,
um poema a se envergonhar
versos que não prestam pra nada
formas estranhas de poetizar.
Mesmo assim tive que sair da cama!


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Um beijo no rosto

Ela vem até a mim,
olha em meus olhos com respeito e carinho.
Beija meu rosto, bem próximo da boca.
Olha em meus olhos novamente,
esse olhar me mata, me ressuscita, me destrói, me constrói.

Minhas mãos ainda estão trêmulas,
seu perfume ficou no ar.

Ela sorri e um beijo em meu rosto foi capaz de acalmar a minha alma!

O silêncio que aproxima

Ela está sentada,
lê e estuda seus livros com admirável afinco.
Não sei o que dizer,
não tenho o que dizer.
Só sei que quero ficar perto dela.

Invento algo a fazer,
faço esse algo de forma cuidadosa
e, principalmente, pouco ruidosa
não quero tirar-lhe a concentração.

Termino,
não há nada a fazer próximo dela.
Seus estudos prosseguem com dedicação e afinco.
O silêncio no ambiente não incômoda,
não constrange,
não mostra o quanto o meu coração a aguarda.

Descubro que só se gosta de alguém
se o silêncio não for um incômodo,
se apenas a aura de sua presença bastasse,
se minha felicidade não dependesse nem de um sim
e nem de um não.

Ela só depende de tê-la por perto!

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Cristovam critica ‘misturada’ partidária que faz legendas perderem identidade


O Senador Cristovam Buarque (PDT-DF) afirmou, em discurso nesta segunda-feira (8), que a mistura partidária montada para as eleições mostra que as legendas perderam suas cores, sua ideologia, suas propostas e sua identidade.
- Nós transformamos os partidos em siglas eleitorais, não propositivas. E isso é uma tragédia política para um país: a falta de clareza e de propostas antagônicas em nível nacional – disse.
Cristovam questionou a “misturada” de partidos nas alianças, que vem se repetindo e aumentando desde 2002. Ele lamentou que ainda não tenha ocorrido uma reforma partidária que permita trazer de volta o debate ideológico. Para ele, a democracia brasileira, em vigor há mais de 20 anos, está incompleta.
- Ela é incompleta por falta de partidos com nitidez, pela possibilidade de compra de votos, pelas contribuições privadas, que amarram os eleitos aos contribuintes de suas campanhas, pela corrupção. É uma democracia que precisa dar um salto. E nenhum dos presidentes – Fernando Henrique, Lula e Dilma – teve a ousadia de trazer para cá uma proposta de reforma política que complemente a democracia, que, em 20 anos, está ficando velha – avaliou.
Mais uma vez, Cristovam elogiou os programas de transferência de renda que estão há alguns anos auxiliando as camadas mais pobres da população a ter dignidade, mas propôs que haja um salto da transferência de renda para a emancipação do povo.
- É preciso fazer com que, no país, ninguém precise receber ajuda, mas ninguém discute como se fazer essa emancipação - disse.
O senador lamentou que no país se discuta quem consegue aumentar o número de bolsas-famílias e não quem é capaz de torná-la desnecessária para a população.
- Essa inflexão é um debate ideológico, o debate da generosidade versus o debate da emancipação, e não se viu isso nessa campanha – lamentou ainda Cristovam.
Além da discussão sobre como encontrar a melhor saída para não ser mais necessário pagar bolsas, observou o senador, ainda é preciso que os partidos debatam a responsabilidade fiscal, que infelizmente começa a ser relaxada e foi uma conquista tão importante quanto a democracia no Brasil; que tenham propostas sobre a melhoria do controle dos gastos públicos; e principalmente, que discutam o modelo econômico do Brasil que é o modelo da exportação de bens primários, que já dura 500 anos, e a indústria metal-mecânica, sobretudo a indústria automobilística, que já dura 50 anos
- É preciso substituir tudo isso por um modelo que carregue a distribuição de renda dentro do produto e não passando pelo Tesouro. A indústria de automóveis privados é uma indústria concentradora, a indústria de ônibus é uma indústria distributiva; é isso que nós temos que fazer: uma indústria distributiva que respeite o meio ambiente e uma política econômica baseada na alta tecnologia que é o que vai fazer a economia do futuro – declarou.

