quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A melancolia como ente identificador de autenticidade

     Recentemente ouvi uma frase da filosofa Márcia Tibury, na qual ela dizia que, "pessoas inteligentes são melancólicas por pensarem demais", ou seja, todo indivíduo que se presta ao honesto exercício intelectual estará fadado a viver em fuga de seus próprios demônios pessoais, logo, não seguirá os parâmetros de felicidade que a sociedade impõe a seus pares.
      As pessoas que são vistas de cabeça baixa ou sem um sorriso formatado no rosto são logo vistas como pessoas depressivas, tristes e desagradáveis. Porém, há uma diferença abissal dentre depressão e melancolia. A depressão é uma patologia, há uma ampla literatura científica sobre o assunto e uma enorme diversidade de tratamentos para a mesma. Enquanto a melancolia é um estado de espírito que denota uma grande dificuldade do ser humano em lidar com questões internas ligadas à sua existência.
      Muitos argumentarão que "é melhor ser alegre que ser triste", porém qual é o preço desta alegria de plástico? Quanto custará, em termos existenciais e monetários, esse alívio para a compreensão de que a vida  não possui sentido algum e que decidir viver é apenas uma questão de escolha, visto que somos livres para dela nos dispor?
      O enfrentamento dos demônios que rondam o universo daqueles que resolvem, livremente, adentrar-se às suas entranhas existenciais é uma luta diária e aceitar que assim as coisas haverão de ser é o primeiro passo para identificar toda a autenticidade deste conflito existencial.
      Uma existência somente será autêntica quando o ser entra em conflito com todo o arcabouço que circula sua existência, sendo assim, é inevitável, que ao pensar nas questões que envolvem a vida, o indivíduo entre em estado de profundo pessimismo e, com isto, toda a tristeza que pode desembocar em um estado de melancolia.
       A melancolia é como uma infecção de garganta, vem aos poucos e ao se mostrar, deixa todo o corpo em estado de convalescência, logo, ela manifesta-se, dá seus sinais e diz ao indivíduo coisas muito importantes.
       Na Bíblia há uma passagem, especificamente no livro de Eclesiastes capítulo 7 versículo 2, no qual o autor nos diz, "Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração." esta frase indica algo interessante para a melhor compreensão da melancolia enquanto ente identificador de autenticidade para com a existência, visto que, a meditação sobre as questões do fim da vida e sua ausência de sentido são fundamentais para uma vida não alienada e mais lúcida, em mundo de felicidade fast-food.
     Sendo assim, estar melancólico não é um mau sinal, indica apenas que o ser em questão pensa a vida, pensa na vida e pensa sobre o que é a vida. Sem dúvida, pensar esse temas no mundo de hoje é uma grande provocação e uma atitude de mudança perante o mundo, além da geração de um novo ethos que não se abaixará perante as ditaduras publicitárias e as modas que nos sobrevêm.

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