Ontem, depois de publicar uma rápida crônica sobre minhas impressões acerca da obra "O velho e O mar", resolvi me entregar a um de meus vícios. Ao contrário do mestre da literatura supra citado, não bebo álcool, sou viciado em chá inglês, uma espécie de raio de sofisticação para o meu grosseiro paladar.
Degustava meu chá na solidão do meu quarto ouvindo músicas tristes, porém belas (estas são as melhores), quando ouço alguém bater-me a porta. Para meu espanto era Tio Nelson, o maior de todos os mestres da crônica. Estou certo que muitos discordam de minha opinião, mas Nelson Rodrigues é, ao lado de Machado de Assis, o maior escritor nascido dentre nós.
Tio Nelson é para mim um inspiração atroz! Sua metafísica e seu realismo cru me fazem, todos os dias, um "ex-covarde". Chamo de tio, porque tenho por sua figura um amor parental, quase rodriguiano, se é que você me entende.
- Trouxe-lhe uma surpresa meu caro! - Diz Tio Nelson com seu estilo peculiar, carregado de um formalismo quase britânico. - Aqui está o tal Hermingway!
Para meu espanto, havia um sujeito bêbado, desses bem bêbados mesmo, encostado num poste da minha rua e era o distinto autor. Fui correndo ao seu encontro e lhe disse:
- Mestre!
- Não sou mestre de ninguém - Responde asperamente.
- Ora Ernesto - Disse Nelson com ar de chanchada - O rapaz está estupefato por te ver, você precisava ver como ele ficou quando me viu...
- Não me interessa - Deu mais uma golada em uma garrafa de whisky que é servida apenas no céu dos escritores. Conheço a marca, é bem forte.
- De toda forma, foi muito importante para mim, ler sua obra! - tentei retomar a conversa.
Hermingway me olhou e me desafiou para uma luta.
Aceitei de pronto, apesar de não ser uma habilidade da qual possua em abundância.
Mal tirei meu paletó recebi um direto no queixo e vou ao chão.
Nelson, desce e me olha de forma irônica, como alguém que está próximo de uma pródiga gargalhada.
- Levanta meu querido! Sua valentia foi admirável! Você tem o élan que eu imaginava, será o meu personagem da semana. , Diz Nelson, sendo mais amigo que o comum.
- Mas tomei uma surra e nem consegui reagir...
- Meu caro, você não entendeu que é isto que a literatura de nosso amigo Ernesto faz com as pessoas? - Nelson parou por um instante, parecia que ia declamar Shakespeare - Meu caro, envelheça, com toda urgência, envelheça! - Diz Nelson balançando os braços como se a rua de minha casa fosse um palco para o teatro.
Hermingway não disse mais nada e Nelson se foi junto com ele. Mais um encontro desses e vou precisar de reconstrução facial.
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