Fonte: http://cristovam.org.br/portal3/index.php?option=com_content&view=article&id=5104%3Acristovam-critica-misturada-partidaria-que-faz-legendas-perderem-identidade&catid=170%3Asuper-manchete&Itemid=100003

Ensaio sobre a cegueira - Um livro para a pós-modernidade

   Terminei hoje a leitura de um livro de tirar o fôlego, Ensaio sobre a cegueira do genial José Saramago. 
   Não há momento de sossego, a escrita é cortante e o estilo do velho José, me fizeram enxergar a realidade humana de uma maneira nova, porém pessimista. 
   Saramago neste ensaio mostra que o ser humano em situações limítrofes pode se transformar em um verdadeiro animal, insensível e admiravelmente terrível.
   O genial autor português trabalha todo tipo de sentimentos inerentes aos seres humanos e, principalmente, a responsabilidade de se ter olhos em um mundo de cegos.
 "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara. (livro dos conselhos)"

"É desta massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade."

"O medo cega... são palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegámos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos."
                   " Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem."

       Definitivamente, este livro nunca foi tão atual!
 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

“A Alemanha não tem o direito de eximir-se dos seus deveres”

ARTIGO | 8 OUTUBRO, 2012 - 15:58

O herói da resistência grega à ocupação nazi divulga uma declaração por ocasião da visita à Grécia da chanceler Angela Merkel em que recorda a suspensão de pagamentos da dívida alemã em 1953 e alerta para o crescimento da extrema-direita no seu país.


Declaração de Manolis Glezos a propósito da visita à Grécia da chanceler alemã Angela Merkel por ocasião da visita da chanceler Angela Merkel à Grécia consideramos que é o nosso dever recordar, tanto a ela quanto ao primeiro-ministro grego que:

1. A grande e poderosa Alemanha não tem o direito de eximir-se dos seus deveres, privando a Grécia do que lhe é devido na base do Direito Internacional, ao mesmo tempo que também não se permite que a Grécia abdique dos seus direitos.

2. As violações do Direito Internacional e dos princípios humanos da honra e da moral trazem o perigo de ver repetirem-se os fenómenos que submeteram a Europa a sangue e fogo. O reconhecimento dos crimes nazis constitui uma garantia elementar de que tais monstruosidade não se voltem a repetir.

O nosso povo não esqueceu e não deve esquecer. Hoje, não pede vingança, mas sim justiça. Desejamos que os alemães também não tenham esquecido. Porque os povos que não recordam a sua memória histórica estão condenados a repetir os mesmos erros. E parece que Angela Merkel conduz o seu país, e inclusive a parte mais sensível do povo, a juventude, por esse caminho escorregadio, já que ao dirigir-se aos jovens do seu partido não duvidou em dizer que “a ajuda à Grécia deve estar ligada aos deveres da Grécia”. E sobre os deveres da Alemanha?
Esperávamos que a chanceler tivesse dado mostras de uma atitude análoga à dos aliados em relação à Alemanha quando, em 1953, a suspensão dos pagamentos da dívida e a ajuda económica que lhe ofereceram contribuíram para o desenvolvimento e a reconstrução da Alemanha. A Grécia de então não esteve ausente daquele esforço.
Não temos a intenção de convidar a chanceler para um jantar. Mas convidamo-la a visitar o Campo de Tiro de Kaisariani para que veja ainda hoje, 67 anos depois do fim da guerra, que a relva continua a não crescer no lugar onde tanto sangue foi derramado. A terra não se esquece. E os homens também não têm o direito de esquecer.
É o momento de unir a nossa voz à do presidente do partido da Esquerda alemã (Die Linke), B. Rixinger, que a propósito da chegada a Angela Merkel à Grécia, lhe pede que ouça aqueles que resistem aos cortes brutais que ameaçam aprofundar a polarização do país e adverte-a de que a Grécia está em risco de catástrofe humanitária.
Já estamos a pagar esta polarização no meu país com o surgimento da Aurora Dourada. Vamos ficar de braços cruzados, à espera de ver também as consequências da catástrofe humanitária? Nessa altura será demasiado tarde não só para a Grécia, como também para a Europa inteira.

