sábado, 8 de março de 2014

O idiota da subjetividade

     Vive-se um tempo de "idiotas da subjetividade", sim, pego emprestado um termo rodriguiano e subverto para ir contra um pensamento do qual estou cansado de ver estampado por pessoas sem muito reflexão sobre a história da humanidade e que certamente me chamarão de doutrinado, mas e daí?
     O idiota da subjetividade pensa que tudo parte de sua livre iniciativa e de sua plena capacidade de fazer escolhas acerca de todos os aspectos que circundam sua existência.
     Ledo engano, somos dominados por ideologias que são anteriores à nossa existência e se temos alguma liberdade de escolha essa liberdade foi dada pela cultura da qual somos filhos, logo escrever um texto em um blog enquanto navego na internet e assisto uma aula sobre História Antiga Oriental me é uma opção porque nasci em um tempo onde já existe a escrita, existe internet, existe ensino a distância reconhecido pelo Ministério da Educação e eu tive acesso a conhecimentos elementares de linguagem, lógica, história e filosofia.
      Se fosse diferente, talvez minhas escolhas estariam atadas à minha religião ou ao ritual de minha tribo ou então nunca teria tido esta ideia, pois nunca teria ouvido falar dos "idiotas da objetividade", de que Nelson Rodrigues tanto falava, e não saberia fazer a associação de meu tempo com o tempo do mestre referido.
       Ou seja, a ideologia liberal que tem se propagado internet afora, salvo raríssimas exceções como o pensamento de Luis Felipe Pondé e João Pereira Coutinho, é mais raso que uma piscina de mil litros de plástico instalada na laje de alguém que gosta de comer churrasco ouvindo Naldo. Pois, arvora-se no direito de igualar todos os seres humanos em um universo de igualdade plena de condições, onde aqueles que não conseguem atingir o padrão material, intelectual e espiritual que os mesmos julgam superior assim o fazem por inépcia, preguiça ou burrice mesmo.
        Mal sabem os idiotas da subjetividade que há um mundo objetivo, lotado de dados históricos de estruturas culturais que sobrepujam os anseios de muitos e que limitam nosso universo de escolhas como se estivéssemos no segundo turno de uma eleição presidencial ou na classe econômica de um vôo da Gol.
       Nem sempre fazemos o que queremos e nem sempre sabemos porque queremos o que queremos e nem porque pensamos do jeito que pensamos. Nossa vida está em sua maior parte definida e dada a nós já com suas poucas opções embutidas. Cabe a nós olharmos para a vida com um pouco mais de amor e entender porque somos assim e nos libertar das estruturas que moldam nossas escolhas, se ignorarmos isso seremos eternos idiotas da subjetividade, que pensam que todas as escolhas partem do indivíduo e que nossas subjetividade não recebe influência de uma realidade objetiva por muitas vezes opressora. Livre é o homem que sabe que está preso e aprende a desfrutar de sua prisão.

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