Arthur estava no hospital, seu estado de saúde era ruim, respirava com ajuda de aparelhos e haviam um sem número de remédios sendo injetados em seu corpo.
Laura, sua esposa estava ao lado, havia chorado a noite toda e aproveitava os momentos de sono de Arthur para chorar mais um pouco. Quando Arthur acordava ela estava sempre recomposta e maquiada, apesar de triste. Que mulher era é essa Laura, que cara de sorte esse Arthur.
Sento-me ao lado de meu amigo e falo sobre futebol e outras coisas fúteis para trazer um clima menos mórbido para o ambiente. Laura, apesar de sua força, continuava tensa. Arthur ria sem graça. Eu admirava Laura. Apesar de tudo sentia tesão!
Depois de muito conversar, com Arthur ele dorme de repente. Laura confere se está tudo bem, se aproxima de mim, me abraça e chora.
- Você é um bom amigo! - diz ela em lágrimas tocantes.
- Você é uma mulher de verdade! - respondo com firmeza.
- Não aguento mais essa tensão! Minha vida virou um inferno depois da doença dele! É tão triste vê-lo assim e saber que ele vai morrer em breve!
- Está tão mal assim? - pergunto com espanto
- Ele tem algumas semanas de vida se tiver sorte... Não aguento mais essa pressão!
Sinto Laura em meus braços, aperto seu corpo de forma mais firme, pareço seu marido. Olho para ela e trocamos olhares. Sua força se esvai, ela desfalece em meus braços, sente o abrigo que ela tanto precisava nesses dias de trevas e solidão.
Pego sua mão, sento na poltrona ao lado da cama e Laura se senta em meu colo. As lágrimas dela molhavam o meu peito e seu choro ficou copioso e seus gemidos ficaram excessivamente constantes. Laura começa a gritar fortemente de dor.
Em meio aos gritos dela, lhe abraço com mais força. Depois pego seu rosto e faço carinho, ela me olha com um olhar profundamente carente. Dou-lhe um beijo!
Nos beijamos apaixonadamente ao lado de um homem moribundo. Beijo os lábios de uma quase viúva, cometemos um quase adultério.
Arthur acorda em meio a nosso beijo. Todo o otimismo quanto a vida se vai, descubro que a morte pode ser uma boa escolha!
A morte bateu à porta de Arthur e contemplamos seu fim! Seus batimentos cardíacos param, seus olhos ficam vidrados, Laura se sente livre. Ela me beija mais uma vez, desta vez seu beijo tem gosto de cinzas, foi um beijo de velório, um beijo de morte.
Ficamos calados, um silêncio de morte, foram muitos minutos de silêncio, saio do hospital e nunca mais vejo Laura. Sequer voltei para o enterro.
Laura fica ao lado de Arthur, não derrama uma lágrima sequer. Diligentemente cuida do enterro de seu marido, chora ao lado dele durante o velório e nunca mais voltou a amar alguém.
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