Manolis Glezos, 90 anos, é o símbolo vivo da resistência contra a ocupação nazi. A 30 de maio de 1941, foi um dos dois jovens que retiraram a enorme bandeira nazi que tremulava na Acrópole. Condenado à morte em repetidas ocasiões durante e depois da guerra civil, M. Glezos passou no total mais de onze anos na cadeia. Hoje é deputado pelo Syriza (Coligação de Esquerda Radical).

Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net

1 No dia 1 de maio de 1944, no Campo de Tiro de Kaisariani, um subúrbio de Atenas, 200 ativistas políticos gregos foram executados pelos ocupantes nazis como vingança pela morte do general alemão Franz Krech, que caíra numa emboscada da resistência dias antes.

Fonte: http://www.esquerda.net/artigo/%E2%80%9C-alemanha-n%C3%A3o-tem-o-direito-de-eximir-se-dos-seus-deveres%E2%80%9D/24952

As pessoas mudam

Ela chegava e sua presença enchia o ambiente,
seus olhos me enfeitiçavam, sua boca era cintilante,
seus cabelos eram os de uma deusa,
suas falas eram como as de uma musa.

Passa o tempo, mas nem tanto,
passam dias, mas nem tantos,
passam horas, mas nem tantas.
Enfim o alvorecer não pode ser o culpado.

Seu rosto está igual, mas seu semblante está diferente
Seus olhos são os mesmos, porém o olhar está diferente,
Sua boca é a mesma, mas o mover de seus lábios não me seduz mais.
Ela não é mais uma musa, deusa ou algo que o valha.

Algo no ar mudou,
mudei?
ela mudou?
mudamos todos?
não sei! 
Só sei que não aprendi ainda como é a vida.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Para moça charmosa

De Pablo Sathler


Pois então, isso nunca havia acontecido
Não mesmo! É SÉRIO !
As outras vezes, que eu achava que era
Não eram. NÃO MESMO!

As vezes que eu achava que era
Eram ideais demais
Longe demais
Distantes demais

Desta vez, estava perto.
Tão perto que sentiu minha pulsação
Não é ?
Mas desta vez, era sério.

Tão sério que chorei
Chorei mesmo
Não é ?
Pois então

Porém, ela não estava no mesmo BPM
Não mesmo!
Ela era uma quiáltera de sete
E eu um quatro por quatro

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Só o corpo a corpo fala

Xico Sá


O melhor e mais revelador episódio de uma campanha é quando a base tenta humanizar o candidato ou colocá-lo à prova dos normais. Neste perigo da hora, o marqueteiro perde o controle. O improviso, raro momento em que o eleitor está no comando, prevalece sobre todas as armações.
O bêbado de campanha, por exemplo, é um clássico. Ele surge do nada, dá uma gravata apartidária em qualquer autoridade, descola o da pinga com os assessores e, geralmente, grita, em brado retumbante, o nome de um concorrente na disputa.
Memória eleitoral rápida: o ex-governador Covas foi o político que testemunhei com o radar mais aguçado para driblar, de longe, um pé de cana. Era o seu único temor no corpo a corpo. O sangue espanhol fervia nessa hora.
A beijoqueira ou a periguete eleitoral também é um grande teste. Repare no que aconteceu com Serra em uma caminhada pelo centro de SP. Apenas uma tarada, diria o cronista Nelson Rodrigues, é capaz de humanizar uma eleição. Ela cumpriu lindamente a sua vontade. Eros agradece, perdeu Tânatos, mais uma vez.
Em uma eleição, só o corpo a corpo fala. Uma coisa é o Chalita vender milhões de livros de autoajuda com uma pegada filosófica de Grécia Antiga. Outra coisa é enfrentar uma eleitora cheia de amor platônico tentando convencê-lo a uma transa homérica, como sugerido no poema do Eduardo Kac.
No corpo a corpo, por mais regulado, só a base manda. O moleque pega a bola, põe na marca do pênalti e ordena: Serra, bate o pênalti. Faz uma embaixadinha para ver se você manja, diz o outro para o Russomanno. Só dou o meu voto, Haddad, se você seguir o Lula no meu Corinthians. Você tem que dar um jeito no Palmeiras, Soninha, não podemos cair para a Segundona.
O tucano chutou, mas só o sapato foi parar no fundo das redes. O cara do PRB quase quebra as câmeras dos fotógrafos, ontem, na Vila da Paz, zona sul, ao tentar mostrar que sabe. O petista continuará são-paulino depois do pleito --homem que é homem muda de sexo, mas não de time. A candidata do PPS, militante da crônica esportiva, tem dado sorte como torcedora.
É, amigo, na rua quem dá bola é o eleitor. Raro momento em que a base manda na mentira do marketing.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Imitando o velho Buk


De Pablo Sathler

Joe, Martin e Maggie me chamaram para uma cerveja. O dia estava chuvoso e eu meio desanimado para sair de casa. Porém precisa molhar a “palavra”. Fazia muitos dias que estava trabalhando naquela coisa de entregas. Combinamos de ir ao Moll’s, como sempre. Onde os perdedores se encontravam para afogar suas mágoas. Porém era o melhor bar da cidade. Havia cerveja barata, e Moll, dono do bar, fazia uma porção de fritas que era de arrasar. Peguei meu velho Austin 67 e encontrei todos às 23hs. Horário onde as putas e os trabalhadores da indústria resolviam dar uma volta. Chegando no bar, dei sinal para Moll, que iríamos sentar na calçada, pois ainda assim estava muito calor, mesmo depois da chuva. Moll achou um pouco estanho, pois sempre sentávamos no balcão, bem próximo as garrafas de uísque. Peguei as mesinhas singelas do bar, e juntei três, pois ainda estava por vir John, Susie e Charles. Eram apenas dois casais e os solteirões de sempre, Eu, Joe e Charles. Que trio nós éramos! Sempre dizendo que essa coisa de namorar ou ter uma única mulher era para os perdedores, que não confiavam no que tinham entre as pernas. Após discutirmos que existem pessoas no mundo que não sabem aproveitar a vida, que se preocupam demais com a saúde, com o corpo, e que no fim das contas todos jogam terra no nosso buraco, decidi ir embora, pois havia bebido demais e não queria estragar meu único bem, meu Austin 67 que herdará de meu velho pai. Paguei minha parte da conta, seis dólares. Foi nesse momento que refleti: Como esse bar é ótimo! Despedi de todos, peguei minhas chaves e entrei no meu velho carro. De repente vejo alguém acenando, não tinha notado que era pra mim. Olhei bem, e vi que era uma mulher. Ela gritou:
_ Hey baby!
_ Olá – meio que sem jeito.
_ Te conheço, certo? – Ela dizia.
Olhei bem para aquele corpo, e disse: _ Não mesmo!
_ Você está indo pra lá?  - Apontando a direção oposta de onde eu ir.
_ Não, não, mas posso te levar lá. – Não podia perder aquela oportunidade.
Fui levando a mulher, para longe da cidade, perguntei seu nome, era Judy. Mais do que depressa, elogiei seu nome. Ela me apontou onde devia estacionar o carro e me disse:
_ Que tal pararmos ali e...
_ Claro que sim!
Porém me lembrei que não trazia nenhum plástico comigo. E lhe contei a situação. Percebi que não havia nenhum problema pra ela. Foi quando ela me disse:
_ Eu te chupo então!
_ Claro!
_ Tem dez dólares ai? – Me questionou.
_ Não, infelizmente não, Deixei todo o meu dinheiro no bar. Gastei tudo.
_ Me espera ali que vou buscar uma coisa, e não quero te envolver nisso.
_ Não espera! Vou lá com você.
_ Não! Fiquei ai, não quero te envolver com isso.
Fiquei esperando por uns três minutos, que pareciam horas. Liguei o rádio para me distrair. Eram os Stones que estavam a tocar. Contando os minutos, vejo uma viatura passar lentamente na rua a minha frente. Foi ai que fiquei com o cu na mão. Notei que o efeito do álcool já estava passando. E percebi na roubada que estava entrando. Mas queria uma chupada, queria mesmo! Só não queria lhe dar dez dólares. Dei uma volta de carro, e parei no mesmo lugar, esperando por Judy. O beco que ela havia entrado era bem escuro, mas notei alguém saindo do beco, era ela. Arranquei o carro, e parei do lado dela, que estava meio triste.
_ O que foi? – Perguntei.
_ Sem grana não da!
_ Putz, que merda heim.
_ Pois é fazer o que.
Ainda não desistindo da proposta anterior de Judy, perguntei:
_ Onde você mora?
_ Por quê?  - Ela me retrucou.
_ Te levo em casa.
_ Não, não.
_ Uai, porque?
_ To meio nervosa ainda, vou voltar pro Moll’s e tomar mais algumas.
_ Mas é o nosso combinado?
_ Você ta com pressa? – Insistia em me responder com outra pergunta.
_ Infelizmente estou.
_ Então está bem, para o carro ali pra eu poder descer.
_ Mas...
_ Olha, eu fui sincera com você.
_ Tá bem então.
Cheguei em casa perto da meia-noite. Coloquei meu velho calção de dormir. E me lembrei que havia dado dois beijos em Judy. Corri para meu armarinho e peguei um vidro de álcool que guardava, para diminuir um pouco a ação dos pernilongos. Fui ao banheiro, coloquei cuidadosamente o álcool em sua tampinha de plástico, e molhei meus lábios com aquilo. A sensação era bem desagradável, mas era necessário fazer aquilo. Após untar bem os lábios, coloquei outra dose de álcool e fiz como no bar, virei de uma vez só. O gosto do álcool puro era horrível! Dei umas bochechadas com a pequena dose e cuspi no lavabo. Lembrei da cachaça que tinha tomado no Julio’s, outro bar da cidade. Escovei dos dentes umas três vezes. Usei o resto daquela coisa para evitar caries e mais complicações dentárias para terminar de esterilizar minha boca. Fiz o balanço mental da noite. Era bem bom, em relação às outras já vividas. Tomei uma boa dose de uísque e me deitei.

Por conta da casa


De Pablo Sathler

Chego em casa às três da manha. Bêbado. Olhos para meus pés e vejo uma enorme titica. Penso. WHAT HELL!!!. Aos poucos começo a me lembrar da noitada. Junto aos flashs de memória, o gostinho de Gim me vem a boca. Estava eu no Julio's. Entrei no bar, havia uns 5 bêbados tentando alguma coisa com as prostitutas. Quando passei pela por ouvi. “Se você me pegar, vai gozar a noite inteira!”. Assustei-me com os dizeres e olhei de canto de olho para a puta. Ela estava em um vestido amarelo vomito que me lembrava as minhas várias noites no Julio's. Graças a Deus não consegui ver o rosto dela, porque geralmente essas mulheres são verdadeiras agressões visuais, principalmente se tentam enganar o cafetão. Avistei meu banquinho, o de sempre. Próximo o barman, claro. Pedia a Beck um Jim e uma água. Rapidamente minha bebida chegou. Deus abençoe Beck. Quando estava enxugando meu copo, percebi uma das putas se aproximarem. Ela usava aqueles saltos gigantescos que demonstrava alguma classe. Gostava disso. Ela se sentou ao meu lado. Nem dei atenção. Porém percebi que ela me olhava fixamente. De repente ouço. “Ei garotão, o que vai ser?”. Tive a infelicidade de olhá-la. Ela tinha os dentes separados, a boca torta, os dedos magros e compridos, sem falar no hálito que me lembrava meu antigo emprego, limpador de fossa. Por um segundo todas as minhas fodas que não eram muitas passaram pela minha cabeça. Pensei “porque não? Vai que ela me ensina algo novo?”. Olhei para o ombro da puta, esse era o único modo de não vomitar na cara dela. Disse a ela:
_ Quanto tá?
_ 25
_ O QUÊ?'
_Isso mesmo que você ouviu.
Conferi mentalmente quanto de grana me restava. Tinha 20 pratas. Gostava de fazer essa conta de cabeça, ajudava na memória e era uma forma dos bandidos não saberem o quanto tinha em meus bolsos. Disse a ela:
_Tenho 20 pratas.
_Pra você eu faço por 20.
_Mais ainda tenho que pagar a minha bebida.
Terminando de dizer o “A” de bebida, Beck me olhou rápido, e com um sorriso sarcástico veio até a mim.
_Que isso cara, essa é por conta da casa.
_Mas como assim? - eu disse
_É cara, essa ai vai de brinde.
_Corta essa Beck.
_Essa bebida vem acompanhada de uma noite incrível com JANETE.
_Quem?
_ Janete, essa “gracinha” do seu lado.
Ela me olhou de uma forma violente, parecia um leão que não comia a 3 semanas. Sedenta de prazer, me agarrou pela gola e dizendo no pé do meu ouvido:
_É meu bem, você me leva de brinde.
Pensei, “porquê não?”
Nesse momento todos do bar me olhavam, pensavam que eu era um perdedor comendo Janete.
Joguei minhas 20 pratas pra Beck, ele me votou 15 centavos, só para gozar com minha cara.
Chegando no quarto do motel abri um vinho. Servi dois copos e disse:
_ Vamos terminar logo com isso.
_Credo! Não seja tão incessível.
Pensei, “Fica na sua ai, você é puta, não tem que falar de sentimento”
_Tá bem minha querida.  - eu disse.
_Assim está bem melhor – ela disse toda se achando.
Deitei na cama, tirei minha roupa, ela montou em mim e fez o serviço. Gozei. Sabia rebolar, isso ela sabia. Acabei com o resto da garrafa de vinho, e fomos embora. Deixei-a na porta do Julio's. Fui
para meu quarto e dormi como um bebê.

Canarinhos de Itabirito, a 39 anos dando orgulho

       Ontem tive o prazer de assistir o espetáculo "Identidade" do Coral Canarinhos de Itabirito.
       Que a muito tempo este é um dos melhores corais de jovens cantores do Brasil, isto é um fato indiscutível, mas este coral sob a regência do maestro Éric Lana e equipe tem impressionado, a cada espetáculo, pela versatilidade de seus cantores e pela renovação incessante.
        O espetáculo Identidade resgata grandes clássicos da música brasileira, bem como canções folclóricas, tradições indígenas e uma louca variação para canções eruditas, jazz e a emocionante versão da música "A paz", do grande Michael Jackson.
        Gostaria, nessas mal traçadas linhas, elogiar efusivamente a todos que trabalharam neste espetáculo, parabéns à direção de arte e a iluminação, que estavam impecáveis e, principalmente a estes talentos maravilhosos que fazem deste coral um orgulho para a cidade de Itabirito.